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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Roger Chatier, o especialista em história da leitura

Pesquisador francês estuda os significados sociais dados aos textos pelo autor e pelo leitor

A história da cultura e dos livros tem uma longa tradição, mas só há pouco tempo ela ampliou seu âmbito para compreender também a trajetória da leitura e da escrita como práticas sociais. Um dos responsáveis por isso é o francês Roger Chartier. "Ele fez uma revolução ao demonstrar que é possível estudar a humanidade pela evolução do escrito", diz Mary Del Priore, sócia honorária do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. "Se a história cultural sempre foi baseada em dados estatísticos ou sociológicos, Chartier a direcionou para as significações sociais dos textos."

Para o campo do ensino da leitura e da escrita, a obra do pesquisador traz grandes contribuições, na medida em que ilumina os diferentes interesses e usos que aproximam leitores, autores, missivistas, escribas etc. de gêneros e formatos de textos também variados. A atenção a essas questões contribuiu muito para dar apoio à base teórica dos trabalhos de educadores como as argentinas Emilia Ferreiro e Delia Lerner, em particular à noção de que a leitura implica uma elaboração de significados que não estão apenas nas palavras escritas, mas precisam ser construídos pelo leitor. Não por acaso, os primeiros estudos de Chartier - em parceria com o historiador francês Dominique Julia - foram sobre a história da Educação, com enfoque principal nas comunidades de estudantes e nas instituições. Essa reflexão levou Chartier a questionar o papel da circulação e apropriação dos textos.

Na história da leitura, Chartier enfatiza a distância entre o sentido atribuído pelo autor e por seus leitores. Para o historiador, o mesmo material escrito, encenado ou lido não tem significado coincidente para as diferentes pessoas que dele se apropriam. Uma só obra tem inúmeras possibilidades de interpretação, dependendo, entre outras coisas, do suporte, da época e da comunidade em que circula. "Chartier escolheu concentrar-se nos estudos das práticas culturais, sem postular a existência de uma 'cultura' geral", diz Mary Del Priore (leia mais no último quadro).

O historiador se detém em realidades as mais inesperadas e específicas em torno dos livros, da leitura e da escrita ao longo dos tempos. Vai das variações tipográficas às formas primitivas de comércio, das primeiras bibliotecas itinerantes às omissões, traduções e acréscimos sofridos por obras famosas - e dá especial atenção ao aspecto gestual da leitura.

Por isso, considera que a primeira grande revolução da história do livro foi o salto do rolo de papel para o códice, ou seja, o volume encadernado, com páginas e capítulos. Maior ainda, segundo ele, está sendo o salto para o suporte eletrônico, no qual é a mesma superfície (uma tela) que exibe todos os tipos de obra já escritos. Essa é, na opinião dele, a mais radical transformação na técnica de produção e reprodução de textos e na forma como são disponibilizados. As mudanças de relação entre o leitor e o material escrito determinadas pela tecnologia alteram também o próprio modo de significação - antes do códice, por exemplo, era impossível ler e escrever num mesmo momento porque as duas mãos estavam ocupadas em segurar e mover o rolo.

As formas de apresentação do texto interferem no sentido

"Chartier compreendeu que um texto não é uma simples abstração e que ele só existe graças à maneira como é transmitido", afirma Mary Del Priore. O pesquisador francês costuma combater a ideia do material escrito como um objeto fixo, impossível de ser modificado e alterado pelas pessoas que o utilizam e interagem com ele. As novas tecnologias lhe dão razão - a leitura na internet costuma ser descontínua e fragmentária, e o leitor raramente percebe o sentido do todo e da contiguidade, que, por exemplo, o simples manuseio de um jornal já gera.

Essa diferença fundamental, que torna a leitura dos livros mais profunda e duradoura, faz com que ele preveja a sobrevivência do formato impresso, apesar da disseminação dos meios eletrônicos. "O trabalho que fazemos como historiadores do livro é mostrar que o sentido de um texto depende também da forma material como ele se apresentou a seus leitores originais e por seu autor", diz Chartier. "Por meio dela, podemos compreender como e por que foi editado, a maneira como foi manuseado, lido e interpretado por aqueles de seu tempo." O suporte, portanto, influencia o sentido do texto construído pelo leitor.

