Coordenador do Departamento de midiaeducação do NAVE
Doutorando pela PUC-Rio
Uma das críticas mais frequentes, quando analisamos as primeiras tentativas de se difundir informação via web, referia-se a suposição de que para ser veiculada em ambientes virtuais bastava que se reproduzisse a informação tal qual ela costumava aparecer nos suportes “tradicionais” – jornais, livros, revistas, folhetos. Tal suposição trazia embutida a crença de que, uma vez respeitadas as regras básicas presentes nos manuais de comunicação, não haveria muito com o que se preocupar em termos de recepção. Enfim, o que importava mesmo era o conteúdo…
Retrospectivamente, muitos avaliam que parte dessa suposição justificava-se pelos limites impostos à internet em seus primórdios. Em meados dos anos 90 a tecnologia disponível na grande rede estava longe da web 2.0 que temos hoje e, portanto, não haveria mesmo muito o que fazer diante do desenvolvimento tecnológico existente.
Hoje, num momento em que as TIC’s começam a fazer parte do universo escolar brasileiro de forma mais intensa e estruturada, corre-se o risco do mesmo tipo de erro. A suposição de que basta garantir a “migração” de conteúdos, práticas e rotinas do universo escolar presencial para o universo digital pode comprometer, significativamente, nossa capacidade de apropriação e criação de conhecimentos e saberes escolares, no contexto de uma sociedade cada vez mais imersa nas múltiplas instâncias do universo digital. Quando falamos no uso escolar das TIC’s é porque o uso fora do universo escolar vai muito bem, obrigado…
Paradoxalmente, é no uso escolar das TIC’s que continuamos “patinando”, com honrosas e raras exceções. E os estudantes são os primeiros a perceber que aqueles blogs, sites, homepages, microblogs, além das redes sociais – na maioria das vezes construídos com as melhores intenções -, são como livros, cadernos e apostilas, “disfarçados”. Não se trata de considerarmos como desnecessários os matérias didáticos produzidos até aqui. Talvez, o que precise ser feito é compreender melhor como os estudantes, particularmente os que se encontram em algum ponto da educação básica, se relacionam com o universo web.
Aprender com as rotinas, hábitos e padrões de uso socialmente desenvolvidas por esses(as) jovens pode nos dar pistas valiosas para o uso adequado e produtivo das TIC’s em termos escolares. Por trás da aparentemente caótica e desordenada sucessão de telas e links do computador de seu aluno(a), parece haver um complexo regime de uso capaz de articular, de forma combinada, os ambientes e plataformas digitais atualmente disponíveis.
Não nos parece razoável a consideração de que tais ambientes e plataformas digitais são de uso incompatível com as funções e objetivos escolares. As TIC’s tornaram-se um fenômeno de massa, o que lhes confere um grau de inevitabilidade contra o qual não parece haver sentido se opor, simplesmente por desconhecer sua lógica interna de operação. Agimos assim, em larga escala, com relação ao uso escolar da TV, do cinema, do rádio, do HQ, da calculadora…
Substituir o medo, o desconhecimento e a indiferença por experimentação, estudo e pesquisa. Didática e metodologicamente é isso que precisa ser feito com relação às TIC’s
Fonte: RevistaPontoCom
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