Por que é preciso aprender a ler e escrever? A partir deste questionamento, os alunos da 2ª série do Centro Educacional Sesi-349, do Jardim Presidente, em Araçatuba, iniciaram um trabalho especial com a professora Janete de Lima Carvalho. A atividade acabou unindo as crianças com personagens mostradas em matérias da Folha da Região. A principal delas foi a faxineira de túmulos Maria Alves Ferreira, alfabetizada aos 77 anos nas aulas do EJA (Educação de Jovens e Adultos).
Mas tudo começou assim: Quando os alunos foram incentivados a refletir sobre a importância da leitura e da escrita, a professora Janete, após uma conversa motivadora, entregou jornais a eles e propôs que encontrassem alguma notícia, comentário, propaganda ou até mesmo textos nos Classificados que pudessem exprimir a importância dos atos de ler e escrever.
As unidades do Sesi são parceiras do Ler para Crescer e trabalham constantemente com jornais nas salas de aula e biblioteca.
Para surpresa daquela turma, em especial, um grupo encontrou a notícia sobre Dona Maria em uma reportagem da jornalista Monique Bueno. Mas as crianças não conseguiam acreditar que alguém poderia viver tanto tempo sem saber ler e escrever.
PASSO A PASSO
A professora Janete leu a notícia na íntegra para todos e os alunos foram grifando os dizeres com os quais ficaram mais impressionados. Ela conta que repetiu a leitura por várias vezes, pois muitos demoraram a acreditar que a história fosse verdadeira. Ao final, os estudantes perceberam o esforço que Dona Maria teve que fazer para assinar seu próprio nome e identificar as ruas, por exemplo.
Os comentários dos alunos inspiraram a professora, que propôs para a turma elaborar mensagens sobre o que leram. Mas as crianças decidiram fazer melhor. Elas primeiro escreveram bilhetes motivadores para Dona Maria (que foram colocados em um mural), depois decidiram escrever cartas a ela contando como ficaram orgulhosas e encantadas com a sua história. "Eu sabia que ela ia gostar de receber a nossa carta porque agora ela já sabe ler", comentou o aluno Matheus da Silva Moreira.
O ENCONTRO
Da ideia do mural com os bilhetes e, depois, das cartas, nasceu a proposta de promover um encontro entre Dona Maria e as crianças (veja mais detalhes no post da coluna Sala Aberta).
No final de outubro, Dona Maria, a professora Janete e os alunos da 2ª série se encontram na biblioteca do Sesi-349 juntamente com outros convidados: a secretária municipal de Educação, Beatriz Soares Nogueira; a coordenadora do EJA, Silvia Vicente Benedito; a administradora do Sesi, Josiane Maria Caldato Franco; a bibliotecária Luciane Druzian, e a repórter Monique Bueno. O local estava decorado com muitos cartazes de boas-vindas e mensagens parabenizando Dona Maria.
Em roda, os estudantes tinham, cada um, uma carta nas mãos. O olhar das crianças era de emoção e expectativa, que aumentaram quando a senhora de baixa estatura, com um touca plástica, daquelas usadas para banho, branca com bolinhas azuis e amarelas, entrou pela sala.
Com os olhos cheio d´ água, ela foi recebida com aplausos. Leu as mensagens no mural e se acomodou em uma das cadeiras para contar os motivos pelo quais não pôde estudar. "Naquela época era preciso trabalhar e ajudar em casa. Não sabia nem o que era estudar", relatou.
Dona Maria conversou com os alunos por cerca de duas horas. As crianças entregaram as cartas e flores. Por várias vezes a senhora de 77 anos chorou.
Uma das alunas perguntou a Dona Maria o que mudou na vida dela depois de aprender a ler e escrever. "Estou muito feliz. Agora tenho documentos assinados. Antes, quando eu precisava comprar alguma coisa, era tudo no dedo", diz referindo-se à impressão digital que comprova a identidade das pessoas. "O dia em que fui ao banco e não precisei mais usar o dedo, queria que alguém estivesse perto de mim para comemorar. Foi o dia mais feliz da minha vida", relembrou.
EMOÇÕES
Para a jornalista Monique Bueno, essa foi uma grande experiência. "Eu quis mostrar na matéria que essa é a realidade de muitas pessoas e que elas precisam de ajuda para garantir qualidade de vida. O jeito peculiar de Dona Maria levar a vida e a sua falta de aprendizado levaram as crianças a pensar que ela não existia, que era apenas uma personagem. O encontro dela com os alunos foi emocionante”.
Para o editor-chefe da Folha da Região, Milton Rodrigues, jornalismo é o grande desafio de contar histórias. "O jornal é um espaço para fatos verdadeiros como a história da Dona Maria. O contato das crianças com o jornal proporciona um amadurecimento e é importante elas saberem sobre os assuntos do cotidiano”.
Para a coordenadora do Ler para Crescer, Ayne Regina Gonçalves Salviano, que propôs o encontro entre Dona Maria e as crianças, “a experiência e as emoções vividas por todos naquela tarde precisam ficar guardadas pra sempre na memória de todos como um incentivo para o crescimento e a aprendizagem constante”.
Fonte: Blog do Ler para Crescer
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