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segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Por uma nova forma de ensinar

Idealizador da Escola da Ponte critica maneira como tecnologia é usada em sala e chama de "miserável" formação de professor no Brasil


Eduardo Vanini/ O Globo (RJ) - Não existe um modelo padrão de ensino. Cada escola deve se organizar para atender a seus alunos. Quem defende a ideia é o educador José Pacheco que, por mais de 30 anos, dirigiu a inovadora Escola da Ponte, em Portugal, onde o aprendizado é pautado pela confiança entre estudante e professor: não há salas de aula tradicionais, grade curricular ou provas. Os bons resultados da instituição dão a Pacheco autoridade para questionar o método de ensino atual. Na era das redes sociais, ele defende o compartilhamento do conteúdo escolar pelos alunos, levando a uma construção coletiva do saber. O educador também classifica como “miserável” a formação dos professores no Brasil.
— Nada acontece de diferente quando a teoria antecede a prática. É preciso uma ruptura com os modelos convencionais, em busca de uma nova escola, que se organize em torno dos valores que unem as pessoas atendidas. A escola não é um edifício, mas um espaço social — comenta o português, que participará do Conecta, evento sobre novas tecnologias e educação, que ocorre quarta e quinta-feira, no Rio.

Pacheco é um dos idealizadores da Escola da Ponte, na pequena Vila das Aves, a 30 quilômetros do Porto. Na instituição, os alunos se agrupam de acordo com sua área de interesse. Não há divisão por séries. Monitorados por professores, o estudante faz seu plano de metas baseado no conteúdo sugerido pelo Ministério da Educação. A metodologia ganhou fama global. Encantado, o escritor e educador Rubem Alves escreveu trabalhos como “A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir” (2003). Cerca de cem instituições no Brasil mudaram para, de certa forma, seguir o exemplo.

O próprio Pacheco está envolvido numa iniciativa que segue essas premissas, em Cotia (SP). Com 440 alunos, cujas famílias têm rendas de até três salários mínimos, o Projeto Âncora serve ao pré-escolar e ao ensino fundamental, sem turmas definidas. O aprendizado se dá conforme o interesse dos alunos, que assimilam o conteúdo e o compartilham no ambiente escolar.

— É um trabalho de formiguinha. Na implantação do projeto, rejeitamos tudo que não interessa. Aulas e séries são um obstáculo para o crescimento humano — diz ele.

Os resultados, segundo Pacheco, são animadores. Alunos marcados pela exclusão recebem atenção que nunca tiveram. Em seis meses, crianças analfabetas aprenderam a ler, e os professores embarcaram na novidade.

Mas o educador se mostra preocupado com o quadro geral do ensino no Brasil e no mundo. Na opinião dele, os métodos em voga estão obsoletos desde o fim do século XIX.

— Basta dizer que, no Brasil, esse tipo de educação dá origem a 24 milhões de analfabetos funcionais. Não adianta ser a sexta economia do mundo, quando se ocupa os últimos lugares em rankings de educação — critica Pacheco, para quem o despreparo das escolas fica latente diante de questões atuais como o bullying. — Muitas escolas suspendem ou expulsam alunos, instalam câmeras de segurança. Deveriam ser adotadas novas formas de diálogo.

Para resolver esse problema, diz ele, é essencial investir na formação de educadores:
A formação de professores no Brasil, não hesito em dizer, é miserável. Parte de princípios errados, como aquele de que a teoria pode anteceder a prática. Não adianta colocar jovens na faculdade e enchê-los com teorias ultrapassadas. Eles perpetuarão esse modelo.

Pacheco diz que a renovação deve englobar a forma como as recentes tecnologias são aplicadas no ensino. Em tempo de redes sociais, não basta apenas introduzir computadores e mudar o velho quadro-negro pelo monitor digital.

— Mesmo nos EUA e na Europa, o modelo convencional de educação continua. As novas tecnologias contribuem para a mesmice, quando deveriam proporcionar o compartilhamento de conteúdo entre os alunos. Se as escolas entenderem isso, podem migrar de um modelo em que os estudantes são como papagaios repetindo a lição para um ambiente onde ocorra, de fato, a construção do saber — diz o educador. 

Os jovens precisam ser incentivados a reconstruir uma sociedade doente e usar as tecnologias para fazer isso criticamente. Noto que essas ferramentas contribuem para que os alunos se tornem solitários. Isso é uma regressão.

Fonte: O Globo (RJ) 26/11/2012 http://oglobo.globo.com/educacao/por-uma-nova-forma-de-ensinar-6766027#ixzz2DKhSl2W8


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