Ele gosta de enfatizar duas outras mudanças importantes nos padrões predominantes de leitura. A primeira: feita em voz alta à frente de plateias, foi para a silenciosa na Idade Média. A segunda: da leitura intensiva para a extensiva, no século 18 - quando os hábitos de retorno sistemático às mesmas e poucas obras escolhidas como essenciais foram substituídos por uma relação mais informativa e ampla com o material escrito.

Os caminhos de Chartier Por uma história cultural dos indivíduos

Roger Chartier pertence à geração de historiadores que rompeu, nos anos 1980, com a tradição hegemônica francesa, constituída desde 1929 por nomes como March Bloch (1886-1944) em torno da revista Annales d'Histoire Économique et Sociale. Mesmo assim, ele concorda com postulados básicos dos antecessores, como a multiplicação das fontes de pesquisa. Para ele, o trabalho com fontes primárias é fundamental.Por outro lado, sua trajetória se forjou sob o impacto da obra do filósofo francês Michel Foucault (1926-1984), que, segundo Mary Del Priore, "recusa uma história 'global'". Nasceu assim a Nova História Cultural, que se preocupa com a singularidade dos objetos. "Para Chartier, o movimento representa o estudo não das continuidades, como para a primeira geração dos Annales, que analisava os fenômenos em sua longa duração, mas das diferenças e descontinuidades", explica ela.

Biografia

Intelectual de grande influência no Brasil Roger Chartier nasceu em 1945, em Lyon, a terceira cidade da França, filho de uma família operária. Formou-se professor e historiador simultaneamente pela Escola Normal Superior de Saint Cloud, nos arredores de Paris, e pela Universidade Sorbonne, na capital francesa. Em 1978, tornou-se mestre conferencista da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais e, depois, diretor de pesquisas da instituição. Em 2006, foi nomeado professor-titular de Escrita e Cultura da Europa Moderna do Collège de France. É membro do Centro de Estudos Europeus da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, e recebeu o título de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras do governo francês. Também leciona na Universidade da Pensilvânia, nos EUA, e viaja pelo mundo proferindo palestras. Veio várias vezes ao Brasil, onde é, depois do antropólogo Claude Lévi Strauss, o intelectual francês contemporâneo que mais influencia estudantes de ciências humanas.

Quer saber mais?

  • Formas e Sentido – Cultura Escrita: Entre Distinção e Apropriação, Roger Chartier, 168 págs., Ed. Mercado de Letras, tel. (19) 3241-7514, 24 reais
  • Inscrever & Apagar, Roger Chartier, 336 págs., Ed. Unesp, tel. (11) 3242-7171, 37 reais
  • Leituras e Leitores na França do Antigo Regime, Roger Chartier, 395 págs., Ed. Unesp, 46 reais
  • Práticas da Leitura, Roger Chartier, 268 págs., Ed. Estação Liberdade, tel. (11) 3661-2881 (edição esgotada)

Fonte: Revista Nova Escola/ Texto: Márcio Ferrari

Educação Inclusiva

Reproduzimos abaixo entrevista publicada no blog A Tarde Educação em 28/09/2010, com Carlos Roberto Jamil Cury. Ele é Presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação e Coordenador da Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Foi um dos elaboradores das Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica e autor do Parecer 4/2002, que trata da Educação Inclusiva.

>> O que significa inclusão?
JC>>
Eu só posso falar em inclusão se considerar o seu oposto, que é a exclusão. É preciso perguntar quem é excluído e do que é excluído – afinal, às vezes é bom ser excluído de algumas coisas, como da doença ou da miséria. No caso da Educação, que obviamente é uma coisa boa, é bom que se inclua. Trata-se de incluir todos dentro de um espaço considerado imprescindível para o desenvolvimento pessoal e da cidadania.


>> Gostaria que o senhor descrevesse brevemente a evolução da Educação Inclusiva no Brasil e no mundo.
JC>>
A questão da deficiência nem sempre foi tratada no mundo como é hoje. Ela já percorreu caminhos bastante rudes, bárbaros até. Sabemos de comunidades primitivas e modernas que praticaram a chamada limpeza étnica, em que matavam crianças que nascessem com determinados defeitos. Foi só no final do século XIX que a forma de ver o deficiente começou a mudar, quando os trabalhos de Freud mostraram que todos nós temos limitações e quando a Biologia trouxe conclusões similares, afirmando que todos nós temos necessidades e deficiências, apesar de umas serem mais visíveis do que outras. As duas guerras mundiais, quando um enorme número de pessoas que, então sadias, voltaram para casa com algum tipo de mutilação, também contribuíram para aumentar a consciência de que os portadores de necessidades especiais são titulares de direitos como quaisquer outros.

