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terça-feira, 1 de novembro de 2011

Escola investe no básico e faz sucesso entre tecnológicos

Método de ensino valoriza atividades manuais para despertar a criatividade e conquista adeptos no epicentro da alta tecnologia mundial



As principais ferramentas de ensino de algumas Escolas norte-americanas localizadas no Vale do Silício epicentro da economia tecnológica e onde estão as sedes de gigantes como Google, Apple, Yahoo e Facebook não têm nada de alta tecnologia: quadro-negro com giz colorido, estantes com enciclopédias, mesa de madeira cheia de apostilas, lápis preto, papel e agulhas de tricô.



Não há um único computador à vista. Eles não são permitidos em sala de aula e o colégio até desaprova seu uso em casa. Essa postura faz parte do método Waldorf de ensino, adotado em vários países e presente em 82 Escolas no Brasil e cerca de 160 nos Estados Unidos.


Essas Escolas caminham na direção oposta da grande maioria das instituições de ensino. Vincu­­lar o aprendizado com no­vas tecnologias é um caminho defendido por muitos especialistas. Contudo, a metodologia waldorfiana está focada em atividade física e aprendizado por meio de tarefas criativas e manuais. Aque­­les que apoiam essa abordagem dizem que os computadores inibem o pensamento criativo, a atividade, a interação humana e a atenção.

Entre os alunos de uma das Escolas Waldorf de Los Altos, na Califórnia, três quartos são filhos de pessoas que trabalham nas grandes corporações do Vale do Silício e têm forte conexão com a informática. Alan Eagle, 50 anos, é formado em Ciência da Com­­putação e trabalha na área de co­­municação executiva do Google.

Ele usa iPad e smartphone e matriculou os dois filhos, Andie e William, em instituições com essa metodologia. Como outros pais, Eagle não vê contradição na postura adotada com os filhos.

A tecnologia, diz ele, tem tempo e lugar. “Eu rejeito a ideia de que se precisa de auxílios tecnológicos noensino fundamental. É ridículo defender que um aplicativo de iPad possa ensinar meus filhos a ler ou a fazer aritmética melhor”, diz.

Comparação
Defensores do método Waldorf dificultam a comparação com outras metodologias. Em parte porque não são administrados testes padronizados nas séries primárias. Eles seriam os primeiros a admitir que alunos das séries iniciais podem não obter boas notas nessas provas pelo fato de não serem treinados segundo um currículo padrão de Matemática e Leitura.


Diante disso, o debate recai na subjetividade, na escolha parental e numa diferença de opinião sobre envolvimento.


Paul Thomas, professor de Educação na Universidade de Furman (EUA) e autor de 12 livros sobre métodos de Educação pública, diz que “uma abordagem parcimoniosa da tecnologia na sala de aula sempre beneficiará o aprendizado”.

Contudo, ele afirma que “a tecnologia é uma distração quando precisamos de alfabetização, alfabetizaçãomatemática e pensamento crítico”. Na área pedagógica, uma preocupação comum a respeito do método Waldorf refere-se aos casos em que um aluno é transferido para uma Escola mais convencional.


Na opinião daprofessora Maísa Pannuti, dos cursos de Pedagogia e Psicologia da Universidade Positivo, as crianças da Educação infantil são as que sentem mais o impacto da mudança, já que asEscolas Waldorf não alfabetizam até os 7 anos de idade. Entretanto, o processo de adaptação costuma ser curto. “Eles desenvolvem muito bem outros aspectos essenciais à primeira infância. Por isso acabam se adaptando rápido”, diz Maísa.

O essencial
Criado pelo alemão Rudolf Steiner, em 1919, o método Waldorf chegou ao Brasil em 1956. Entre seus principais diferenciais estão:


- Materiais orgânicos: Evita-se o uso de plástico e outras substâncias sintéticas. Brinquedos e objetos pedagógicos são feitos de madeira, pano ou argila.

- Trabalhos manuais: Valoriza-se práticas como marcenaria, tricô e outras que exijam esforço físico, concentração e criatividade.

- Artes: Música, pintura e escultura fazem parte do cotidiano dos alunos e estão presentes em todas as disciplinas. Todos aprendem a tocar algum instrumento e a cantar.


- Ensino em ciclos ou “épocas”: Durante um mês, por exemplo, ocorre a “época de História”, no mês seguinte vem a “época de Matemática” e assim com todas as disciplinas.


- Não à tecnologia em sala de aula: Computadores e equipamentos eletrônicos são considerados desnecessários ao desenvolvimento saudável das crianças. A pedagogia Waldorf não condena a tecnologia, mas seu uso na Educação só é aceito para alunos mais velhos, a partir do ensino médio.


Três dos colégios do Brasil estão em Curitiba


Logo que se chega à Escola Turmalina, no bairro Campo Comprido, em Curitiba, a sensação de entrar numa pequena vila é imediata. Ouve-se cantigas de roda o tempo todo e as vozes geralmente estão acompanhadas de flautas e violões.


Há muitas árvores e flores bem cuidadas e rodeadas de cercas de madeira feitas à mão. Madeira, aliás, é um material abundante por lá seja nas pequenas casas onde ocorrem as aulas ou nos brinquedos do quintal. Não se vê plástico. Apenas o que é orgânico, como cordas de fibra natural ou lã.


O impacto visual já diz muito sobre a maior Escola Waldorf da capital e única que oferece oensino fundamental completo. Fundada há 18 anos, a Turmalina é fruto de uma associação de pais e professores que desejavam criar um ambiente para seus filhos que tivesse a simplicidade dos trabalhos manuais, a sensibilidade artística e o lúdico presentes durante todo o período Escolar, não apenas em determinadas aulas.


A preferência pela vivência de conteúdos Escolares, antes de receber os conceitos deles, é adotado em todas as aulas desde lições de marcenaria até as disciplinas curriculares obrigatórias. “Este ano nós fomos para uma pousada no Canyon Guartelá e tivemos aula de Astronomia observando o céu à noite”, exemplifica o professor Marcelo Pupo, um apaixonado pelo método e que atua há oito anos na Escola.


Para ele, as experiências desenvolvem muito mais do que apenas uma habilidade específica. “O excesso de tecnologia causa acomodação, e essas práticas trabalham exatamente a nossa força de vontade”, diz Pupo.


Abrangência
Além da Turmalina, Curitiba conta com outros dois centros de Educação infantil que adotam o método, o Ghimel e o Cordão Dourado. De acordo com a diretora do Cordão Dourado, Margarete Flores, muitos dos pais de alunos nunca tinham ouvido falar de Waldorf antes de matricularem seus filhos, mas se encantaram com o sistema alternativo.


Foi o caso de Carina Martins Nogueira, mãe de Davi, de 4 anos. “Procurávamos os elementos que achamos importantes na Educação. O fato de a Escola se parecer com uma casa e o foco nessas brincadeiras simples nos chamaram a atenção”, conta.

Segundo a Federação das Escolas Waldorf no Brasil (FEWB), há 82 instituições que adotam o método no país. Não há um sistema de fiscalização rígido para acompanhar a qualidade do serviço.

Para receber o reconhecimento, em geral, ao declarar-se como Waldorf e seguir as linhas gerais desse pensamento, a Escola já é cadastrada. Eventualmente, tutores vinculados à FEWB visitam as instituições credenciadas, mas limitam-se a fazer recomendações.

Fonte: Gazeta do Povo/ Jônatas Dias Lima 01/11/2011

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