Referência em pesquisas sobre o impacto da tecnologia educacional nos processos e ambientes de ensino e aprendizagem, Betina Von Staa, doutora em linguística aplicada e estudos da linguagem, estava de malas prontas para a Pensilvânia quando conversou com o Instituto Claro dias atrás. Contou que o item mais importante da bagagem que seguiria para o ISTE 2011, conferência anual promovida nos Estados Unidos pela Sociedade Internacional para a Tecnologia na Educação, realizada entre 26 e 29 de junho, era um estudo recém-finalizado que apresentava o caso da cidade piauiense de José de Freitas.
Iniciado em 2009, o estudo, financiado pela Positivo, reforça o que educadores e instituições inovadoras vêm ecoando a partir de experiências próprias e o que pesquisas começam a afirmar com certa convicção: a tecnologia impacta positivamente na educação. “Avaliamos resultados em 11 municípios e, em todos eles, constatamos os benefícios da tecnologia para a aprendizagem.
Mas, nas escolas de José de Freitas, até então muito carentes de tecnologia e listadas entre as que apresentam Ideb baixo, uma avaliação detalhada mostrou como o dia a dia da aprendizagem foi modificado”, relata Betina. “A gente pôde observar isso porque partimos realmente do início: ensinamos os educadores a usar o mouse”, destaca.
O processo
Do mouse para a lousa digital. Da lousa digital para a coordenação de atividades em sala de aula com um laptop para cada aluno. Das atividades nos laptops já programadas em softwares disponibilizados até aquelas criadas pelos próprios educadores. Foi assim que, em dois anos, a tecnologia se espalhou pelas escolas estaduais do município piauiense e, atrelada ao currículo das instituições, ampliou - e impactou - as possibilidades de aprendizagem.
“Posso dizer, sem medo, que a nossa escola sofreu uma transformação. Não tínhamos computador nem na diretoria. Tudo o que fazíamos era na LAN house. Hoje não apenas temos recursos tecnológicos educacionais como os nossos educadores estão capacitados para lidar com essa tecnologia, e o resultado disso é que deixamos de ser vistos como escola ultrapassada, velha, com resultados defasados, e passamos a receber transferências de alunos que nos procuram por sermos uma das melhores da região”, comemora Maria do Perpétuo Socorro, diretora da Unidade Escolar Padre Sampaio. Além da “revolução”, ela acredita que a tecnologia promoveu um resgate da instituição, incluindo os professores, que voltaram a atuar com entusiasmo. As médias de português e de matemática já subiram nas séries do ensino fundamental da escola.
Sem capacitação, impacto é reduzido
As duas sessões de 40 horas de treinamento para uso dos recursos tecnológicos recebidos pelos professores de José de Freitas foram decisivas, avalia Betina. A tecnologia, por si só, não transforma. E a resistência da qual muito se fala nas escolas quando a tecnologia chega se deve ao fato de os professores não terem domínio sobre a mesma. Sem capacitação e apoio, como os professores podem fazer um planejamento de aula que inclua aqueles recursos? Estarão sempre no desconfortável papel de tentar lidar com uma ferramenta que os alunos geralmente já dominam ou estão mais próximos de dominar.
Isso porque, como afirmou a diretora Maria Perpétuo, foi possível observar que os estudantes não têm qualquer medo de acessar, manusear, mesmo quando recebem um recurso pela primeira vez. “Eles vão explorando, descobrindo, entusiasmam-se, mas não têm um foco. Esse precisa ser o papel do professor: direcionar o foco, e foi o que conseguimos”, afirma a diretora.
Do Nordeste ao Sul
Em outra realidade, o município de Matinhos, no Paraná, também observou mudanças significativas com a chegada da tecnologia educacional no primeiro semestre de 2010. Aldamara Correa, secretária municipal de Educação da cidade, diz que o investimento em tecnologia foi fruto da necessidade de ir além das aulas de informática nas escolas. “Sabíamos que seria positivo, mas não podíamos imaginar que seria tanto.” Aldamara conta que, nas oito escolas beneficiadas, é possível perceber mudança no perfil de educadores e educandos. “Cerca de 80% dos nossos docentes eram desprovidos de competências digitais, e hoje estão capacitados e atuando com a tecnologia em sala de aula”, afirma. Os alunos, por sua vez, estão mais protagonistas. Criam conteúdos para serem apresentados em formatos digitais nas aulas e se envolvem mais na escola e fora dela com os conteúdos curriculares. Tudo isso em uma nova dinâmica: “Hoje não temos laboratório de informática, temos a tecnologia nas salas, inseridas nas atividades do dia a dia dos professores”, explica, para deleite dos educadores inovadores que defendem que a tecnologia precisa fazer parte da escola de forma transversal, e não estar trancafiada em alguma sala empoeirada.
Fonte: Instituto Claro / Giulliana Bianconi Fotos: Positivo 01/07/2011
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