''Está na hora de pensarmos na qualidade do tempo que dispensamos à aprendizagem antes de pensarmos em aumentar dias letivos'', diz Adriana Roese
* Adriana Roese
Ao ler, ontem, a matéria no jornal ZH na qual o MEC sugere aumentar em 20 dias a jornada escolar, ficou claro o quanto ainda estamos perdidos em relação ao que pensamos sobre a Educação e o tempo destinado à mesma.
Ao ler, ontem, a matéria no jornal ZH na qual o MEC sugere aumentar em 20 dias a jornada escolar, ficou claro o quanto ainda estamos perdidos em relação ao que pensamos sobre a Educação e o tempo destinado à mesma.
Acredito que, antes de discutirmos o aumento dos dias letivos, deveríamos discutir o que estamos fazendo com o tempo que hoje destinamos à aprendizagem. É de conhecimento de todos que trabalham com Educação que as quatro horas/aula ou 800 horas/ano não têm sido de fato bem aproveitadas pela maioria.
A escola, como também é de conhecimento de todos, precisa a cada ano absorver demandas que não seriam sua “função” primordial, que é ensinar conteúdos historicamente reconhecidos e relacioná-los aos dias atuais. Hoje, passamos muito tempo dando conta de outros afazeres, seja porque a sociedade não deu conta, ou porque a família não cumpre com seu papel.
Hoje, das quatro horas destinadas à aprendizagem, no mínimo 15 minutos são ocupados para merenda escolar, banheiro, lavar as mãos, merenda, beber água, escovar os dentes... sim, escovar os dentes, porque alguns municípios aderem a programas que transferem esta tarefa para a escola. E não estou aqui questionando o ato de o professor ensinar a higiene bucal, mas sim o tempo escolar.
Após esta primeira maratona, volta-se à sala de aula, no meio do turno, aproximadamente, mais 15 minutos de recreio, que em muitas escolas se divide em dois momentos devido ao número de alunos. Enquanto um grupo do primeiro recreio está no pátio, os que estão em sala aguardando seu recreio tentam continuar a lição...
Deixo para os leitores quantificar o tempo de “fato” que sobra para aprendizagem, lembrando que, a cada quebra de atividade, necessita-se de mais um tempo para buscar a concentração dos alunos novamente.
Somam-se a esse tempo os vários eventos e atividades que cada município inclui em seu calendário anual – semana do trânsito, semana da pátria, desfile, semana farroupilha, semana da inclusão, semana da consciên- cia negra...
Além dessas questões, precisaríamos discutir a indisciplina, que constantemente interrompe as horas destinadas ao aprender, e a infrequência dos alunosda qual, mesmo com a interferência dos conselhos tutelares, pouco tem sido resolvido.
Deveríamos falar da qualidade do trabalho dos professores, que sabemos nem sempre são dedicados ou não sobra tempo para aperfeiçoar seu trabalho, ou não têm formação adequada, entre tantas outras questões.
Mais uma vez, digo que não estou aqui questionando a validade de trabalhar determinados conteúdos, mesmo porque fazem parte dos planos de estudos das escolas, mas que está na hora de pensarmos na qualidade do tempo que dispensamos à aprendizagem antes de pensarmos em aumentar dias letivos.
* Diretora de escola
A escola, como também é de conhecimento de todos, precisa a cada ano absorver demandas que não seriam sua “função” primordial, que é ensinar conteúdos historicamente reconhecidos e relacioná-los aos dias atuais. Hoje, passamos muito tempo dando conta de outros afazeres, seja porque a sociedade não deu conta, ou porque a família não cumpre com seu papel.
Hoje, das quatro horas destinadas à aprendizagem, no mínimo 15 minutos são ocupados para merenda escolar, banheiro, lavar as mãos, merenda, beber água, escovar os dentes... sim, escovar os dentes, porque alguns municípios aderem a programas que transferem esta tarefa para a escola. E não estou aqui questionando o ato de o professor ensinar a higiene bucal, mas sim o tempo escolar.
Após esta primeira maratona, volta-se à sala de aula, no meio do turno, aproximadamente, mais 15 minutos de recreio, que em muitas escolas se divide em dois momentos devido ao número de alunos. Enquanto um grupo do primeiro recreio está no pátio, os que estão em sala aguardando seu recreio tentam continuar a lição...
Deixo para os leitores quantificar o tempo de “fato” que sobra para aprendizagem, lembrando que, a cada quebra de atividade, necessita-se de mais um tempo para buscar a concentração dos alunos novamente.
Somam-se a esse tempo os vários eventos e atividades que cada município inclui em seu calendário anual – semana do trânsito, semana da pátria, desfile, semana farroupilha, semana da inclusão, semana da consciên- cia negra...
Além dessas questões, precisaríamos discutir a indisciplina, que constantemente interrompe as horas destinadas ao aprender, e a infrequência dos alunosda qual, mesmo com a interferência dos conselhos tutelares, pouco tem sido resolvido.
Deveríamos falar da qualidade do trabalho dos professores, que sabemos nem sempre são dedicados ou não sobra tempo para aperfeiçoar seu trabalho, ou não têm formação adequada, entre tantas outras questões.
Mais uma vez, digo que não estou aqui questionando a validade de trabalhar determinados conteúdos, mesmo porque fazem parte dos planos de estudos das escolas, mas que está na hora de pensarmos na qualidade do tempo que dispensamos à aprendizagem antes de pensarmos em aumentar dias letivos.
* Diretora de escola
Fonte: Zero Hora/ 15/09/2011
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