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segunda-feira, 30 de julho de 2012

Bienal de Artes de São Paulo aposta na formação de educadores para aproximar estudantes



A curadora educacional da 30ª Bienal de Artes de São Paulo, Stela Barbieri (foto), acredita que os professores podem desempenhar um papel fundamental na experiência de visitação dos alunos à mostra. “Um professor que estimula seus alunos a perceber e a observar o cotidiano, o que os cerca, sem dúvida os ajuda a trazer questões que serão discutidas nas visitas e seu trabalho é fundamental”, defende.
Às vésperas da abertura da 30ª Bienal de Artes de São Paulo, que ocorrerá entre 7 de setembro e 9 de dezembro, em São Paulo, Stela concedeu uma entrevista ao Portal Aprendiz sobre o trabalho que vem sendo desenvolvido ao longo do ano com educadores sociais e da rede pública de ensino. Ao todo, mais de 5 mil pessoas já passaram pelos chamados “Encontos de Formação”.
Diante do desafio de aproximar professores, estudantes e o público em geral da Arte Contemporânea, Stela – que atua na arte educação há mais de 20 anos -, aposta também na formação dos educadores responsáveis pelo atendimento ao público. O curso de formação, iniciado em maio, desenvolve-se, segundo ela, em três etapas, que incluem desde estudos de arte e filosofia, visitas a outras instituições, até um trabalho mais focado nas obras que estarão expostas na própria Bienal.
“O educador [da Bienal] é orientado a ter uma escuta atenta às experiências e observações e a criar uma conversa viva com o público e a obra, ampliando a percepção de todos os participantes”. E para sanar qualquer dúvida a respeito da importância de se frequentar um museu ou uma exposição de arte, a curadora não deixa dúvidas: “Nada como o encontro cara a cara com a obra”.
Portal Aprendiz – Quais as principais características do trabalho educativo da Bienal de São Paulo? Qual formação os educadores/mediadores recebem?
Stela Barbieri – No Educativo Bienal temos várias ações que tratam de arte contemporânea para professores, estudantes, educadores e públicos em geral. Nossa intenção é estar em contato vivo, estabelecer um diálogo aberto com professores, educadores sociais, agentes comunitários, crianças, estudantes de todas as idades e todas as pessoas que quiserem conversar conosco. Nós temos como fundamentos o Encontro, o Diálogo e a Experiência. Acreditamos na experiência como algo singular, como uma possibilidade que garanta o diálogo.
Na 30ª edição, o curso de formação para os educadores dialoga com as experiências que tivemos na 29ª e na exposição “Em Nome dos Artistas”, e avançamos para uma maior qualidade do curso. O curso é voltado para educadores estagiários (estudantes de graduação da área de humanas, artes visuais, história, pedagogia, etc) e tem três etapas: a primeira, que começou em maio e vai até o fim de junho, inclui estudos gerais sobre arte, filosofia, visitas a outras instituições culturais, visitas às comunidades, escolas e ONGs, estudo sobre a exposição, sobre os artistas, sobre a proposta curatorial e diálogos com a arte e leitura de arte.
Na primeira fase, os cerca de 200 educadores estagiários foram divididos em subgrupos de aproximadamente 15 pessoas. Cada grupo possui um supervisor que, em parceria com a coordenação do Educativo Bienal, organiza as ações, os estudos, as visitas às instituições e a programação que esse grupo vai realizar. Mas, como cada mostra possui um motivo, no caso da 30ª Bienal – “A iminência das poéticas” -,os conceitos são sempre diferentes de uma exposição para outra. As leituras, os pensadores que norteiam o trabalho mudam. Este ano estamos estudando a relação das imagens e das palavras. Agora, no fim dessa primeira etapa, serão selecionados cerca de 100 educadores que vão continuar o curso em agosto, após as férias.
A segunda etapa será realizada no mês de agosto quando esses 100 educadores estagiários retornam e serão contratados mais 50 educadores, já formados e com experiência em mediação. Essa segunda fase será apenas voltada para o estudo dos artistas e obras da 30ª.
Já na terceira fase, que começa em setembro e vai até 9 de dezembro, é a exposição propriamente dita. Esses educadores são responsáveis por receber os grupos desde a área externa da Bienal e realizar as visitas orientadas que foram agendadas previamente através da empresa Diverte Cultural.
Aprendiz – Quais as principais diferenças e características da abordagem entre o atendimento do público espontâneo, dos professores, e dos alunos de escola no educativo da Bienal?
Stela - Vários aspectos são levados em conta para o tipo de recorte ou o roteiro que será realizado na visita: a faixa etária do grupo, o interesse ou a proposta que o professor/educador traz com seu grupo, ou mesmo a própria percepção do educador da Bienal que, em uma conversa prévia e lançando mão de sua sensibilidade, desenha um roteiro por obras que possam estabelecer diálogos ou provocar reflexões naquele grupo. Cada visita vai durar cerca de uma hora e meia.
Durante a exposição, a diferença é que o público espontâneo realiza a visita sem agendamento prévio. Nós disponibilizamos educadores de hora em hora para acompanhar as pessoas que chegam individualmente ou em duplas, trios etc, e também reunimos um grupo na hora, mas os recortes na exposição dependem dessa conversa prévia antes do grupo adentrar o espaço.
O educador é orientado a ter uma escuta atenta às experiências e observações do público. E a criar uma conversa viva com o público e a obra, ampliando a percepção de todos os participantes.
