Compartilhamos abaixo matéria do Caderno Escola, do jornal Tribuna do Planalto (GO).
Câmeras, aparelhos de DVD, televisões. Será que equipamentos tão simples podem realmente mudar a realidade de crianças e adolescentes carentes? Tese de doutorado e experiências goianas mostram que sim!
Nos últimos anos tem surgido no Brasil dezenas de programas de organizações não-governamentais (OnGs) e universidades que trabalham com projetos de audiovisual nas escolas.Cerca de 80% deles são desenvolvidos sob a ótica da Educação Audiovisual Popular e chegam como um fôlego a mais para o incentivo ao aprendizado dos jovens que, muitas vezes, são privados do mínimo necessário.
Hoje uma das grandes colaboradoras neste processo de levar o audiovisual às escolas é a cineasta e professora Moira Toledo. Em 2000, ela foi convidada a ministrar uma oficina de vídeo para alunos da periferia do Rio de Janeiro e, de lá para cá, tem se dedicado ao processo de "alfabetizar cinematograficamente" jovens de baixa renda."Com o tempo passei a perceber que o pior aluno da sala para os outros professores, era meu melhor aluno", afirmou a cineasta em uma entrevista à Univest TV.
Moira credita esta particularidade ao fato de que, com o cinema, os jovens têm a chance de utilizar seus diferentes tipos de inteligência, de forma que cada um se destaque em uma área distinta.
E a ideia das oficinas não é simplesmente ensinar cinema, mas trabalhar mecanismos que possibilitem ao estudante aprender uma gama de conhecimentos que possa servir vida afora. "Ao final das oficinas os alunos sempre saem mais tolerantes e com mais capacidade de ouvir", revela.
Isto porque tudo no cinema é feito em conjunto. Tanto diretores, quanto figurinistas, roteiristas e os outros agentes das produções precisam estar numa mesma sintonia e trabalhando juntos para que a obra seja bem sucedida. E trabalhar nesta linha de pensamento é o que tem ajudado na formação dos jovens.
Em Goiás, um grupo de estudantes da Faculdade de Comunicação Social e Biblioteconomia da Universidade Federal de Goiás (UFG) tem se destacado por levar o audiovisual tanto às escolas carentes quanto às comunidades indígenas e a grupos socialmente excluídos."O projeto de extensão Coletivo Magnífica Mundi hoje funciona como um grande núcleo articulador de diálogos e construções que trabalham a comunicação como mobilizadora social", afirma Bruno Fiorese, estudante de Jornalismo e membro do Coletivo.
Visão restrita
Entre as ações que fazem parte do projeto está a realização de oficinas de cinema e vídeo em escolas. Segundo Fiorese, estas oficinas são de grande importância já que possibilitam aos jovens e às crianças contarem suas próprias histórias e serem criadores de conteúdo.
Na opinião dele, os "velhos métodos pedagógicos já não conseguem abarcar toda a possibilidade criativa do jovem e, por isso, ferramentas como o audiovisual devem ser usadas para complementar o cotidiano na sala de aula. Essa é a mudança crucial que a escola deve acolher ao seu planejamento pedagógico", completa o estudante.
No Brasil, a compreensão da importância da Educação Audiovisual ainda é muito restrita. Muitas vezes o professor usa o vídeo apenas para ilustrar algum conteúdo já ensinado ou, o que é pior, a escola recorre a ele apenas como 'tapa-buracos' na ocorrência de algum imprevisto.
Na maioria dos casos, esta ferramenta tão importante e valiosa é subutilizada por falta de formação dos educadores. "Não é suficiente que o professor saiba operar os equipamentos. É necessário que ele tenha acesso às pesquisas e às teorias da didática e da comunicação que podem fornecer elementos que fundamentam a integração dos instrumentos midiáticos à prática pedagógica", afirma a professora do mestrado em Educação da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC), Joana Peixoto.
Imagens que nada dizem
Em Goiás, um projeto que tem contribuído para a qualificação dos professores para o uso do vídeo no âmbito escolar vem sendo realizado pela locadora Cara Vídeo desde 2001. Centenas de educadores já passaram pelas oficinas do Clube do Professor.
Sócio da Cara Vídeo, Sérgio Bernar-doni, destaca que o "vídeo só é interessante quando bem utilizado. De imagens gratuitas, os estudantes já estão cheios", afirma.
Ele ressalta ainda que não é fácil convencer os professores de que o audiovisual é uma boa alternativa porque muitos deles têm cargas horárias pesadas e o processo de preparar uma aula com vídeos é trabalhoso.Dentro da proposta do Clube do Professor estão reuniões mensais que auxiliam o professor a perceber as oportunidades de reflexão, de estudo e de criatividade que um filme pode oferecer.
Filmes de graça
Por meio da iniciativa, o educador entra em contato com as novas possibilidades e as apresenta a seus alunos. E como incentivo, pode contar com o acesso gratuito aos mais de 700 títulos que compõem o acervo da locadora. Basta ser membro do Clube.
E os estudantes, a partir de filmes bem selecionados e de discussões bem conduzidas, acabam por enriquecer sua visão de mundo e compreender melhor os temas teóricos.Sob o ponto de vista da coordenadora pedagógica do Centro Cultural Cara Vídeo, professora Vera Bergerot, "o mais importante é desenvolver o olhar crítico do estudante, hoje tão sufocado pela opinião massificada".
Com o intuito de buscar alternativas educacionais que interessassem e motivassem as crianças, a coordenadora do Centro Municipal de Educação Infantil Sara e Rebeca (CMEI), Iza Karla de Oliveira Martins, procurou o Clube do Professor.
A coordenadora e algumas funcionárias da instituição passaram pelo curso de formação e, após as aulas, a equipe do CMEI montou uma programação semanal de filmes para cada sala de aula.
Segundo a coordenadora, agora ela é capaz de identificar a maneira mais eficaz na escolha de um vídeo, o tempo ideal para assistirem, eventuais cortes e as possíveis discussões que a obra pode gerar.E as crianças têm aproveitado bastante esta nova atividade. "O trabalho ganhou melhor significação no contexto das atividades, pois passamos a utilizar os filmes da forma correta. E já agendamos outro curso no Clube", completa.
Mais de 3 mil produções jovens
No ano passado, Moira Toledo defendeu a tese de doutorado Educação Audiovisual Popular no Brasil: Panorama, 1990-2009. De acordo com o estudo, existem 113 entidades no Brasil que desenvolvem projetos audiovisuais: 76,5% na região Sudeste e 33,5% nas demais regiões.
Nos últimos 20 anos foram realizadas ao menos 3.300 produções audiovisuais de curta e média-metragem, a maior parte, por jovens da periferia.
Tela Brasil
Já existem na internet sites criados com o objetivo de ajudar o professor a desenvolver o senso crítico com relação aos filmes. Alguns deles sugerem títulos para cada faixa etária e destrincham tudo da obra, desde a ficha técnica até aos temas da atualidade que poderão ser abordados com os alunos.
O portal Tela Brasil oferece aos educadores, inclusive, oficinas virtuais de direção, documentário, entre outras.
Fonte: Tribuna do Planalto/ Núbia Rodrigues
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