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terça-feira, 10 de agosto de 2010

A telenovela na aula

Por Luís Fernando Ferreira de Araújo (*)
Revista Ensino Superior 142

Ao considerar a telenovela como um instrumento de educação, deve-se levar em conta a especificidade desse fenômeno, voltando-se à forma de tratamento da mensagem e não à mensagem propriamente dita. Sendo um produto da sociedade na qual se apresenta, por ser produzida por esta sociedade, a telenovela revela como tal sociedade se organiza, quais seus valores e costumes.

Tradicionalmente, os brasileiros têm maior identidade com a comunicação oral e visual, consequência dos longos processos de alfabetização e da falta de estímulo à leitura.

Por meio dos apelos das telenovelas - referimo-nos aos recursos visuais e tecnológicos - o educador poderá observar um maior interesse por parte dos estudantes. O uso da telenovela permite que os conteúdos cheguem de uma maneira muito mais familiar aos alunos, de modo a sentirem mais conforto em olhar para os novos conhecimentos por meio desses filtros, que lhes são tão seguros.

Os tempos mudaram e as linguagens também. Assim, a comunicação em sala de aula precisa ser aperfeiçoada. Os jovens, atualmente, estão muito mais familiarizados com os recursos tecnológicos, isso já está incorporado em sua linguagem.

O discurso pedagógico deve considerar a telenovela um diálogo crítico, e ao mesmo tempo reconhecer as possibilidades operacionais que se abrem para a escola com o aprendizado sobre esse gênero televisivo.

A telenovela é um meio de comunicação, um elemento de influência para a avaliação da história e dos personagens. Também projeta no telespectador a fantasia e o imaginário. A linguagem da telenovela é simples, despojada, concreta, possibilitando ao telespectador acompanhá-la sem maior esforço de entendimento. O ritmo é acelerado, baseia-se na ação, por isso a telenovela é uma narrativa de ação. Constitui-se, assim, uma ferramenta da educação, ou melhor, pode contribuir nas construções de valores e de autoconhecimento e na aprendizagem por meio de uma investigação e crítica no sentido de como são desenvolvidas.

O professor não é o vilão dessa história, é tão vítima quanto os alunos. Não tendo o devido preparo em seus cursos de graduação e licenciatura, o professor não se aventura a trabalhar com a teledramaturgia em sala de aula, especialmente porque não domina essa linguagem. Assim como a sociedade, pais, direção e professores, a escola também exclui a telenovela, considerando-a um produto aquém e desprezando-a. A realidade é que o educador não sabe o quê e como explorar este gênero, não percebe que a telenovela é um rico instrumento de apoio aos conteúdos interdisciplinares.

O estudante brasileiro, em grande maioria, vem da cultura da oralidade, e nós sabemos da dificuldade de acesso a livros, jornais etc. Dessa forma, podemos aproveitar mais a telenovela dentro do contexto da escola.

Precisamos interagir com os meios de comunicação, principalmente a telenovela em relação ao gênero literário. Se a telenovela é aceita e amplamente difundida no convívio social, logo ela pode permear todo o trabalho educacional. A escola já não pode ignorar a importância e o impacto dessa produção cultural como meio transformador da vida dos jovens e de nossa sociedade.


(*) Luís Fernando Ferreira de Araújo é professor universitário, doutorando em Educação, Arte e História da Cultura.

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