Hoje, considero que estamos vivendo um momento de transição de uma cultura discriminatória com relação ao diferente para uma cultura de inclusão, em que o diferente é aceito não por ser diverso, mas porque o diverso enriquece. É esse o grande desafio atual: construir uma nova cultura de inclusão, na qual o acolhimento da diferença se faça no reconhecimento do outro como igual, como parceiro, como par. Na Educação, isso implica a consciência de que, desde o ato educativo mais simples da pré-escola, é preciso garantir aos portadores de necessidades educacionais especiais um lugar garantido nas salas comuns das classes comuns.

>> Quais os obstáculos que teremos de superar para construir essa nova cultura nas nossas escolas?
JC>>
A criação de uma nova cultura é um processo lento, que inclui uma série de desafios. Um deles diz respeito às mudanças físicas e estruturais, que são necessárias para permitir a inserção de alunos com necessidades especiais nas salas e escolas regulares. Outra questão é sensibilizar as crianças dessas escolas para a questão da inclusão. Um menino que é manco, cego ou tem algum outro tipo de deficiência, pode ser objeto de chacota ou discriminação pelos colegas. O terceiro desafio, e o mais importante deles, refere-se à qualificação dos professores. Não adianta você colocar um surdo numa sala onde o professor, por mais boa vontade que tenha, não está preparado para dominar a linguagem de sinais. E ainda são raros os que estão. Temos que pensar numa preparação consciente, conseqüente, e rápida ao mesmo tempo, dos educadores.

>> Como o professor pode obter esse preparo?
JC>>
Isso deveria ser uma tarefa das escolas de Educação. A Universidade tem por obrigação dominar o que existe de mais avançado sobre esse assunto e, com isso, criar uma geração de professores preparados. Além disso, as Secretarias Estaduais e o
MEC têm a obrigação de propiciar aos professores que já estão em exercício uma atualização. Trata-se de um trabalho sofisticado, difícil, mas muito estimulante e desafiador.

>> Quais os instrumentos legais que existem hoje no país voltados à Educação Inclusiva?
JC>>
Citarei os mais importantes. O primeiro é a
Constituição Federal, artigo 208, inciso terceiro, que postula que crianças com necessidades especiais sejam atendidas preferencialmente por escolas regulares. Depois, temos a Lei de Diretrizes e Bases, que tipifica melhor o princípio genérico da Constituição, o Plano Nacional de Educação e a Declaração da Guatemala (aprovado em 2001, o texto da “Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência”, cujas recomendações se tornaram lei de caráter nacional no Brasil. Temos, ainda, a interpretação a esses quatro instrumentos legais de grande porte dada pelo Conselho Nacional de Educação através de dois Pareceres – o 17/2001 e o 4/2002 – e de uma Resolução – a 2/2001. São estes últimos que chegam mais próximos das escolas, já que traduzem os quatro grandes equipamentos legais.

>> Qual a vantagem da Educação Inclusiva em relação à Educação em salas ou escolas especiais?
JC>>
A riqueza da diversidade. Eu tive uma parente com Síndrome de Down. Ela era o pivô da família em termos de afetividade, de sensibilidade, de emotividade, de memória. Com a diversidade, um grupo ganha novos valores. Há um jogo, que ainda não sabemos fazer muito bem, mas temos de aprender, que é conviver com a diferença. Mais do que tolerar, que é muito pouco, ele implica a aceitação do diferente como algo que agrega.

>> Quais os efeitos negativos que podem existir quando um aluno com necessidades especiais é incluído numa sala de aula regular sem ser efetivamente integrado?
JC>>
O risco que existe aí é termos uma exclusão sofisticada com capa de inclusão. Isso significaria legitimar a exclusão camuflando-a atrás do conceito de inclusão. Dessa forma, exclui-se duplamente, somando à exclusão uma versão mais sofisticada dela mesma.

