O número de analfabetos com mais de 10 anos na Região Metropolitana de Campinas (RMC), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de aproximadamente 87 mil pessoas. Entretanto, um dos maiores desafios da educação no século 21 é a barreira do analfabetismo funcional. Na educação básica, onde o problema se inicia, a situação é preocupante. Apenas em Campinas, anualmente, cerca de 6% das crianças de 8 anos, o correspondente a 90 alunos, saem do terceiro ano do Ensino Fundamental sem saber ler ou escrever.
Os especialistas são unânimes em afirmar que o maior esforço hoje deve ser em garantir a qualidade da educação nas fases iniciais. “O Brasil enfrentou nas últimas duas décadas o desafio de colocar todas as crianças na escola. Embora não tenha sido atingido plenamente, o problema foi bem reduzido. Mas, hoje, não adianta dizer que tem vagas para todos. É preciso oferecer educação de qualidade para todos”, afirma a professora Ângela Soligo, da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
“Estamos formando uma geração de alunos escolarizados depois do esforço de universalização da educação. Mas o ponto principal, atualmente, é a ineficiência que está relacionada ao processo de alfabetização. Hoje, mais do que nunca, uma pessoa que não teve uma alfabetização plena sofre com a segregação. E esse novo cenário impõe um desafio extra para a sociedade e para os educadores”, afirma Luiz Eduardo Drouet, coordenador executivo do Compromisso Campinas pela Educação.
Quando não é resolvido nas séries iniciais, o problema se agrava. Só em Campinas, cerca de 30 mil pessoas com mais de 10 anos não conseguem ler ou escrever. É o caso de Maria Aparecida dos Santos, de 46 anos, que depois de entrar e sair várias vezes da escola para trabalhar e ajudar na renda da casa, retomou os estudos.
Hoje, ela comemora os resultados. “Já sei escrever o meu nome e é minha maior felicidade. Também consigo juntar algumas palavras e ler”, diz. Maria Rosa Fagundes, de 56 anos, ainda não está contente com os avanços. “Assino o meu nome e leio um pouco, mas quero aprender a escrever melhor”, diz.
Soluções concretas
Para Ângela Soligo, são necessárias ações concretas para resolver o analfabetismo funcional. “Uma educação de qualidade pressupõe estrutura escolar adequada, salas de aula com números de alunos compatível — o ideal seriam 25 alunos por sala no Ensino Fundamental —, professores bem qualificados, com salário que permita que ele se dedique a apenas uma escola, com tempo não só para dar aula, mas para realizar projetos e atender as crianças no contraturno. As avaliações mostram o problema e os pesquisadores apontam as soluções, mas essa fase de análise precisa ser superada”, afirma.
Entre outras medidas para combater o analfabetismo funcional, Drouet destacou a necessidade de investimento na formação do professor. “Defendemos a valorização dos educadores, mas hoje uma grande parcela dos professores formados não tem um foco tão grande no processo de alfabetização”, diz.
“Dessa forma, é necessário maior especialização no processo de alfabetização e um compromisso dos educadores em garantir o direito fundamental dos alunos terem acesso a uma educação de qualidade”, completa.
Fonte: Correio Popular/ Foto: Leandro Ferreira 08/09/2011
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