Por Fernando José de Almeida (*)
Para a revista Gestão Escolar
Foto: Marcos RosaO caderno é um objeto de reconhecida importância nas ações do cotidiano de muitas pessoas - e também na formação delas durante toda a vida. Sua origem é remota. Vale lembrar que a palavra caderno vem de codex, termo latino que significa "registro, tábua de escrever". Eram chamados de códice tanto os livros nos quais se listavam as receitas e as despesas de uma família, por exemplo, como os volumes nos quais ficavam documentadas as leis elaboradas pelos imperadores romanos.
Em tempos mais recentes, lembro-me que, nos anos 1950, os cadernos serviam para que os donos de armazém apontassem as despesas fiadas dos clientes (meu pai, por exemplo, pagava as dívidas que a família fazia religiosamente todo fim de mês). Era também em pequenos cadernos - as cadernetas - que o bancário relacionava as economias que cuidadosamente guardávamos no nosso cofrinho e depois depositávamos na poupança. Toda mulher ou homem que tem irmã, esposa ou filha sabe que cadernos também eram muito usados por elas para escrever confidências - os famosos diários.
Em qualquer um dos exemplos citados, o caderno é útil para guardar memórias (das dívidas, das leis, das experiências vividas). E, nas escolas, para que servem? Igualmente, são usados - ou deveriam ser - para arquivar as memórias da formação do aluno, o processo vivido por ele em busca do conhecimento, as dúvidas e as descobertas feitas durante as aulas, em livros, nas discussões com o professor e nos trabalhos em grupo. Quando eu era estudante, os cadernos eram sóbrios, com folhas pautadas com linhas e nada mais. Com o tempo, eles se tornaram objetos de consumo, com capas fantasiosas que vendem paisagens, personagens, times de futebol, cursinhos pré-universitários e refrigerantes. Prateado, dourado ou com cores berrantes, esse objeto - imprescindível no material escolar - deve ser visto como um arquivo: o lugar onde está o repertório do estudante, as informações, os dados, os conteúdos, as impressões e as opiniões sobre os temas trabalhados em classe.
Crianças e jovens que usam os cadernos para anotar as aulas já têm, a princípio, duas grandes vantagens em relação aos demais: certamente ficam mais atentos ao que acontece na classe para fazer as anotações necessárias (não se trata de copiar o que está no quadro) e têm uma base para estudar em casa em época de trabalhos e provas. Aprender supõe ter a capacidade de documentar as aulas, as leituras realizadas, as dúvidas, os debates feitos em classe e as tarefas.
Vale lembrar que a aprendizagem é o desenvolvimento de um processo de criação de ganchos, nos quais se amarram as informações novas com as já conhecidas - e lembradas! E o caderno nada mais é do que um dos lugares mais eficientes para armazenar os dados necessários para que o conhecimento seja permanentemente construído.
Os benefícios desse material não são somente dos alunos: o professor deve usá-los para analisar a maneira como ensina e ter mais repertório de informações sobre como a turma aprende. O coordenador pedagógico, por sua vez, também pode se valer da leitura atenta desses para ajudar o professor a fazer o planejamento das aulas futuras e elaborar um plano de formação para a equipe.(*)
Acompanhar, orientar e avaliar os escritos dos estudantes é uma forma de ajudá-los a se organizar, de saber se evoluíram e no que é preciso focar as aulas. Utilizar os resultados da apreciação atenta das anotações para melhorar a maneira de ensinar é um passo significativo para fortalecer e aprimorar a formação continuada na escola.
(*) É filósofo, docente da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e diretor de Educação da Fundação Padre Anchieta.
(*) Revista NOVA ESCOLA GESTÃO ESCOLAR de agosto/setembro traz matéria sobre o tema.
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