Por Talita Moretto
Nova década inicia e um surto tecnológico toma conta dos bancos escolares. É a tecnologia, que antes vista somente na vida social como arte para o entretenimento e bem estar, a partir dos anos 2000 começa a ficar mais evidente nos bancos escolares. Professores ganham novas preocupações que extrapolam o corrigir os cadernos manuscritos dos alunos, as provas subjetivas, os trabalhos pesquisados na biblioteca. Surgem as tais redes sociais e, junto com elas, a mobilidade; as relações com as máquinas ficam mais próximas e que pânico, o que fazer agora?
Mas isso não é nada, de repente começam a aparecer pesquisas que apontam que a maioria dos jovens esconde as suas atividades na web, que a pirataria cresce pela facilidade de baixar filmes e músicas da Internet, que o plágio se intensifica pela técnica rápida do Copiar e Colar, que o bullying migra para o cyber espaço. Pensamos: nossos filhos estão desprotegidos, nossos alunos perderam o foco.
Antes de continuar, acho oportuno esclarecer algo. As “redes sociais” não surgiram com o Orkut ou Facebook, não são frutos da tecnologia ou do mundo virtual. Elas sempre existiram. Formar “redes sociais” é natural em uma comunidade, ou seja, sempre vivemos em nossas redes sociais. O que aconteceu com a chegada dessas “mídias digitais” (o que realmente são) é que elas intensificaram as relações pessoais, justamente por quebrarem fronteiras físicas. Assim, as pessoas migraram suas redes para o mundo virtual, para as plataformas digitais, por isso chamamos Facebook de “mídia social”. Ficou mais claro?
Eu sou jovem e talvez o que eu diga possa não estar de acordo com a maioria dos preceitos, mas eu percebo que a tecnologia está em todas as inovações que presenciamos, só não admitimos isso. Se escrevíamos com lápis e hoje temos caneta, é a evolução tecnológica no escrever; se escrevemos com caneta e hoje temos teclado, é a evolução tecnológica de escrever; mas, se eu quero escrever com lápis mesmo tendo tanta tecnologia nova, é a opção que eu fiz para melhor escrever.
Usar as “novas tecnologias” na educação não é abrir mão do que funciona, do que é conhecido, é optar por um novo modelo de passar o mesmo conhecimento. O ato de ensinar não muda, o que muda são os caminhos que estarão disponíveis para o jovem aprender o que lhe é ensinado.
Um exemplo bem sucedido está no vídeo “Tecnologia na Educação: Monitoria Tecnológica no CIEP Adão Pereira Nunes” (se não existisse Youtube eu não teria acesso a este vídeo, nem vocês que leem este artigo). Uma escola descobriu como adequar-se à vontade dos alunos em utilizar as mídias sociais sem perder o rumo do estudo. Assistam!
O Facebook é uma ótima ferramenta para criar grupos de discussão. Gratuita e prática, ela permite ao professor estar próximo de seus alunos em bate-papos monitorados na rede, bem produtivos por sinal. Mas é necessário conhecer o Facebook antes de criar os grupos. É possível também conduzir pesquisas riquíssimas na Internet utilizando uma prática bem simples e divertida: a WebQuest. É um questionário online que pode ser feito através de uma gincana, por exemplo, onde os alunos são guiados em um tour por sites confiáveis, onde, em grupos, ele precisam achar as respostas para as perguntas colocadas pelos professores. Mas estes precisam conhecer os sites antes de aplicar o questionário. Quando o professor sente que seu trabalho não está sendo visto, que fica apenas entre quatro paredes de uma sala de aula, a Internet, mais uma vez, pode ser sua melhor amiga. Basta criar um blog (existem muitas plataformas gratuitas) e divulgar o que você anda fazendo de legal com seus alunos, estimulando que eles também façam isso. Uma dica: o Blog Função Coruja (fujaenoiz.blogspot.com.br). Pasmem: criado por uma professora de Matemática (não errei não, ela é das exatas mesmo, nada de língua portuguesa) que adora produção textual e envolve todos os alunos na divulgação de informações (notícias) sobre a escola e o bairro. Mas ela pesquisou o que era blog e aprendeu a mexer na ferramenta antes de começar a postar.
A minha visão diante da tecnologia é que ela não mudou os valores pretendidos um uma sociedade. Acredito que os pais continuam sendo os responsáveis por educar, guiar e conduzir seus filhos. Na educação, vejo a web como um espaço que agrega informações boas sim e verdadeiras quando os alunos sabem onde e como pesquisá-las. Afinal, a apropriação de conteúdo alheio, informações falsas, a técnica do Copiar e Colar também podem estar no papel, não apenas no teclado. O mundo virtual não é pior do que é real quando aceitamos conhecê-lo.
Artigo publicado na agência de notícias Adital Jovem – América Latina e Caribe, em 19 de setembro de 2012.
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