Aprendiz – Como surgem os modelos adequados de visita mediada para a próxima Bienal?
Stela - O modelo que seguimos é o diálogo, é a escuta e a voz em movimento. O modelo ideal é que os educadores, a nossa equipe e também o público que visita a exposição esteja aberto para ouvir e também para propor relações, para trocar informações, experiências, sensações. Nem sempre o diálogo acontece, como em todas as relações humanas, mas a nossa intenção é sempre essa. E a experiência nem sempre precisa ser boa, às vezes um incômodo pode gerar uma aprendizagem ainda mais rica.
Aprendiz – Qual o papel do professor durante a visita?
Stela - O papel do professor é fundamental, ele é o nosso grande parceiro nessa conversa. Nós percebemos que, no caso de um professor que já participou dos nossos cursos de formação, que já trabalhou os conceitos e alguns artistas com seus alunos, o grupo traz questionamentos profundos e a experiência na exposição pode ter mais significado em suas vidas. O professor é um irradiador, é ele que está no dia a dia acompanhando o aprendizado e desenvolvimento desses alunos. Um professor que estimula seus alunos a perceber e a observar o cotidiano, o que os cerca, sem dúvida os ajuda a trazer questões que serão discutidas nas visitas e seu trabalho é fundamental
Aprendiz – Quais atividades o educativo da Bienal tem desenvolvido com professores da educação básica com foco na aprendizagem e ensino da arte contemporânea? O educativo da Bienal realiza outras atividades com as escolas além das visitas?
Stela – O objetivo do Educativo Bienal é realizar encontros com conversas sobre a vida e a Arte Contemporânea, onde possa haver transformação através do diálogo e da experiência prática. Eu trabalho com crianças há mais de 20 anos e sei o quanto é importante o trabalho dos professores da Educação Infantil.  Entre os meses de abril e setembro do ano passado, a educadora Marina Pecci e eu desenvolvemos um trabalho intensivo com professores de Educação Infantil da rede municipal de Araraquara.  Foram propostas práticas, exercícios de percepção, de estímulo do olhar do professor, mas também voltados para como esses professores podem trabalhar a arte contemporânea em sala de aula com crianças pequenas.
A visita à Bienal geralmente é recomendada a partir dos seis anos, mas o Educativo desenvolve no período que antecede a exposição, ou seja, entre janeiro e agosto, os Encontros de Formação em Arte Contemporânea, que podem ser pontuais ou continuados, e que recebem professores de todos os segmentos. Além disso, desenvolvemos também um Material Educativo que possibilita que o trabalho do professor continue em sala de aula. Esse ano vamos ter uma versão online do Jogo Educativo, em que cada participante poderá criar uma constelação, que é o conceito que envolve a 30ª Bienal.
Quanto aos Encontros de Formação, esse ano já foram realizados aproximadamente 5 mil atendimentos para professores, educadores sociais, jornalistas e público em geral. Vamos realizar também em parceria com a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, pelo terceiro ano consecutivo, o curso a distância “Tão Perto Tão Longe III”, que é um curso de arte contemporânea com 30 horas de duração, sendo 24 horas a distância, através de plataformas online e seis horas presenciais durante a exposição. Esse curso é voltado para professores de arte do Estado.
Aprendiz – É comum as pessoas voltarem para mais de uma visita? Como um Educativo pode contribuir para a formação de público?
Stela – Muitos dos professores que conhecem o trabalho do Educativo fazem os cursos
conosco, participam também das nossas ações e da programação durante a exposição, assim como também é comum trazerem mais de um grupo para as visitas.
Aprendiz – Em debate realizado em abril/2012 no Itaú Cultural, Ana Mae Barbosa (referência na arte educação) declarou que “as pessoas não querem entrar em um museu para não serem confrontadas com a sua ignorância”. Como transformar a resistência aos lugares institucionalizados da arte?
Stela -Muitas vezes, quando nos damos conta da nossa ignorância, nos mobilizamos no caminho do encontro ao conhecimento. Mas as instituições culturais, em muitos momentos, são pouco acolhedoras para aqueles que não conhecem arte. Estas instituições têm se transformado e cada vez mais vemos uma abertura das pessoas que trabalham nesse meio para os mais variados públicos. Percebo que essa é uma tendência em desenvolvimento.
Aprendiz – Mediante as transformações recentes na circulação da informação, por que visitar um museu ou uma exposição de arte ainda é significativo?
Stela – Porque nada como o encontro cara a cara com a obra. Podemos ter visto um milhão de vezes a escultura Davi, de Michelangelo, em fotos, revistas, livros, filmes, mas nada como ver com os próprios olhos, observar. A relação com as obras é diferente e no espaço expositivo também. Uma mesma obra toma outro significado de acordo com o local em que está. Na 29ª Bienal tivemos uma experiência muito singular com a itinerância, pois grande parte das obras que estavam no Pavilhão participaram da “29ª Bienal – Obras Selecionadas”, que percorreu 12 cidades e 15 locais diferentes. Algumas obras tomaram outra proporção na montagem em outros locais. Nós temos uma pergunta no Material Educativo da 30ª que é a “Uma coisa é outra coisa quando muda de lugar”, e eu acredito que isso cabe muito à arte.


Fonte: http://portal.aprendiz.uol.com.br/2012/07/26/bienal-de-artes-de-sao-paulo-aposta-na-formacao-de-educadores-para-aproximar-estudantes/ Flávio Aquistapace - 26/07/12

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