Por Mary Grace - Blog das Editoras Ática e Scipione
Ainda que as crianças e jovens com menos de dezoito anos não sejam oficialmente autorizados a participar da maior parte das redes sociais, conforme as regras e particularidades previstas por cada uma delas, todos nós sabemos o quanto eles estão presentes em canais como Twitter, Orkut e Facebook.
Alguns são incentivados pelos próprios familiares, enquanto outros descobrem os caminhos por conta própria e administram suas contas da mesma forma: sem que os pais saibam ao certo quantas e quais interações seus filhos produzem.
Há cada vez mais escolas preocupadas com este fato. Não é de hoje que educadores decidem aderir às redes sociais e acabam se deparando com comunidades ora homenageando sua didática, ora criticando…
Há cada vez mais escolas preocupadas com este fato. Não é de hoje que educadores decidem aderir às redes sociais e acabam se deparando com comunidades ora homenageando sua didática, ora criticando…
Os mais “antenados” buscam aproveitar o clima de descontração dessas redes, aproximam-se dos alunos e fazem delas uma ferramenta para conhecê-los melhor. Já outros questionam a falta de privacidade e se sentem pouco à vontade em compartilhar passagens de sua vida. Os jovens costumam se expor mesmo, mas os adultos deveriam, em tese, ter maior controle a respeito disto.
O fato é que os alunos estão cada vez mais presentes nesses ambientes virtuais. Por isto, é preciso lembrar que, embora não saibam tudo a respeito de como lidar com a exposição da intimidade, cyberbullying e questões afins, temos muito o que aprender com eles, sobretudo se observarmos seu comportamento em rede.
O fato é que os alunos estão cada vez mais presentes nesses ambientes virtuais. Por isto, é preciso lembrar que, embora não saibam tudo a respeito de como lidar com a exposição da intimidade, cyberbullying e questões afins, temos muito o que aprender com eles, sobretudo se observarmos seu comportamento em rede.
Recentemente, o jornal Folha de São Paulo publicou uma
reportagem em que relatava que algumas escolas estão acompanhando e até fiscalizando o que os alunos realizam na rede. Na prática, além das questões relacionadas ao bullying, a maior preocupação de algumas delas é a sua própria imagem institucional, ou seja, se o que os alunos publicam a respeito do dia a dia escolar e de seus professores arranha a visão da instituição perante os outros.Porém, se a preocupação for apenas essa, o máximo que a escola conseguirá fazer é punir os alunos a cada vez que houver um comentário que desagrade à gestão, sem efetivamente resolver o problema. Cabe analisar se estes alunos estão se sentindo à vontade para fazer críticas ou para serem “ouvidos” apenas nas redes sociais. Se isto acontece, teremos indícios de que provavelmente faltam na escola outras oportunidades de compreensão sobre como os alunos pensam e as razões pelas quais agem de determinada maneira.
A nova geração percebe cada vez mais a agilidade de participação e mobilização dos canais virtuais. Assim, ao invés de acompanharmos as redes sociais apenas com a intenção de “encontrar coisa errada”, cabe observarmos o comportamento desses jovens, como e o que comunicam, para de fato desenvolvermos projetos que explorem mais as suas potencialidades.
Quer um exemplo?
Em 2007, a escritora britânica J. K. Rowling, autora de Harry Potter, anunciou que a tradução para o português de um dos títulos da série levaria três meses para ser lançado. Uma garota de quatorze anos, indignada com a demora e ansiosa para ler a história e para compartilhá-la com os amigos,
liderou uma comunidade no Orkut que traduziu o livro em menos de dez dias.Em 2007, a escritora britânica J. K. Rowling, autora de Harry Potter, anunciou que a tradução para o português de um dos títulos da série levaria três meses para ser lançado. Uma garota de quatorze anos, indignada com a demora e ansiosa para ler a história e para compartilhá-la com os amigos,
Parte da imprensa questionou a garota e seus pais pelo fato de ela ter realizado uma ação “ilegal”, mas os jovens do grupo não entendiam como poderia ser ilegal a intenção de compartilhar uma leitura com milhares de outros interessados, considerando que todos comprariam o livro original – inclusive para comparar a tradução.
Na comunidade virtual, eles questionavam também como poderiam ser criticados por disseminar a leitura, já que os adultos vivem dizendo que os jovens não gostam de ler. Fora isso, lamentavam as críticas dos jornais que questionavam erros de tradução, sendo que havia realmente jovens que estavam aprendendo inglês durante o processo e isso era muito bacana para o grupo. Diziam, ainda, que não concordavam com todas as traduções oficiais.
Na época, participei dessa comunidade ativamente para entender a motivação daqueles jovens em traduzir um livro. Fiquei realmente surpresa com a capacidade de colaboração e mobilização deles. Lembro-me que planejavam desenvolver uma versão em áudio, voltada para pessoas com deficiência visual, e discutiam para tanto como o personagem teria a mesma voz do início ao fim – algo muito mais trabalhoso se comparado ao processo de tradução realizado anteriormente. Esta experiência e muitas outras – como a dos alunos que compartilhavam os resultados de exercícios pela internet – nos ajudam a perceber como pensa essa geração.
Ainda que a tendência seja olhar sempre o que está errado, está mais do que na hora de pensarmos em como mudar as propostas que apresentamos aos alunos. É preciso realmente aproveitar sua vontade natural de colaborar, interagir e produzir algo significativo. Não faz mais sentido que continuem produzindo apenas atividades para serem entregues e corrigidas por um professor, ou atividades iguais para todos os alunos, de modo que se sintam apenas mais um número em sala de aula.
É preciso promover projetos que realmente tenham sentido social para ele, que tenham orgulho de mostrar e compartilhar com os amigos, como a produção de um vídeo, uma paródia, um programa de rádio ou audiocast, um jornal a ser lido por outros alunos, um blog… Enfim, tudo aquilo que costuma acontecer fora da escola.
Pensando assim, as escolas não precisarão vigiar os alunos, buscando o que eles deverão apagar ou pensando em formas de puni-los. O trabalho será garimpar o que existe de mais interessante para tornar a educação mais significativa. Cada vez melhor divulgada, ela ampliará as possibilidades de outras escolas.
Obs: Em tempo: Deixo uma dica: professores e pais interessados em promover uma discussão sobre uso seguro da internet agora podem contar com o
game Galáxia Internet, disponível aqui.Fonte: Blogs da Ática e Scipione 01/07/2011
Imagino que a forma como se vê o mundo tem que mudar! As ações de hoje não reuqerem vigilância, mas sim reflexão. Parabéns pelo texto!
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