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quarta-feira, 23 de março de 2011

Na sua opinião, o que é um bom professor?

Na sua opinião, o que é um bom professor? É aquele que tem a capacidade de ensinar os assuntos fáceis e difíceis e de aprender com os estudantes? É o que está empenhado em lecionar cada dia melhor? Com essa pergunta, o Todos Pela Educação contatou dez entidades nacionais e internacionais.

Campanha Nacional pelo Direito à Educação
Daniel Cara, coordenador-geral
Um bom professor é um bom profissional. Educação não é (nem pode ser!) diferente de qualquer outra área. Um bom profissional precisa ser dedicado, deve se fazer presente, tem que ser compromissado, tem que ter interesse contínuo por aprimoramento e deve demonstrar força de vontade, interesse e iniciativa em buscar soluções aos problemas que surgem no seu cotidiano de trabalho.


O problema é que o professor é um profissional que recebe muito pouco, enfrenta péssimas condições de trabalho, não possui plano de carreira e é excessivamente cobrado. Defendemos, essencialmente, um tratamento justo, objetivo e isonômico.

Confederação Nacional de Pais de Alunos (Confenapa)
Iedyr Gelape Bambirra, presidente
Um bom professor tem de gostar de criança, tem de gostar do estudante. Essa é a primeira coisa. Em segundo lugar, tem de ter uma boa formação: não apenas a profissional completa, mas também uma boa formação de conhecimento de leis e de princípios éticos e morais.
Se o professor tem esses princípios, vai aplicá-los durante sua vida profissional. O que ocorre, é que, muitas vezes, não há aplicação dos princípios éticos nas escolas públicas e privadas. E há professores que não se expressam de maneira adequada com os estudantes, colocam apelidos e até ofendem os alunos.


O professor tem de ser um agente de democratização da escola. Ainda falta acesso dos pais à escola e as famílias são impedidas de criar associações.

Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE)
Heleno Araújo, secretário de Assuntos Educacionais
O bom professor é aquele que contribui coletivamente para que a escola cumpra seu papel. Para isso, tem de ter infraestrutura e ambiente adequados para a atividade docente e para que o estudante possa buscar autonomia. A escola tem de ser equipada, ter biblioteca, quadra de esporte coberta, laboratórios, espaço para o encontro com os colegas na hora do intervalo.

Além disso, o profissional tem de ter tempo para se dedicar à comunidade escolar e, portanto, ter exclusividade com uma escola. Dentro de sua carga horária de trabalho, o professor deve ter o tempo da sala de aula, de pesquisa, de estudo, de atendimento individualizado, e deve contribuir para o fortalecimento do conselho escolar, em projetos que envolvam a comunidade.

Para que trabalhe em uma única escola, é preciso salário decente. Também é necessária uma política de formação continuada, para que esteja preparado para enfrentar os desafios.
Um professor, em um ambiente desse tipo, está preparado para trabalhar com o coletivo e alcançar o objetivo da escola, que é preparar o estudante para a vida. Já um estudante preparado para a vida é aquele que se relaciona com outros cidadãos, cuida do ambiente, se preocupa com a escola e com o bem comum. Esse estudante também sabe que a solidariedade é mais importante que a competição e que pode contribuir para que a vida seja melhor.

Conselho Nacional de Educação (CNE)
Francisco Aparecido Cordão, presidente da Câmara de Educação Básica
O bom professor é um profissional da Educação que, nos termos da atual LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), “zela pela aprendizagem dos alunos”. Ele sabe que sua missão profissional não se resume a dar aulas. Seu maior desafio está na promoção da autonomia intelectual dos alunos, que garante a prontidão para a aprendizagem permanente.

O bom professor, como já me confidenciou um garotinho de seis anos de idade, é aquele que “presta atenção na criança”. O grande educador Paulo Freire diria que ele aprendeu que a relação entre professor e aluno é sempre a relação de duas consciências que se respeitam. Ele tem certeza de que seus alunos estão aprendendo com seu trabalho, porque ele também está aprendendo nessa relação. Professores e alunos, em comunhão, estão aprendendo a ver o mundo com perspicácia e a nele atuar.

