Por Marcus Tavares - RevistaPontoCom
Os pontos de vista de grandes nomes da Educação e do trabalho, como Gaudêncio Frigotto, Pablo Gentili, Antonio Nóvoa, Jurjo Santomé, Hésio Cordeiro, Ricardo Antunes, Juana Sancho, Nilda Alves, Sonia Kramer, Célia Linhares, Peter Mc Laren, Dominique Colinvaux e Miguel Arroyo, que por dois anos povoaram as edições dominicais do Jornal do Brasil, no caderno Educação & Trabalho, tornaram-se fonte de uma análise minuciosa do cenário da virada do século XX para o XXI. Análise minuciosa que deu origem ao livro Educação & Trabalho – O papel da escola e a qualificação para o mercado (Editora Vieira & Lent) .
A autora, a jornalista e professora Eliane Bardanachvili, que também foi uma das editoras do antigo caderno do JB, explica que a obra tem como ponto de partida as 104 entrevistas publicadas pelo caderno, que circulou aos domingos, de 1999 a 2001.
Com apresentações da educadora Maria Ciavatta Franco e da jornalista Ana Lagôa, o livro traz à tona grandes questões envolvendo o papel da escola, seus limites e possibilidades frente às profundas mudanças enfrentadas em todas as esferas da sociedade, em um importante período de transição, ao mesmo tempo em que discute a mediação do jornal na circulação da informação.
A revistapontocom conversou com a professora sobre a obra, que será lançada, no Rio, no dia 26 de outubro, às 18 horas, na Casa da Ciência da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em Botafogo, Zona Sul da cidade.
Acompanhe:
revistapontocom – De onde surgiu a ideia de escrever o livro?
Eliane Bardanachvili - O livro deriva de minha dissertação de mestrado, defendia em 2009, no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRJ. Em contato casual com a editora Vieira & Lent, com quem já havíamos cogitado transformar em livro as entrevistas do caderno Educação & Trabalho do Jornal do Brasil, que circulou de 1999 a 2001 e que é o material de pesquisa do livro, houve interesse pelo trabalho e por sua publicação.
Eliane Bardanachvili - O livro deriva de minha dissertação de mestrado, defendia em 2009, no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRJ. Em contato casual com a editora Vieira & Lent, com quem já havíamos cogitado transformar em livro as entrevistas do caderno Educação & Trabalho do Jornal do Brasil, que circulou de 1999 a 2001 e que é o material de pesquisa do livro, houve interesse pelo trabalho e por sua publicação.
revistapontocom – O que o público vai encontrar na obra?
Eliane Bardanachvili – O livro procura trazer à tona duas discussões. Uma relativa aos meandros da produção jornalística, olhando analítica e criticamente para a informação que circula de forma mediada, no caso, pelo jornal impresso. Essa primeira vertente, na verdade, busca fornecer subsídios para que se mergulhe na segunda vertente, que é destacada no título do livro, relativa ao papel da escola e à formação para o mercado de trabalho na virada do século XX para o XXI. Para fazer essa discussão, tomo como ponto de partida uma produção jornalística, as 104 entrevistas publicadas no caderno mencionado, do saudoso Jornal do Brasil impresso. As falas dos entrevistados são um material riquíssimo de análise. Ali estão presentes as diferentes posições políticas em jogo no período analisado, pontos de interseção, embates, contradições, olhares que se modificam de acordo com o lugar do qual cada entrevistado se apresenta, enfim, pequenas e grandes pistas que podem ser lidas nas linhas e nas entrelinhas dessas falas – e é esse o trabalho que desenvolvo. As entrevistas foram organizadas em quadros temáticos e, a partir dessa organização, e com base na literatura disponível sobre a temática educação e trabalho, são definidas questões envolvendo esse cenário. Creio que o público encontrará nas páginas um encapsulado das grandes questões da educação, do período analisado e também dos dias de hoje, uma vez que os desafios ali flagrados se mantêm. De alguma forma, as grandes questões estão todas ali, em uma só obra, em um só lugar, o que pode servir de roteiro para mergulhos futuros em uma ou outra temática.
