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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O “internetês” e a sala de aula

Por: Gustavo Vieira - Blog Tecnosfera/Jornal O POVO


A forma de escrita abreviada utilizada em programas de mensagens instantâneas e nas redes sociais – o “internetês” – se tornou bem popular entre os jovens e, por isso, coloca mais um desafio para os educadores: qual deve ser a postura do professor diante dessa linguagem? O uso excessivo das abreviações pode prejudicar o aprendizado? A professora Cristina Jucá, responsável pela sala de multimeios do Centro Educacional Piamarta Aguanambi, diz que não. “Até acho que ajuda”, argumenta. “A meninada é ‘esperta’ e distingue o que é ‘internetês’ e o que é a norma culta”.  Será? O educador Cardos Eduardo Silva concorda e diz que é raro o aluno levar para a sala de aula a linguagem utilizada na Internet. Ele é professor de produção textual das escolas Cícero Nogueira e  Eudoro Corrêa. “Os alunos do ensino médio, por exemplo, são mais atenciosos, porque querem tirar uma boa nota no Enem”, revela. E se acontecer? “Eu destaco no texto o termo que foi escrito e escrevo uma observação sobre a diferença da escrita que pode ser utilizada na internet e dos procedimentos que precisam ser seguidos em relação a um texto que cobra a norma culta da língua”, conta.

Para esclarecer melhor o assunto, conversei por e-mail com Erika Bueno, coordenadora pedagógica da Vitae Futurekids/Planeta Educação, empresa que atua na área de educação e tecnologia. Ela explica o que é certo e o que é errado,  revela quais são os erros ortográficos mais comuns e discute o papel do professor em relação a temática.
O que é certo e o que é errado na Internet, em relação à ortografia? Abreviar, por exemplo, é errado? Assim como em várias outras circunstâncias, na língua portuguesa não há certo e errado, mas sim “adequado” e “inadequado”, ou seja, adequado ou inadequado ao contexto em que a conversação está acontecendo. A abreviação, o uso de emotions e a ausência de pontuação, apenas como exemplos, são inadequados a um contexto que exija mais formalidade, tais como numa entrevista de emprego, num manifesto a ser encaminhado ao poder público e afins. Contudo, num contexto informal, como num bate-papo com amigos pelas redes sociais, não há, num primeiro momento, nenhuma inadequação. Desta forma, não é o ambiente em que a conversa se dá que define a formalidade ou informalidade, mas sim com quem se está conversando e com quais objetivos.
É errado usar o “internetês” fora do computador, em uma redação, por exemplo? Se, com a redação, o professor deseja trabalhar a linguagem padrão da língua portuguesa e, consequentemente, a formalidade que a ela é devida, sim, é inadequado usar as características do “internetês” fora do contexto informal. Contudo, antes de colocar sobre o aluno a culpa pelas inadequações ortográficas e gramaticais, é necessário verificar se o aluno está tendo contato com a diversidade de textos. Essa diversidade é o grau de contato que o aluno precisa ter com diversos textos, de modo que, ao se particularizar com as diferentes formas de transmitir uma mensagem por escrito, tenha condições de escolher qual linguagem é cabível, ou seja, adequada ao contexto que ele esteja envolvido.
Quais são os erros ortográficos mais comuns encontrados na Internet? Ao não conhecer outras maneiras de se comunicar, mais precisamente num modo formal, é comum vermos inadequações ortográficas que consistem na supressão de, principalmente, vogais. Isso acontece porque se considera que elas já estejam subentendidas ao se pronunciar/ler as consoantes. Além disso, há completa inutilização da acentuação, que é seguida pelo desuso, na grande maioria das vezes, dos sinais de pontuações.
A língua portuguesa estaria se “perdendo” com o uso excessivo das abreviações? De modo algum, pois, assim como tudo o que é vivo, a língua, naturalmente, sofre mudanças que ocorrem pela necessidade do falante. No caso, se a necessidade do falante é a de conversar com mais pressa, é claro que, como senhor da língua, fará o uso que for necessário ao que deseja. O uso formal da língua portuguesa continuará sendo necessário em diversos contextos em que a formalidade seja necessária. O segredo de tudo isso está em considerar quem será o receptor da mensagem, adequando sua escrita aos formatos que sejam entendidos por ele.
Como surgiram todas essas abreviações na web? As abreviações surgiram da necessidade de se expressar por escrito de um modo dinâmico, ocupando o menor espaço possível. Não havendo recursos mais envolventes, tais como aqueles que hoje temos de falar oralmente e sermos ouvidos instantaneamente pelo nosso receptor, naturalmente as pessoas usaram as abreviações para se comunicarem com a rapidez que elas necessitavam. Com o uso de celulares e o acesso à Internet por meio de equipamentos cada vez menores, a tendência ganhou ainda mais força.


Fonte: Blog Tecnosfera/Jornal O POVO (http://blog.opovo.com.br/tecnosfera/o-internetes-e-a-sala-de-aula/#more-4625)

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