O bom professor tem paixão por ensinar, porque aprendeu que só poderá ser eterno naquilo que comunica e partilha solidariamente. Tem orgulho de sua profissão, defende-a com garra e a valoriza pelo seu trabalho bem feito e pela beleza dos seus resultados. Fica feliz quando os seus alunos conseguem ver, sentir, julgar e agir como cidadãos livres, solidários e eticamente responsáveis, justos e verdadeiros. O bom professor é um otimista, um sonhador, um poeta e um artista apaixonado pela sua profissão.

Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed)
Gostaríamos de sugerir mudar a pergunta para: Como é um bom professor? E com ela, respondemos: 'Um bom professor é orientador do seu aluno, promove a compreensão do "porquê" e "para quê" do seu esforço em aprender, conduz responsavelmente o processo de permanente autoformação, valoriza a reflexão e a capacidade de análise crítica de cada um'.

Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef)
Maria de Salete Silva, coordenadora do Programa de Educação do Unicef no Brasil
Uma boa professora ou um bom professor tem como diretriz de sua prática a compreensão de cada menino e menina como sujeito de direitos. Entende sua prática como essencial para garantir o direito de aprender e sabe que cada criança e adolescente tem tempos e formas diversas de aprendizagem.


Por isso, a boa professora e o bom professor têm um olhar diferenciado para cada uma das crianças. Preocupam-se com o desenvolvimento pleno de seus alunos e alunas: sua presença e ausência, sua saúde, exposição a situações de preconceito, discriminação e violência.

A atitude é de busca contínua de crescimento: os bons professores preocupam-se com a própria formação, buscando novas oportunidades de aprendizagem e contribuindo para o estabelecimento de uma rede de troca de experiências com os demais professores e professoras da escola e da rede de ensino. Tem disposição, calma e paciência para conversar e ouvir as crianças e suas famílias, estabelecendo com elas uma relação de atenção, proximidade e confiança."

Ministério da Educação (MEC)
Maria do Pilar Lacerda Almeida e Silva, secretária de Educação Básica
Um bom professor deve gostar de fato da profissão: gostar de barulho, de gente curiosa, de choro de adolescente, de administrar conflitos. Tudo isto vem junto com o ofício de professor. Também deve gostar de estudar, de ler de tudo: jornais, revistas, gibis, literatura, teoria.

Deve ser pontual, porque deixar 30 ou 40 crianças ou adolescentes esperando não dá! Deve ser motivado com a dificuldade do seu aluno e fazer desta dificuldade, a sua motivação profissional: descobrir porque ele não aprendeu e o que pode fazer para que ele aprenda (e não vale reprovar...).

O bom professor tem de aprender a trabalhar coletivamente, pois o trabalho na Educação Básica é sempre em grupo. Precisa ouvir seus colegas, as críticas inclusive, sem levar para o lado pessoal. Deve gostar dos alunos, elogiar os trabalhos, conhecer a história de vida de cada um deles.

E para que ele seja um ótimo professor, precisa de condições para exercer a docência: dedicação exclusiva a uma escola, tempo para estudar, tempo para se reunir com seus colegas (sem que seja no tempo dos alunos), salário compatível com a sua formação.

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco)
Wagner Santana, oficial de projetos do setor de Educação da Unesco no Brasil
Para ser professor é necessário muito mais do que vocação, uma condição importante e necessária, mas não suficiente. É importante que os professores desenvolvam competências racionais e técnicas específicas de seu ofício, que se referem à responsabilidade com o seu trabalho e ao compromisso com a aprendizagem dos estudantes.


Há duas grandes dimensões que estão na base da identidade profissional docente, conforme mencionado na publicação “Educação de qualidade para todos: um assunto de direitos humanos", uma das referências da Unesco sobre professores. A primeira delas diz respeito a um conjunto de atividades relativas a “aprender a ensinar” e “ensinar a aprender”. É um aprendizado que requer “competências cognitivas - conhecer, manipular informação e continuar aprendendo acerca do que é próprio da disciplina - e competências pedagógicas - saber como ensinar a disciplina, como trabalhar em ambientes diversos, como gerar condições adequadas para a aprendizagem em contextos de dificuldade e com grupos heterogêneos e utilizar criativamente os recursos didáticos disponíveis”.