>> Alunos com deficiência severa devem ser incluídos em salas regulares?
JC>>
Como disse há pouco, a Constituição fala que as crianças com necessidades educacionais especiais devem ser atendidos preferencialmente nas escolas regulares. A palavra preferencialmente está aí exatamente porque considera os casos de portadores de síndromes múltiplas e profundas. Nestes casos, há a possibilidade de haver o que eu chamo de “momentos especiais”, em salas especiais, e Escolas Especiais para um atendimento mais cuidadoso para aqueles que requerem atenção mais específica. Meu filho teve dificuldades em Matemática e teve de fazer uma recuperação paralela. Eu não me senti ofendido porque a escola propiciou a ele um “momento especial” de recuperação separado dos colegas. Esse momento de recuperação serve para colocá-lo em pé de igualdade com os outros, não para mantê-lo na diferença. O mesmo acontece com os portadores de alguma deficiência. Quando houver uma situação evidente que justifique um momento de separação, ele deve ser feito sim, com todos os cuidados. Mas deverá ser visto sempre como algo complementar, e não como uma situação permanente.

>> O senhor poderia dar algumas sugestões para professores, diretores e pais de como avançar no processo de inclusão?
JC>>
A primeira dica que eu considero fundamental é que os professores, sentindo dificuldade para lidar com alunos com necessidades especiais, organizem-se para demandar às autoridades competentes – aos Conselhos e Secretarias Municipais e Estaduais – iniciativas para suprir a lacuna formativa que tiveram. Em segundo lugar, aconselho que os colegiados estreitem os laços com as famílias, a fim de que elas, que têm todo o interesse numa inclusão, participem do processo. Quanto aos pais, que antes ficavam muito constrangidos porque não havia um equipamento jurídico que os apoiasse, sugiro que, como os professores, reúnam seus esforços e ajam coletivamente para fazer suas reivindicações. Agora uma sugestão às Secretarias: existem hoje muitos filmes que tratam dessa temática, de forma mais ampla ou mais específica. Poderia ser interessante fazer uma lista desses filmes e sugerir, com base neles, atividades extra-escolares para despertar a sensibilização.


Fonte: Blog A Tarde Educação

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Escolas em extremos opostos apontam desafios da educação no Brasil

O Colégio Estadual Madre Paulina, no Itaim Paulista, no extremo leste de São Paulo, fica a cerca de 40 quilômetros do Colégio Vértice, no bairro de classe média do Campo Belo. Mas, em termos de qualidade da educação que os alunos recebem, estas duas escolas estão em dois planetas diferentes.

Raquel, 16 anos de idade, cursa o último ano do ensino médio no Colégio Vértice, o primeiro colocado nacional no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) com uma pontuação média de 749,7. Famílias de classe média, como a de Raquel, precisam fazer um esforço para pagar as mensalidades de R$ 2,7 mil.

Apesar do valor alto, mais de cinco vezes o do salário mínimo, há uma longa lista de espera de pais dispostos a pagar pela melhor educação possível para os filhos."Os alunos aqui querem mesmo aprender. Temos o objetivo de entrar nas melhores universidades e isso nos motiva a estudar", diz Raquel. "Eu sei muito bem das oportunidades que tenho e que grande parte da população do Brasil e do mundo não tem."

'Ambiente agradável'
O conjunto de sobrados que forma a escola não tem luxos, mas é um ambiente agradável e com ar de casa do interior, cheio de flores coloridas e pequenas árvores.

"Todas as salas de aula levam a pequenos jardins. Faz diferença estudar num ambiente agradável", diz Walkiria Ribeiro, que fundou a escola em 1976 e hoje é sua diretora geral.

“Acho que o que fizemos de mais importante aqui foi pensar num método de ensino que funcionasse bem no Brasil e para nossos alunos, em vez de ficar adotando fórmulas e modelos prontos que existem por aí”, diz a educadora.

Na Escola Estadual Madre Paulina, Eric - também 16 anos de idade e no último ano do ensino médio – vive numa realidade bem diferente.

Antes de sair pra escola, ele toma café da manhã sozinho, porque a mãe tem que sair às 5h de casa para chegar a tempo na fábrica em que trabalha.

Eric vive num conjunto habitacional ao lado de uma favela e, nos dez minutos de caminhada pelas ruas do bairro até a escola, vê com frequência traficantes em plena atividade, tendo como clientes seus colegas de colégio."

Às vezes, vejo no caminho amigos que não querem vir para a aula, e eu tento convencê-los a vir comigo pra escola. Mas tem muitos que dizem que não adianta porque nós não aprendemos nada ", conta Eric.

'Destruição'
A escola Madre Paulina fica num prédio grande e um tanto quanto sombrio, coberto de pichações e com lixo espalhado pela grama. Dentro, há mais pichações e muitas portas, janelas e móveis quebrados.


