“O poder miraculoso das tecnologias informacionais”: novos desafios para a velha educação.
Artigo de Caroline Duarte Lopes de Borborema para o Jornal Eletrônico Educação & Imagem
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A palavra charge vem do francês charger, que significa carga, exagero, isto é, a charge exagera traços de algo ou alguém, utilizando o humor e a ironia, com a finalidade de suscitar uma reflexão político-social. Assim, optei por utilizar uma charge de Gaturro para trazer alguns elementos de diálogo sobre o currículo escolar e as tecnologias da informação e da comunicação (TIC).
Um dos aspectos que trago para reflexão é o poder que as tecnologias podem exercer sobre a educação, a escola e os sujeitos que nela circulam com diferentes papéis sociais. Tanto aqueles que aparecem observando a aula, como a professora, e os alunos acreditam neste poder e fortalecem um “imaginário tecnológico” na medida em que o uso da tecnologia passa a ser entendido como solução para os problemas da educação. E mais, na situação satirizada essa “solução” traz resultados, visto que, seguindo os moldes da educação tradicional, todos os “chicos” estão sentados e prestando atenção na professora. A educação vive um momento que parece investido, nas palavras de Mattelart, de “crenças no poder miraculoso das tecnologias informacionais”.
Outro elemento que nos faz pensar seria justamente esse modelo de educação, que parece estar falido, na medida em que contrasta brutalmente com os desafios que a sociedade pós-moderna impõe à educação. Não se trata da defesa de uma educação que se adeque às necessidades dessa sociedade, mas sim que questione essa sociedade e forme cidadãos capazes de refletir sobre tais desafios.
Como terceiro elemento, destaco o quanto o professor tem sido visto como um profissional obsoleto, que depende das novas TIC para reestruturar sua formação e seu trabalho. Para se reinventar a professora da charge vestiu uma capa de modernidade, parecendo estar dentro da televisão, tentando causar a impressão de uma aula interessante. Na perspectiva da globalização, a educação de um modo geral, incluindo principalmente o trabalho docente, precisam ser reconfigurados. Nesse contexto, as TIC começam a fazer parte de um novo discurso pedagógico, sendo evidenciadas como elemento definidor dessa reconfiguração. Assim, as TIC podem dar uma nova aparência às tradicionais concepções de ensino e aprendizagem (Barreto, 2004).
Podemos dizer que todos esses elementos permeiam o currículo escolar. O currículo muitas vezes é entendido como um objeto definido e estável, que se concretiza numa listagem de conteúdos e suas disciplinas. No entanto, acredito que o currículo é dinâmico, é experiência e, portanto, permite compreender as bases culturais em que se apoia a escola. É evidente que a charge de Gaturro apresenta uma crítica ao modelo de escola tradicional, que tenta se reinventar, mas não consegue escapar das suas próprias amarras. Assim, como também evidencia que a atual tentativa de se reinventar passa pela valorização das TIC como tábua de salvação. Temos um currículo escolar que privilegia o ensinar em detrimento do aprender, o transmitir em detrimento do refletir, a informação em detrimento da formação... Tudo isso ganhando um reforço extra da “inovação”. A forma de incorporação das TIC pela educação passa pela concepção de currículo que a escola privilegia na formação de sua cultura escolar. E acredito que, na atribuição de sentidos ao currículo escolar, o docente possui um importante papel na medida em que através de sua prática e seu discurso ele poderá ressignificá-lo.
REFERÊNCIAS
– BARRETO, R. G. Tecnologia e educação: trabalho e formação docente. Educação e Sociedade, Campinas, vol. 25, n. 89, p. 1181-1201, set./dez. 2004.
– MATTELART, A. História da sociedade da informação. São Paulo: Loyola, 2002.
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