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segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Projeto Âncora se inspira na Escola da Ponte

O modelo revolucionário da Escola da Ponte, referência mundial em educação, foi a inspiração para o Projeto Âncora – ONG em Cotia, São Paulo, com 17 anos de atuação na área social – lançar sua escola de educação básica. Assim como a portuguesa, a Escola Projeto Âncora não tem séries; alunos de 6 a 10 anos estudam juntos, desenvolvem projetos de pesquisa de acordo com suas afinidades e são orientados por professores e pedagogos.
Na escola, os alunos são colocados em contato com diferentes atividades: música, informática, esportes, circo, artes e culinária. Para se matricular, é necessário cumprir algumas exigências, como morar em um raio de até 3 km de distância da escola e ter renda familiar de até três salários mínimos – não há custo algum para os pais.
crédito Divulgação

O conhecimento é desenvolvido por meio de projetos de pesquisa. No primeiro semestre deste ano, por exemplo, um grupo de alunos escolheu estudar a escravidão africana no Brasil. A pesquisa abordou as viagens nos navios negreiros, as leis de abolição, a relação entre escravos e senhores de engenho e as heranças culturais africanas: a música, a dança, a capoeira, a culinária e a religião. Também foram pesquisados temas geográficos, como o clima africano e o brasileiro, para entender como se deu a adaptação a outro ambiente. Por fim, os estudantes fizeram paralelos com o preconceito existente até hoje contra os negros.
Quando os alunos apresentam o trabalho, eles ensinam aos colegas o que aprenderam, utilizando imagens, som, cartazes e slides. Como a busca pelo conhecimento parte das próprias crianças, de um interesse genuíno, segundo os organizadores da escola, a aprendizagem é mais eficiente e melhor absorvida.
Apoio de José Pacheco
O projeto pedagógico conta com a colaboração do educador português José Pacheco, idealizador e ex-diretor da Escola da Ponte. Pacheco começou a trabalhar com a equipe brasileira em abril de 2011. No começo deste ano, a escola iniciou suas atividades com sete educadores e 180 alunos no equivalente ao ensino fundamental I (1ª ao 5ª ano). Na educação infantil (creche), outras 52 crianças são atendidas.
crédito Divulgação

A coordenadora-geral do Projeto Âncora, Suzana Maria de Camargo Ribeiro, conta que o trabalho é uma construção coletiva e prática. “O José Pacheco é nosso parceiro e nos faz as provocações. Temos quatro horas semanais de reunião no sentido de construir a nossa forma de trabalho. A transformação acontece realmente enquanto você faz. É como ele diz, estamos embasados na lei, na teoria e na comunidade”, diz.
Em entrevista à Porvir, publicada em maio deste ano, José Pacheco mencionou a necessidade de “instituir novas e autônomas formas de organização das escolas”, mas também recuperar práticas antigas, sem cair na tentação de “clonar a escola da Ponte ou adotar modismos”. O educador, estudioso da realidade educacional brasileira, também destacou a importância de se buscar uma escola do conhecimento e abandonar um ensino meramente transmissivo.
A ONG
Criado em 1995 e localizado em um espaço de 11 mil metros quadrados, o Projeto Âncora já atendeu cerca de 5.000 crianças, em cursos profissionalizantes, artísticos e atividades de lazer. A estrutura conta com quadras de esportes, refeitórios, pista de skate, jardins e uma biblioteca com mais de 10 mil livros. Fundado pelo empresário Walter Steurer, o projeto é mantido pela iniciativa privada, com a colaboração de empresas, fundações e demais doadores.
Em uma região na qual luxuosos condomínios fechados contrastam com inúmeras favelas, o projeto busca oferecer às comunidades próximas uma educação para o exercício da cidadania de forma ativa. Para a coordenadora-geral, com a implantação da escola inicia-se um trabalho bem mais profundo. “O projeto trabalhou durante 16 anos no contraturno. Há algum tempo começamos a sentir que estávamos enxugando gelo, porque quando a criança ia para a escola, antes ou depois das aulas no projeto, parecia que todo o trabalho que a gente fazia derretia”, conta Suzana.

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