Eliane Bardanachvili – O livro procura trazer à tona duas discussões. Uma relativa aos meandros da produção jornalística, olhando analítica e criticamente para a informação que circula de forma mediada, no caso, pelo jornal impresso. Essa primeira vertente, na verdade, busca fornecer subsídios para que se mergulhe na segunda vertente, que é destacada no título do livro, relativa ao papel da escola e à formação para o mercado de trabalho na virada do século XX para o XXI. Para fazer essa discussão, tomo como ponto de partida uma produção jornalística, as 104 entrevistas publicadas no caderno mencionado, do saudoso Jornal do Brasil impresso. As falas dos entrevistados são um material riquíssimo de análise. Ali estão presentes as diferentes posições políticas em jogo no período analisado, pontos de interseção, embates, contradições, olhares que se modificam de acordo com o lugar do qual cada entrevistado se apresenta, enfim, pequenas e grandes pistas que podem ser lidas nas linhas e nas entrelinhas dessas falas – e é esse o trabalho que desenvolvo. As entrevistas foram organizadas em quadros temáticos e, a partir dessa organização, e com base na literatura disponível sobre a temática educação e trabalho, são definidas questões envolvendo esse cenário. Creio que o público encontrará nas páginas um encapsulado das grandes questões da educação, do período analisado e também dos dias de hoje, uma vez que os desafios ali flagrados se mantêm. De alguma forma, as grandes questões estão todas ali, em uma só obra, em um só lugar, o que pode servir de roteiro para mergulhos futuros em uma ou outra temática.
Leia na íntegra as entrevistas do caderno Educação & Trabalho no hot site de lançamento do livro
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revistapontocom – Por que resgatar o caderno do JB?
Eliane Bardanachvili – Esse caderno, embora tenha durado apenas pouco mais de dois anos, teve uma grande repercussão junto a um público específico que se tornou leitor fiel das entrevistas que eram o carro-chefe da publicação. Eu e a jornalista Ana Lagôa, que concebeu o caderno e foi sua primeira editora, tivemos muitas demonstrações dessa relação positiva dos leitores com as entrevistas, mesmo muito tempo depois de o caderno ter deixado de circular. Muitos colecionavam e guardam suas coleções até hoje, eram vários os e-mails que chegavam à redação com elogios e foram tantos outros os que chegaram para protestar quando o caderno chegou ao fim. Assim, esse era um material que merecia ser visitado, pesquisado. Eu tinha condição de fazer isso, também do ponto de vista prático, uma vez que tinha em mãos as entrevistas todas digitalizadas. E vivi uma experiência ímpar de mergulhar como pesquisadora e um material jornalístico que eu mesma – ainda que em parte – havia produzido.
Eliane Bardanachvili – Esse caderno, embora tenha durado apenas pouco mais de dois anos, teve uma grande repercussão junto a um público específico que se tornou leitor fiel das entrevistas que eram o carro-chefe da publicação. Eu e a jornalista Ana Lagôa, que concebeu o caderno e foi sua primeira editora, tivemos muitas demonstrações dessa relação positiva dos leitores com as entrevistas, mesmo muito tempo depois de o caderno ter deixado de circular. Muitos colecionavam e guardam suas coleções até hoje, eram vários os e-mails que chegavam à redação com elogios e foram tantos outros os que chegaram para protestar quando o caderno chegou ao fim. Assim, esse era um material que merecia ser visitado, pesquisado. Eu tinha condição de fazer isso, também do ponto de vista prático, uma vez que tinha em mãos as entrevistas todas digitalizadas. E vivi uma experiência ímpar de mergulhar como pesquisadora e um material jornalístico que eu mesma – ainda que em parte – havia produzido.
revistapontocom – Por que o caderno fez tanto sucesso? Afinal, qual era o objetivo e a importância dele?
