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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Quando o bloco começa na sala de aula


Por Maria Teresa Jaguaribe Alencar de Moura
Diretora da Escola Sá Pereira
Musicoterapeuta (CBM) e Mestre em Educação (PUC-Rio)
Já há alguns anos que organizamos, quando as aulas reiniciam antes do carnaval, o bloco da Sá Pereira. Aproveitamos a atmosfera de festa que envolve toda a cidade para motivar nossos alunos e suas famílias. Mas como contextualizamos essa atividade? De que forma ela se relaciona com o trabalho pedagógico da escola?
Uma das características de nossa proposta pedagógica é o trabalho desenvolvido através de projetos, o que nos permite viver uma escola alicerçada no real, aberta a múltiplas relações, onde a criança se aproxima, gradativamente, dos procedimentos de estudo e de pesquisa, observando, analisando, selecionando, relacionando, sintetizando criticamente e se apropriando de sua aprendizagem, não apenas no que diz respeito à seleção de informações pertinentes, mas também na busca de soluções adequadas para cada momento vivido. O trabalho com projetos visa a promover um processo de ensino e aprendizagem compatível com a avalanche de informações que hoje nos surpreende e, ao mesmo tempo, instiga e provoca.
Optamos por um projeto institucional anual que norteia os projetos de todas as turmas da escola. Terminamos o ano fazendo um grande debate com os alunos e seus pais sobre os assuntos que teriam relevância para serem eleitos como tema do projeto institucional do ano seguinte. Escolhido o tema, divulgamos uma primeira justificativa com alguns objetivos gerais no site da escola. Confira no site.
Os critérios de escolha do tema, além de sua relevância para a comunidade escolar, para os contextos social e histórico que nos envolvem, indicam a necessidade de ser bastante abrangente para atender a diferentes faixas etárias, de favorecer a integração entre as áreas do conhecimento, de permitir o acesso a fontes variadas e suficientes para pesquisa, para que possa ser trabalhado por todas as turmas da escola de maneira transversal e transdiciplinar.
A partir daí, nossos compositores iniciam os trabalhos, buscando criar uma letra que possa instigar a curiosidade da garotada. Dessa forma, a música que todos aprenderão a cantar traz questões, perguntas, abre caminhos de estudo e pesquisa, orientando e sugerindo diferentes formas de abordar um mesmo assunto.
“O que seria desse mundo sem as grandes invenções?” [clique aqui e ouça o samba-enredo] Assim começa o samba 2012, provocando uma série de reflexões sobre a histórias das invenções, sobre o processo criativo humano, sobre nossa responsabilidade nas transformações que provocamos no mundo.
Com esse projeto pretendemos “mostrar às crianças que é preciso convocar o homem a assumir sua responsabilidade nas relações diretas com os outros e com o meio ambiente com os quais interage produzindo cultura. Pretendemos fazê-las compreender que o contexto que faz emergir cada inovação e criação humana, assim como suas possibilidades de transformação do mundo, é resultado de ações coletivas. Com isso acreditamos favorecer uma atitude de maior comprometimento com o outro e com o planeta que nos abriga, além de ampliar o conhecimento que temos de nós mesmos e do mundo que nos cerca.”
Para escolher o samba ou a marchinha do ano, realizamos um concurso, no qual pais e alunos defendem suas composições. Publicamos também as canções no site da escola abrindo a possibilidade de votação on line. E, dessa forma, também criamos um repertório musical único e original a cada ano.
Nesse processo, envolvemos toda a comunidade escolar criando um clima de interesse, sintonia e colaboração. Os professores tentam relacionar as atividades pedagógicas com o universo do carnaval, apresentando informações sobre a história do carnaval no Brasil e no mundo, aproximando as crianças dessa manifestação cultural tão importante. Como temos incluídas no currículo da escola diversas linguagens artísticas, nessas aulas as crianças também vivenciam diferentes ritmos, danças e personagens que compõem a festa.
Ainda não temos uma bateria própria, projeto que se lança para o futuro, mas essa falta também nos traz a possibilidade de uma parceria muito valiosa com a escola de música do Spanta Neném, formada por crianças da comunidade do Dona Marta, próxima à escola, o que favorece a socialização entre nossos alunos e crianças de uma realidade social e cultural diversa que co-habitam o mesmo bairro, a mesma cidade, mas têm poucas possibilidades de um verdadeiro encontro.
O dia da festa é a maior folia! Muitos moradores do bairro se juntam a nós para dar uma volta no quarteirão atrás do carro de som e da bateria, cantando o samba que será o abre alas de um ano de muito estudo e descobertas.

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