A segunda dimensão refere-se ao cumprimento responsável da missão atribuída pela sociedade aos docentes: “garantir o desenvolvimento integral dos alunos por meio de aprendizagens relevantes e pertinentes para todos”. Essa dimensão pressupõe competências éticas que “habilitem o docente a cumprir com o compromisso social de garantir o desenvolvimento integral dos alunos por meio de aprendizagens relevantes e pertinentes para todos”, e competências sociais, que são aquelas que criam as condições para “satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem; adaptar-se e responder à permanente mudança do conhecimento; trabalhar em redes; promover diálogos e consensos; em suma, exercer sua responsabilidade e direito de cidadão nas decisões relacionadas com a educação, a escola e sua própria prática”.

Além disso, é preciso destacar que para exercer bem a profissão, o professor deve ter boas condições de trabalho, salário digno e oportunidades de aprimoramento profissional continuado.

Todos Pela Educação
Priscila Cruz, diretora-executiva
Um bom professor é aquele que não deixa nenhum aluno para trás. Os países que têm os melhores desempenhos nas avaliações internacionais são aqueles que têm baixíssima desigualdade educacional. Isso significa que não apenas a média é boa, mas a distribuição em torno dela é pequena, ou seja, não há muita diferença entre os alunos com menor e maior desempenho. Essa dimensão é muito importante, pois cada um dos alunos tem direito de aprender. E, assim, o bom professor é aquele que não desiste de nenhum aluno por maiores que sejam suas dificuldades.


Um bom professor é aquele que sabe o conteúdo a ser ensinado e a maneira de ensiná-lo. Ter domínio do conteúdo e saber gerenciar a sala de aula, ensinar e motivar os alunos são características presentes nos bons docentes.
O compromisso com o trabalho e com os estudantes também é fundamental. O bom professor não falta desnecessariamente, respeita os alunos, é parceiro das famílias. E, principalmente, é altamente comprometido com a aprendizagem de seus alunos, motivando-os a aprender cada vez mais.

União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime)
Um bom professor é aquela pessoa que detém (in)formação adequada e que desenvolve técnicas coerentes às múltiplas situações de ensino. Formação, informação e didática são premissas que compõem o perfil de um bom professor.


Contudo, não são suficientes. É necessário, ainda, o desenvolvimento da capacidade de olhar e de agir. Saramago nos ensina: "Se puderes olhar, vê; se puderes ver, repara". Compreendemos, então, que bons professores desenvolvem cotidianamente o (re)conhecimento "do outro" com suas alegrias e dores; e são capazes de criar a pergunta que afeta e mobiliza.

Em um mundo cada vez mais desigual o sentido de se colocar no lugar do outro, e, consequentemente, de agir, é fundamental. Dessa forma, podemos dizer que bons professores são aqueles que fazem opções políticas claras em prol de um mundo melhor, justo e solidário. Os bons professores olham, veem, reparam e agem.

União Nacional dos Estudantes (UNE)
Um bom professor é, acima de tudo, um professor que gosta de ensinar. É um professor que se dedica a provocar a curiosidade e a crítica em seus estudantes e que percebe a importância de seu trabalho no contexto da sociedade e do país em que ele vive. Que percebe que não é dono da razão e que seu aprendiz não é um aluno, ou seja, um "sem luz", como se fosse uma caixa vazia na qual devem ser depositados os conhecimentos.


Deve perceber, não só sua prática docente, mas a vida de seus estudantes à luz das contradições sociais e econômicas que condicionam seu desenvolvimento como cidadãos. É aquele que reflete sobre sua didática e sua proposta pedagógica e sobre os efeitos que elas têm sobre o aprendizado dos estudantes e sobre o debate de concepções e políticas educacionais implementadas atualmente.

E, sobretudo, é o professor que tem boas condições de trabalho, que devem ser proporcionadas, por sua vez, pelo poder público, por meio de salários dignos, planos de carreira, formação continuada e gestão democrática, responsabilizando-se, assim, não só o professor como sujeito, mas toda a sociedade pela formação de bons professores.

É, portanto, o professor que tem consciência da importância fundamental de seu trabalho para o desenvolvimento das vidas de seus estudantes e de um país cujo povo seja mais educado, crítico e consciente de suas possibilidades e direitos.

Fonte: Todos pela Educação

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