Eliane Bardanachvili – O caderno representou um exemplo de tratamento jornalístico do tema Educação para além dos clichês a que estamos habituados, que são os cadernos de vestibular (e, agora, do Enem…), as receitas para se encontrar um lugar ao sol no mercado de trabalho, as dicas para encontrar a melhor escola para os filhos etc. O caderno trazia o tema da Educação para um debate consistente, com pessoas que estavam até então restritas a seus nichos e fora do alcance do grande público. Dentro do jornal, no entanto, passado o período de nascimento do caderno – que se deveu à visão da Ana Lagôa e ao assentimento e compreensão do então editor da época – o caderno acabou sobrevivendo por mais um ano e pouco, mais pela inércia do que pelo desejo e pela orientação dos editores seguintes. Isso nos mostra como a cobertura de Educação não faz parte da estrutura da redação, estando mais associada a entradas pontuais nas equipes de jornalistas interessados no tema.
Eliane Bardanachvili – O caderno representou um exemplo de tratamento jornalístico do tema Educação para além dos clichês a que estamos habituados, que são os cadernos de vestibular (e, agora, do Enem…), as receitas para se encontrar um lugar ao sol no mercado de trabalho, as dicas para encontrar a melhor escola para os filhos etc. O caderno trazia o tema da Educação para um debate consistente, com pessoas que estavam até então restritas a seus nichos e fora do alcance do grande público. Dentro do jornal, no entanto, passado o período de nascimento do caderno – que se deveu à visão da Ana Lagôa e ao assentimento e compreensão do então editor da época – o caderno acabou sobrevivendo por mais um ano e pouco, mais pela inércia do que pelo desejo e pela orientação dos editores seguintes. Isso nos mostra como a cobertura de Educação não faz parte da estrutura da redação, estando mais associada a entradas pontuais nas equipes de jornalistas interessados no tema.
revistapontocom – Passados todos estes anos, que relação se estabelece hoje entre educação e trabalho? Essa relação é a mesma das décadas anteriores ou mudou? Em que mudou?
Eliane Bardanachvili – Esta é uma pergunta que gerava polêmica na época e continua a admitir uma diversidade de respostas hoje. No livro, é analisada essa dicotomia entre a educação e a formação como algo instrumental, voltado às demandas do mercado, e a educação como algo estrutural, que oferece a régua e o compasso para que se transite não só por esse mercado, mas por esse mundo em transformação.
Eliane Bardanachvili – Esta é uma pergunta que gerava polêmica na época e continua a admitir uma diversidade de respostas hoje. No livro, é analisada essa dicotomia entre a educação e a formação como algo instrumental, voltado às demandas do mercado, e a educação como algo estrutural, que oferece a régua e o compasso para que se transite não só por esse mercado, mas por esse mundo em transformação.
revistapontocom – Ao publicar o livro, qual é a sua intenção?
Eliane Bardanachvili – A ideia de tornar público e perene um estudo que empreendemos sempre é atraente e fascinante. Apenas sob a forma de dissertação, creio que a pesquisa ficaria mais restrita a um determinado nicho. Em um livro, com as devidas adaptações para aproximar o texto do grande público e aliviá-lo da linguagem eminentemente acadêmica, o debate pode alçar novos voos. Desta forma, quem sabe, o livro cumpre o mesmo papel que cumpriram as entrevistas do caderno Educação & Trabalho do JB: oferecer a um grande número de pessoas acesso a um importante debate, que pode orientar na compreensão de uma realidade que ainda hoje nos desafia.
Fonte: RevistaPontoCom
Eliane Bardanachvili – A ideia de tornar público e perene um estudo que empreendemos sempre é atraente e fascinante. Apenas sob a forma de dissertação, creio que a pesquisa ficaria mais restrita a um determinado nicho. Em um livro, com as devidas adaptações para aproximar o texto do grande público e aliviá-lo da linguagem eminentemente acadêmica, o debate pode alçar novos voos. Desta forma, quem sabe, o livro cumpre o mesmo papel que cumpriram as entrevistas do caderno Educação & Trabalho do JB: oferecer a um grande número de pessoas acesso a um importante debate, que pode orientar na compreensão de uma realidade que ainda hoje nos desafia.
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