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segunda-feira, 21 de maio de 2012

‘Vamos Ler’ promove oficina sobre jornal na educação amanhã no SESC Ponta Grossa

Projeto Vamos Ler, do Jornal da Manhã, em parceria com o SESC Ponta Grossa, promove dia 18/05 a oficina ‘Programas Jornal e Educação: Formando o sujeito da aprendizagem pelas página do jornal’, com a Coordenadora Executiva de Programa Jornal e Educação da Associação Nacional de Jornais (PJE/ANJ), Cristiane Parente. O encontro, que revelará experiências de programas realizados em diversos países, é exclusivo para os professores que desenvolvem o Vamos Ler em escolas de Ponta Grossa, Carambeí, Telêmaco Borba e Irati. Cristiane atua na interface mídia e educação há mais de dez anos.
Cristiane durante uma oficina com professores do programa ‘O Diário na Escola’, de Maringá (Foto: João Paulo Santos / O Diário do Norte do Paraná)
Confiram a entrevista que fiz com ela:
Talita Moretto: Quando você começou a trabalhar com projetos envolvendo os jovens, a mídia e a educação, e o que motivou seu interesse por essa área?
Cristiane Parente: A relação ‘mídia e educação’ sempre esteve presente em minhas ações e reflexões antes mesmo de eu entrar para a faculdade de Jornalismo, quando cheguei a fazer alguns semestres de Psicologia e pensava no impacto que as mídias causavam na infância e adolescência e a relação que esse público tinha com elas. Depois de formada, posso dizer que dois anos foram especiais. Em 1998, quando criei e editei um suplemento infantil e, junto com ele, um conselho de leitores formado por crianças de 8 a 10 anos. Todos os meses nos reuníamos na redação do jornal O Povo, de Fortaleza/CE, para discutir as pautas do suplemento, conversar sobre as edições passadas e ver quem sairia comigo para apurar notícias e escrevê-las. Sempre acreditei no direito à comunicação como um direito humano e na importância da autoria para esse público. Isso gera um grande amadurecimento porque essas crianças passam a entender como é feita a edição de um meio de comunicação, a responsabilidade ética de falar de/sobre alguém, aprendem a fazer e receber críticas, sem falar na aprendizagem da leitura e escrita. Outro ano importante foi 2004, com a ‘4ª Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes’ que, pela primeira vez, aconteceu no Brasil, no Rio de Janeiro. Após participar deste evento, eu e três amigas resolvemos que não poderíamos guardar tudo que vimos e resolvemos criar o ‘Observatório de Mídia para Crianças e Adolescentes’, em Fortaleza, além de realizarmos o evento ‘Mídia que temos, Mídia que queremos’, estimulando um debate sobre a qualidade da mídia para crianças e com a sua participação. Ou seja, sempre pensei no público infanto-juvenil de forma ativa, não passiva.
Talita: Como são desenvolvidos os Programas Jornal e Educação em outros países?
Cristiane: Não há receitas únicas, mas no geral os jornais de outros países têm investido mais ou buscado mais patrocínios para seus programas, por entenderem sua importância na formação de novos leitores e cidadãos. Também estão trabalhando mais com escolas púbicas que privadas, apesar da parceria com elas ser mais normal que aqui no Brasil, e conseguem rentabilizar mais seus materiais didáticos, além de aproveitarem datas comemorativas para incrementar seus projetos junto com vários departamentos do jornal. Também estão usando um pouco mais de tecnologia e aplicativos para atrair jovens leitores e fazem muitos concursos para estimular alunos e professores.
Talita: Como você vê esses Programas no Brasil? Há investimento por parte dos jornais?
Cristiane: Em termos de produção de materiais para educadores, espaços editoriais para os programas, criatividade e envolvimento das escolas, os programas brasileiros não ficam a dever nada em relação à maioria dos programas do resto do mundo. A prova é que em 2011 o Brasil teve três premiações no ‘Prêmio Mundial Jovens Leitores’ da Associação Mundial de Jornais e Editores de Notícias. Sem falar em outros prêmios internacionais e nacionais, como o ‘Viva Leitura’, que já deu duas menções honrosas a nossos programas, mas acho que o número de programas ainda poderia ser maior se todos os jornais entendessem a importância da parceria com as escolas, e vice-versa, na formação de leitores e cidadãos, que é uma tarefa de toda a sociedade. Nenhum país pode pensar em desenvolvimento, em um futuro econômico, político e social decente sem levar a sério a educação. E cada parcela da sociedade tem sua responsabilidade na construção desse futuro. A meu ver, a formação de novos leitores para os jornais passa necessariamente por um repensar constante do conteúdo do jornal para o púbico jovem, de como este conteúdo está sendo oferecido, de como tem sido a participação dos jovens em sua elaboração, e também passa pela escola (seus alunos e educadores). Ela precisa ser conquistada, respeitada, valorizada, ouvida, representada nas páginas do jornal.
Talita: Por que o jornal é tão importante na formação de leitores críticos?
Cristiane: De todos os veículos o jornal (em geral) ainda é o que possui mais credibilidade, mais responsabilidade em aprofundar as notícias do já passadas na televisão, rádio ou internet. Mas claro que é preciso analisar qual jornal você está lendo e comparar os veículos, as notícias, as fontes ouvidas, etc. Quando você ensina um aluno a ler um jornal de forma crítica, ele passará a ‘ler’ qualquer mídia de maneira muito mais exigente; já não verá uma imagem como algo transparente, natural; entenderá que fato é diferente de notícia; perceberá as diferenças entre os títulos e chamadas dos veículos; a importância da pluralidade de vozes e opiniões em uma notícia; as diferenças de ângulos de uma foto que podem favorecer ou não o personagem daquela matéria, etc. A leitura de um jornal também exige um pouco mais de tempo, raciocínio, imaginação, atenção, pró-atividade do cidadão. Ele não fica passivo recebendo tudo pronto. É um trabalho diferente. E o país precisa de leitores mais atentos nas palavras, imagens e nos textos do mundo! Precisa de gente com um olhar mais crítico, mais aguçado, que não fique na superficialidade dos fatos, repetindo o que vê e escuta por aí. É preciso aprender a selecionar as informações, ler, comparar, criticar e formar sua opinião.
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Cristiane Parente é Jornalista, Professora, Educomunicadora. Especialista em Teorias da Comunicação e da Imagem UFC/UFRJ; Mestre em Comunicação e Educação/ Universidad Autónoma de Barcelona. Mestranda em Educação pela Universidade de Brasília (UNB). Assumiu a coordenação executiva do Programa Jornal e Educação da Associação Nacional de Jornais em 2008. Antes disso, estava na Assessoria Especial de Cidadania Audiovisual da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, trabalhando em um projeto que tinha como intenção unir audiovisual e educação, levando cineclubes para as escolas e formação para alunos e professores.

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