Eric admite que os alunos têm a sua parcela de culpa na destruição, mas vê motivos para esse comportamento. "Muitos fazem isso porque não estão motivados, então eles vêm para a escola e fazem pichação e quebram tudo. É até uma maneira de eles se expressarem,” diz o estudante.

Os alunos do Colégio Madre Paulina tiveram nota média de 465,75 no Enem, o que colocou a escola entre as 20 piores de São Paulo. Os alunos com notas mais baixas no Brasil (249,25) foram os da Escola Indígena Dom Pedro 1º, na pequena cidade de Santo Antonio do Iça, no Amazonas.

"Ninguém aqui está motivado, nem mesmo os professores. Como é que pode isso? Esses professores são as pessoas que têm de preparar os médicos e engenheiros do futuro", diz Eric.

Durante os governos dos presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil conseguiu colocar virtualmente todos os seus jovens na educação básica, mas melhorar a qualidade do ensino será o grande desafio para o próximo governo ou, mais provavelmente, para os próximos governos.

"Melhorar a educação é maior desafio que temos para continuar crescendo. Educação demanda tempo, competência e muito cuidado e atenção às crianças e adolescentes, e o sistema educacional no Brasil é carente de todas essas virtudes", diz o professor de relações industriais da Universidade de São Paulo, José Pastore.

"A evolução ao longo dos últimos anos é real e rápida, mas as conquistas ainda são muita pequenas. Apenas cerca de um terço da população no Brasil tem o ensino secundário, enquanto, nos países ricos, este valor atinge 75% a 80%. "

Pastore observa que os trabalhadores brasileiros têm uma média de 7 anos de estudo contra 11 anos na África do Sul, 12 anos nos Estados Unidos e até 13 anos em partes da Europa. "E eles vão para as boas escolas, enquanto os brasileiros vão a escolas ruins."

Corrida desigual
Tanto Raquel como Eric são estudantes esforçados, com boas notas e grandes planos para seus futuros e o do país, mas eles sabem que estão entrando na corrida em condições bastante diferentes.


No Colégio Vértice, há um professor para cada dez alunos e 30% dos educadores têm mestrado. Os salários são em torno de R$ 7 mil por mês.

Raquel passa a maior parte do dia na escola com aulas regulares até a hora do almoço e aulas de reforço a tarde. "Eu costumava fazer muito esporte, como aulas de natação e judô, mas agora a vida é só estudar para me preparar para o vestibular."

Raquel ainda não decidiu se quer estudar Biologia ou Relações Internacionais. "O que é importante para mim é encontrar alguma coisa na minha profissão que me permita ajudar outras pessoas", diz ela.

Eric não tem dúvidas sobre o que ele quer fazer do seu futuro: "Quero ser engenheiro para explorar a imensa riqueza do pré-sal."

Mas isso não é tarefa fácil para os alunos de uma escola como a Madre Paulina, onde os professores têm uma média de 50 alunos e um salário de R$ 900. "Como posso me tornar um engenheiro com o tipo de educação que recebo?"

Mas Eric não desiste. Ao contrário: ele entrou na União Municipal de Estudantes Secundaristas (Umes) e se tornou vice-presidente para Zona Leste de São Paulo na entidade estudantil. "Meu sonho é que outros também possam realizar seus sonhos", diz ele.

Mudanças
O Ministério da Educação admite que o país ainda está muito longe de onde deveria estar, mas diz que mudanças importantes aconteceram durante o período Lula.

"O ensino público tem avançado muito no governo Lula, porque passamos a investir, adotamos uma abordagem sistêmica da educação primária até a universidade e começamos a preparar melhor nossos professores", diz a secretária de Educação do MEC, Márcia Pilar.

Pilar explica que, em 2005, um estudo feito pelo Ministério da Educação avaliou escolas públicas brasileiras com uma nota média de 3,8, numa escala de zero a dez.

"Nosso plano é chegar a 2022, o bicentenário da independência do Brasil, com nota 6, o que seria já perto da qualidade de alguns países da OCDE", diz Pilar.

"Nenhum país jamais conseguiu reformar o seu sistema de ensino em menos de uma geração, mas temos tomado medidas que já têm um impacto importante, como o aumento do número de estudantes nas universidades."

