A morte anunciada dos jornais não deu em nada. Não que tudo tenha voltado a ser como antes. Há mudanças no negócio de se fazer jornal. Mas a catástrofe prevista entrou para o rol das profecias que não se cumprem, na opinião de Ricardo Pedreira, diretor executivo da Associação Nacional dos Jornais (ANJ).
Os sinais estão por toda a parte. No Brasil, assim como nos países emergentes, a leitura e os títulos disponíveis no mercado crescem. Nos Estados Unidos, um dos maiores mercados do mundo, parou de cair. Na Alemanha e no Japão, seguem sendo um bom investimento. Mas a melhor notícia é que há jovens lendo jornais. E no papel.
Da França vem uma das sinalizações mais otimistas. A Editora La Play Bac, dedicada a um público de 6 e 18 anos, mantém três títulos diários para esse faixa etária com 150 mil assinaturas. O Japão, um dos países mais conectados à internet, detém cinco dos dez maiores jornais em circulação no mundo. Vende cerca de 28 milhões de exemplares impressos todos os dias, que não são lidos apenas por senhores.
No Brasil, menos afetado pela crise econômica, o meio jornal ocupa o segundo lugar na preferência de anunciantes, após a televisão aberta, com participação de 21,4% no bolo publicitário.
A circulação de jornais segue em curva ascendente. Houve aumento de 2% no primeiro semestre de 2010, de acordo com o Instituto Verificador de Circulação (IVC). O crescimento foi puxado pelo Estado. Entre as dez maiores publicações, o jornal obteve o melhor resultado no primeiro semestre deste ano, com alta de 7,7% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Na agência de propaganda Talent, uma pesquisa encomendada para entender o que desperta o interesse de homens de 28 a 35 anos, solteiros, sem filhos e que haviam decidido por comprar um modelo de carro sedan (tido como desejo de tiozinho), revelou que eles cultivam símbolos de maturidade. Entre os hábitos que passam a desenvolver está a leitura de jornais. "Eles apontam que o impresso oferece uma curadoria que lhes dá a segurança de ter as informações que as pessoas com mais experiência têm", explica a responsável pelo estudo, Mari Zampol, diretora de planejamento da agência. "A rede social desse jovem, a dinâmica da busca da informação na web, não necessariamente cumpre esse papel de curadoria das informações."
Intangível. O reconhecimento do valor do jornal impresso e a sua resistência acima dos prognósticos iniciais, na opinião de Pedreira, da ANJ, tornam evidentes que o seu poder é muito maior do que se imaginava. "Trata-se de algo intangível, que fica claro na necessidade dos leitores por contextualização, edição e pela linha editorial. Ouço pessoas falarem dos seus jornais como se fossem um amigo e companheiro diário, com quem gostam de compartilhar o dia", diz Pedreira.
Júlio Ribeiro, presidente do Grupo Talent, insiste que a experiência física proporcionada pelo jornal não é substituível, nem mesmo por um iPad. "Nós vivemos de sensações e folhear o jornal é uma delas", diz Ribeiro. Reconhecido frasista, o publicitário Nizan Guanaes, sócio do Grupo ABC, resume a atual fase de ressurreição do veículo: "Jornal é como uma instituição bancária. O que está em jogo é crédito. O anúncio publicado no jornal ganha credibilidade. E isso não vai acabar."
Os apocalípticos estipularam datas para o fim dos impressos. Há duas semanas, a revista The Economist se redimiu em relação a uma matéria veiculada em 2006, reconhecendo que se precipitou. O negócio tem mais saúde do que tinha avaliado. A revista diz, entretanto, que a sobrevivência de longo prazo não está garantida, já que fortes ajustes foram feitos nos últimos três anos, como, por exemplo, a extinção de 13,5 mil empregos na área só nos EUA.
O professor Rosental Calmon Alves, diretor do Knight Center de Jornalismo e professor da Universidade do Texas, acha mesmo que o jornal impresso vai resistir por muito tempo. "Trata-se de uma ótima interface, portátil, flexível. Algum dia, no entanto, ela poderá se tornar obsoleta. Mas não é pra já", diz.
Fonte: Estado de São Paulo/ Texto: Marili Ribeiro 09/08/2010
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