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terça-feira, 9 de outubro de 2012

Alunos entrevistam ex-combatente


Credito:  Divulgação Credito: Divulgação
A entrevista com Alfredo Klas aconteceu na biblioteca do Colégio Eurico, momento que ficou na memória dos jovens que o entrevistaram
Nascido em 30 de setembro de 1915, ele enfrentou a guerra, problemas civis e militares. Tornou-se advogado, professor e escritor. Foi músico e político. O ex-combatente da Força Expedicionária Brasileira (FEB), Alfredo Bertoldo Klas, acumula 22 condecorações recebidas, 97 anos de idade, uma esposa, três filhos, nove netos, treze bisnetos e quatro trinetos. Ele compartilha, nesta entrevista, experiências de sua trajetória e dá para a juventude com a sabedoria de quem faz parte da história de seu país.

Colégio Eurico: O senhor entrou no exército muito jovem. Como aconteceu?
Alfredo Bertoldo Klas: Antigamente, quando o rapaz completava 18 anos ele tinha que ir para o quartel ou tirava o certificado em um curso de tiro ao alvo para guerra. Eu fiz o curso e depois entrei para o Centro de Preparação de Oficiais da Reserva no Exército Nacional, de onde saí como aspirante. Depois de noventa dias fui promovido ao posto de 2º tenente. Em 1943, fui promovido a 1º tenente. Em 1946, me tornei capitão, mas eu deixei os serviços militares no mesmo ano.

CE: Você sabia como era a guerra?
Klas: Eu sabia como era a guerra, mas estar lá e presenciar a guerra é muito diferente. O navio que nos levou para a Itália tinha 208 metros de comprimento e levava 5.300 soldados. Era um pequeno inferno. A guerra é uma escola para as pessoas que querem aprender a importância da vida. Lá, eu vi cidades sendo destruídas, pessoas sem casa, com fome e sentindo humilhação. Isso é a guerra.

CE: Como foi deixar sua família, seu lar e sua cidade para servir ao país?
Klas: Eu já era casado e tinha dois filhos quando fui para a guerra. Eu lembro que quando estava subindo a escada do navio olhei para trás e me perguntei: “Será que voltarei?” Foi triste, mas eu tinha um objetivo e precisava cumpri-lo. Mas, sabe, eu senti que Deus estava comigo lá o tempo todo, é por isso que eu estou vivo depois de testemunhar tanta brutalidade que costumávamos ter lá (emociona-se).

CE: Conte-nos um pouco sobre a época em que era criança e os melhores momentos que ficaram na sua memória.
Klas: Nasci em uma fazenda. Minha família não era rica, porém muito feliz. Eu lembro de um dia que meu pai saiu a cavalo, pois não tínhamos carro, e voltou com um violino. Ele me disse: “Meu filho, você vai estudar música”. E eu estudei. Depois, já adulto, entrei para a Orquestra Sinfônica de Ponta Grossa e cheguei a ser presidente por nove vezes. Naquela época, esta era a maior orquestra amadora do Brasil, com sessenta músicos.

CE: E sobre a escola. O senhor era um bom aluno?
Klas: A escola era muito diferente do que é hoje. Existe uma coisa que é impossível de esquecer: a régua. Os alunos levavam muitas réguadas na palma da mão, o que não foi o meu caso porque eu sempre respeitei o professor. Hoje, o professor não tem o respeito dos alunos. Até hoje guardo uma foto do dia 7 de setembro onde aparecem o meu velho professor e os pais das outras crianças da escola.

CE: O senhor também foi advogado. Poderia nos contar um pouco dessa etapa de sua vida?
Klas: Eu me formei em Direito em 1938 e por cinquenta anos atuei na defesa de pessoas carentes. Depois disso entrei para a Universidade Estadual de Ponta Grossa para lecionar a disciplina Estudos de Problemas Brasileiros, onde fui coordenador da disciplina e chefe do Departamento de História. Também fui presidente da comissão para a construção do campo de esportes, interventor do Centro Psicotécnico e diretor do Museu Campos Gerais.

CE: Como o senhor avalia a educação atualmente comparada ao tempo em que o senhor lecionava?
Klas: Nós precisamos recuperar o valor do aprendizado porque os professores, hoje, fazem parte de uma classe desprotegida e mal-remunerada. Alguns políticos, na véspera das eleições, prometem melhorar a saúde, segurança e educação, mas só prometem e não cumprem. Esta é a atual situação da educação no nosso país.

CE: O senhor se tornou escritor. Por quê?
Klas: Porque eu tinha o desejo de contar o que realmente aconteceu na guerra. O meu primeiro livro foi “A verdade sobre Guanella: um drama da FEB”. Ele estava pronto em 1956, porém, não pude publicar devido à censura da época. Em 2002, cinquenta anos depois, eu publiquei. Meu segundo livro, “A verdade sobre Abetaia: drama de sangue e dor no 4º ataque da FEB ao Monte Castello”, foi publicado em 2005.

CE: O senhor tem alguma mensagem para deixar aos jovens?
Klas: Eu diria que devem aprender para saber, saber para fazer coisas boas, usar a inteligência, a capacidade e a formação, e elevar Deus acima de tudo. O progresso, nossa pátria e a família são as bases da sociedade. Fortaleça seus ideais para que seja o instrumento de fortalecimento dos ideais morais, cívicos e educacionais que irão influenciar o destino do país, a nossa casa. Nós devemos trabalhar pela nação, pelo povo e por nós, para sermos felizes.  

A entrevista
O trabalho foi produzido por: Ana Otávia dos Santos, Erik Kremes Lara, Mainara de Oliveira, Maria Rita Ribeiro, Paola Doim e Renan de Moura, sob orientação dos professores João Amauri Palhado e Sanny Duarte, do Colégio Estadual Eurico Batista Rosas (Carambeí-PR), para o concurso mundial ‘A Entrevista dos Meus Sonhos - Um festival global de reportagens feitas por jovens sobre histórias de sucesso’, promovido pela Associação Mundial de Jornais e Editores de Notícias (WAN-IFRA), em maio deste ano. Saiba mais no site www.vamoslerjornaldamanha.com.br.

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