Mas as empresas brasileiras – com a oportunidade de crescimento que o Brasil tem agora – podem não conseguir esperar por uma geração. Para atender às necessidades urgentes da indústria, governo e setor privado têm investido fortemente nas escolas técnicas.

Torneiro mecânico
Nas escolas do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), quase 90% dos jovens se formam com empregos já garantidos. É ótimo para eles, mas mostra a carência do Brasil de trabalhadores qualificados.

"Há uma grande demanda por trabalhadores qualificados, sobretudo em mais áreas de alta tecnologia, como informática e mecatrônica", diz o diretor do sistema Senai no Estado de São Paulo, Walter Vincioni.

"Mas um problema sério é que as tecnologias com que trabalhamos são muito sofisticadas e aprender a usá-las requer uma boa formação básica que muitos dos alunos que recebemos aqui não têm, infelizmente. "

No primeiro andar do Senai Roberto Simonsen, no bairro Paulistano do Brás, está um antigo torno cuidadosamente restaurado, que o adolescente Luiz Inácio da Silva usou no início das anos 60 para aprender o ofício de torneiro mecânico.

Embora tenha apenas completado a educação fundamental no ensino regular, o curso profissionalizante lhe abriu caminho para se tornar uma metalúrgico, um líder estudantil e, finalmente, o presidente Lula. Entretanto, a história é a exceção que confirma a regra: não é fácil de quebrar as barreiras das diferenças sociais sem acesso à educação.

"Está provado que, no Brasil, a educação é o caminho mais rápido para a mobilidade social. Temos tal força de trabalho pouco qualificada que qualquer conhecimento adicional, mesmo que pequeno, é suficiente para melhorar bastante de vida", diz o professor Pastore.

Propostas
O professor disse que não ouviu, dos candidatos à Presidência, "nada realmente interessante ou concreto sobre a educação."Em sua opinião, a própria sociedade também precisa ser mais ativa.

"O grande problema é que, em um país onde a educação nunca foi prioridade, muitos pais estão felizes simplesmente porque agora seus filhos vão à escola e, portanto, não exigem mais", diz ele.

"Precisamos encontrar maneiras de unir a sociedade para lutar por mais qualidade na educação. As pessoas no Brasil têm de perceber como isso é importante."

Fonte: UOL 28/09/2010

Prêmio Instituto Claro - Novas formas de Aprender e Empreender

O Instituto Claro lançou a edição de 2010 do Prêmio Instituto Claro – Novas formas de Aprender e Empreender. O objetivo é fomentar o empreendedorismo na educação e no desenvolvimento comunitário, reconhecendo e articulando os agentes, de forma a tornar ainda mais transformadoras as suas ações. Serão R$ 150 mil em prêmios, distribuídos conforme o regulamento, que você ver no site: www.institutoclaro.org.br/instituto-claro/projetos/

Veja abaixo as categorias do prêmio:
Inovar na Aprendizagem
Práticas e oportunidades de aprendizagem inclusiva que criam novas formas de aprender utilizando as tecnologias de informação e comunicação como parte da inovação. Os projetos propostos precisam estar em fase de implementação, aprimoramento ou expansão. São exemplos de temáticas adequadas a gestão educacional, os conteúdos pedagógicos e a formação e capacitação de educadores.

Inovar na Comunidade
Iniciativas que, por meio do uso inovador das tecnologias da informação e comunicação, melhoram as condições de vida da comunidade nos planos social, ambiental e esportivo, entre outros. As ações devem estar em fase de implementação, aprimoramento ou expansão e serem construídas dentro e fora da comunidade, enfocando áreas como promoção de cidadania, ajuda humanitária e geração de renda.

Los jóvenes y el diario en la era de las pantallas

Compartilhamos abaixo artigo de Roxana Morduchowicz, Diretora do Programa Escola e Meios do Ministério da Educação da Argentina, publicado no jornal Página 12, de Buenos Aires, no dia 24 de setembro. Ela participou como conferencista do Congresso da Associação Mundial de Jornais, realizado en Londres, na semana anterior e comentou o que viu por lá. Boa leitura!

Por Roxana Morduchowicz
Unos 200 diarios de todo el mundo se reunieron la semana pasada en un congreso en Londres para analizar su futuro. Más allá de las realidades y los contextos, todos parecen coincidir en los mismos interrogantes: ¿cuál es el lugar que ocupará el diario impreso en este nuevo universo de pantallas? ¿Cómo hacer más atractivo el periódico digital para un público que está abandonando el papel por su versión “on line”?

