Compartilhamos artigo de Gilberto Dimenstein que fala, entre outras coisas, de uma ação do The New York Times que tem atraído milhares de alunos no mundo todo. São cursos à distância que estão dando o que falar! O jornal está fazendo da redação uma espécie de sala de aula, onde jornalistas viram professores e leitores, alunos.
Por Gilberto Dimenstein (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2509201118.htm)
Até pouquíssimo tempo atrás ninguém diria que um jornal seria uma escola para se estudar sobre assuntos tão variados como música erudita, vinhos da Califórnia, câncer, diabetes, funcionamento do cérebro, criação de blog, energia nuclear, história da arquitetura asiática, arte africana, comércio eletrônico ou urbanismo.
Esses são apenas alguns dos cursos à distância oferecidos pelo "The New York Times", muitos deles em parceria com universidades, que atraem alunos de várias partes do mundo. Além dos professores universitários, as aulas são ministradas pelos jornalistas e colaboradores do jornal. "É um segmento que vamos ampliar cada vez mais, as matrículas não param de crescer", afirma Felice Nudelman, responsável pelos projetos educacionais daquele grupo editorial.
Minha suspeita é de que estamos diante de uma nova fronteira do conhecimento: a fusão das linguagens da educação com comunicação.
É sabido como empresas jornalísticas têm realizado pesados investimentos, como no Brasil, para ganhar o mercado de livros didáticos e sistemas de ensino. No caso do "The New York Times" há um diferença: com a ajuda das universidades, eles estão fazendo da redação uma espécie de sala de aula, onde jornalistas viram professores e leitores, alunos. Na quinta-feira passada, aliás, eles reuniram 400 educadores de todos os continentes para discutir como as novas tecnologias estão moldando o jeito que se aprende e se ensina.
A novidade reflete a ansiedade generalizada nos meios de comunicação diante das incertezas geradas pelas novas tecnologias, estimulando os mais variados tipos de apostas para agarrar o leitor.
Um dos melhores resumos que ouvi sobre essa ansiedade veio do jornalista Joshua Benton, responsável por um observatório em Harvard focado nos impactos das novas tecnologias na mídia. "Vivemos um momento extraordinário para o jornalismo. E terrível para os jornalistas". Nunca se teve tanto acesso a notícias. Mas também nunca se teve tanta insegurança sobre as regras para sobreviver.
Certamente não ajudou a reduzir o clima de ansiedade a recente descoberta na Universidade Northwestern, nos Estados Unidos: um software capaz de redigir notícias sem ajuda de humanos. O programa foi batizado com o sugestivo nome de Monkey (Macaco).
Nessa corrida, o "The New York Times" contratou cientistas e montou um laboratório para testar novas maneiras de disseminar informação. Dali surgiram um espelho e uma mesa que transmitem as notícias enquanto escovamos os dentes ou tomamos o café da manhã.
Na quinta-feira passada, o Facebook anunciou uma série de inovações para facilitar o compartilhamento de filmes, músicas e notícias. Entre outros acertos, fechou uma parceira com o "The Washington Post" e Yahoo!. A ideia, em síntese, é fazer de seus amigos curadores de conteúdos. Não por outro motivo, a Google está investindo pesado em redes sociais, temendo que seu mecanismo de busca impessoal perca força.
Não se sabe qual a regra do jogo que vai vencer. Mas o que se sabe é que a demanda por conhecimento não vai parar de crescer.
Como estamos na era da aprendizagem permanente, não se pode parar mais de estudar se não quiser ficar desatualizado. Vive-se mais e com mais saúde. As livrarias podem desaparecer, como estão desaparecendo em várias cidades. Mas a necessidade de livros não vai diminuir. Não é à toa que muitas livrarias imaginam que, para sobreviverem, terão de se transformar em centros culturais e educativos.
Em meio à abundância vertiginosa de dados, cresce a demanda de seleção sobre o que é relevante. Aí reside a fronteira entre a informação e o conhecimento.
Nenhuma forma de seleção consegue ir tão a fundo, relacionando fatos e conceitos, como o processo educativo numa sala de aula real ou virtual. Informação pode-se pegar em qualquer lugar: se quiser ver as aulas do MIT, sem pagar nada, basta apertar o botão do computador. Transformar isso em aprendizagem é outra coisa.
Certamente, nesse jogo de busca de seleção não vai faltar espaço para quem ajuda a contextualizar uma informação, gerando conhecimento.
Por isso a minha suspeita de que a escola do "The New York Times" é uma aposta consistente numa nova linguagem, misturando Redação com sala de aula.
PS - Para quem quiser aprofundar essas informações, coloquei no www.catracalivre.com.br mais detalhes sobre os cursos e o laboratório de novas mídias do NYT; o Monkey, desenvolvido pela Northwestern; os cursos gratuitos oferecidos pelas universidades americanas; o observatório de jornalismo on-line de Harvard.
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