SÃO PAULO — A popularização dos televisores e dos telefones celulares, disponíveis a quase dois terços da população mundial, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), começa a ser explorada como arma de combate ao analfabetismo funcional.
Na Índia, por exemplo, um método desenvolvido pelo professor Brij Kothari, do Indian Institute of Management (IIM), tem ajudado jovens e adultos com pouco acesso a livros e revistas a desenvolverem a leitura e a escrita.
Na Europa, um programa educacional criado pela suíça Ursula Suter tem contribuído na qualificação profissional de desempregados e moradores de ambientes rurais.
O maior acesso à tecnologia também começa a ser explorado no Brasil, onde o matemático José Luis Poli trabalha num aplicativo eletrônico para o combate à evasão escolar.
A dificuldade na leitura e interpretação de textos, que atinge aproximadamente 24% da população mundial, tem representado um obstáculo para o crescimento econômico de países desenvolvidos e emergentes, sobretudo por conta da escassez de mão de obra qualificada.
Uma pesquisa do Instituto Global McKinsey, realizada em 70 países, avalia que, nos próximos 20 anos, a falta de mão de obra pode levar à estagnação da economia mundial.
No Brasil, onde 20,3% da população apresentam algum grau de analfabetismo funcional, a escassez de trabalhadores qualificados produziu o aumento, no primeiro trimestre deste ano, do número de autorizações de trabalho concedidas a estrangeiros.
— Estudos mostram que a leitura voluntária melhora as notas escolares e, consequentemente, a performance do aluno para atender às demandas profissionais — explica o alemão Juergen Boos, diretor da Feira de Frankfurt, um dos principais fóruns mundiais de discussão sobre educação.
Uma das soluções encontradas para combater o analfabetismo funcional foi desenvolvida na Índia, que adotou um método chamado Same Language Subtitling (SLS), criado por Brij Kothari, fundador da entidade sem fins lucrativos PlanetRead.
O programa insere legendas, no idioma hindi, em atrações e filmes transmitidos pela televisão indiana, um dos meios de comunicação mais populares no país. A estratégia é fazer com que pessoas com um nível de alfabetização baixo associem a fonética das palavras com sua grafia, o que, na avaliação do professor indiano, leva a um “aprendizado automático”.
O procedimento é oferecido hoje a cerca de 150 milhões de pessoas em instituições de ensino indianas e por meio da rede pública de televisão Doordarshan, que, desde 2006, adotou a legenda em algumas atrações.
Outro método que vem obtendo êxito é o desenvolvido pela educadora Ursula Suter, fundadora do empreendimento social Avallain AG. Com o objetivo de reduzir o analfabetismo funcional na Irlanda, país onde 25% dos adultos apresentam dificuldades de leitura, a professora suíça criou uma plataforma on-line, com atividades lúdicas, na qual os usuários treinam a compreensão e a escrita em situações do dia a dia, como numa entrevista de emprego ou em compras no supermercado.
O programa, inserido na proposta de e-learning, com apoio do governo irlandês, já formou 54.741 leitores, muitos deles desempregados e moradores de ambientes rurais. Com os bons resultados, o método já foi exportado para Alemanha (382.250), Turquia (4 mil) e Quênia (200).
— Com o maior acesso a computadores e celulares, é possível superar barreiras no processo de alfabetização de jovens adultos. A falta de opções de transporte público, a falta de tempo e a timidez afastavam as pessoas das escolas de formação. Em casa, no entanto, na frente do computador, o aprendizado é confidencial, e as pessoas conseguem encontrar tempo para exercitar a leitura e a escrita — avalia Ursula Suter.
No Brasil, onde 72% da população têm telefone celular, o matemático José Luis Poli trabalha num programa para smartphones que oferece atividades de leitura e escrita para crianças e adultos. O aplicativo, em fase de teste, conterá 4.800 exercícios de português, matemática e ciências.
O matemático pretende, numa segunda fase, oferecer cursos profissionalizantes por meio do celular. O projeto educacional tem sido testado em escolas no interior de São Paulo com crianças, adultos e portadores de necessidades especiais. Em 2013, Poli quer testar o aplicativo com 5 mil pessoas de todo o país. No ano seguinte, tentará apresentar o método educacional ao governo federal.
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