Ningún editor cree que el diario tradicional vaya a desaparecer por completo. Siempre habrá un público que, aunque minoritario, le será fiel. Sin embargo, la tendencia, en los próximos diez años, es que la gran mayoría de la gente, en todo el mundo, lea el periódico por Internet.

Según los expertos que se dieron cita en Londres, en los próximos cinco años, más gente accederá a Internet por el celular que por la computadora. Y si esto es así, los usuarios elegirán leer la información en la pantalla del móvil, mientras viajan en colectivo o en subte, cuando caminan por la calle o mientras esperan en la cola, por un trámite.

Tan seguros están los diarios de que su futuro está en la web, que muchos de ellos ya cuentan con departamentos especiales que exploran cómo presentar la información, según la plataforma que quiera consultar el lector. Es que el diario ahora, puede leerse en la computadora, en el celular o en el ipad... La información en cada soporte tendrá pronto su propia identidad y perfil, para hacer más atractiva la lectura según la plataforma elegida.

¿Y qué sucederá con los jóvenes? ¿Qué elegirán leer? Aun cuando todos vivimos en un mundo de pantallas, las nuevas generaciones son quienes más rápidamente se apropian de las tecnologías. Efectivamente, los jóvenes están acostumbrados a tener “todo ya, en simultáneo y gratis”. Descargan juegos, bajan música, ven películas y buscan información en la pantalla de su celular o en la de la computadora, al instante, todo al mismo tiempo y sin pagar...

En ellos piensan también los editores de los diarios más importantes del mundo, cuando analizan el futuro de los diarios.

Los jóvenes de hoy son la generación multimedia: mientras ven televisión, navegan por Internet, hablan por celular, escuchan música y hacen la tarea. Todo al mismo tiempo, en múltiples plataformas y de manera fragmentada. De hecho, el “zapping” dejó de ser para ellos una conducta frente al televisor, para ser una actitud ante la vida. Los chicos “zappean”, abren y cierran ventanas todo el tiempo, sin ningún inconveniente.

Por esta fragmentación en la que todos vivimos, es precisamente que el diario británico The Independent incorporó en su página 2 una sección fija que –aludiendo a Twitter– sintetiza las noticias del día en 140 caracteres cada una.

Una de las más grandes atracciones del congreso fue escuchar al dueño y editor del prestigioso diario norteamericano The New York Times, Arthur Sulzberger, quien confirmó que, a partir del 1º de enero, comenzarán a cobrar la edición on line del diario. Nadie tiene certeza sobre lo que harán los lectores que hoy eligen leer The New York Times en Internet. Pero, ¿qué sucederá con los jóvenes, una generación acostumbrada a hacer todo en la pantalla, pero gratis?

El editor del diario neoyorquino e incluso su colega del Washington Post están convencidos de que si se les ofrece un servicio diferente y atractivo, los jóvenes también querrán pagarlo. De hecho, sostienen, ya pagan por algunos juegos que no pueden bajar gratis y pagan también cuando quieren escuchar música con buena calidad de sonido (en sitios pagos).

Así, si se les ofrece chatear con su deportista o su artista favorito o si reciben actualización
personalizada sobre un tema tecnológico que les interesa, información privilegiada sobre una película que esperan, o datos sobre el recital musical “del momento”, seguramente –piensan los editores– pagarían el servicio.

Nadie puede asegurarlo. Con cambios tecnológicos tan dinámicos y constantes, nadie se anima a garantizar nada. Los adolescentes de hoy están en la mira de todos los editores. Los diarios necesitan pensar cómo llegar mejor a ellos.

Porque es una generación que nació con Internet. Porque ya no usan un medio a la vez. Porque viven entre pantallas. Y porque las usan casi con exclusividad.
Ellos son los lectores de mañana. Y en ellos piensan los editores hoy.

* Directora del Programa Escuela y Medios en el Ministerio de Educación de la Nación. Participó como conferencista invitada del Congreso de la Asociación Mundial de Diarios, realizado en Londres.
Fonte: www.pagina12.com.ar/diario/sociedad/3-153729-2010-09-24.html

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Lei obriga escolas a terem cadeiras para obesos

Instituições de ensino públicas e particulares, de escolas a universidades, precisarão ter cadeiras especiais para obesos, sob pena de serem multadas em R$44.670 (22.132 Ufirs). A determinação deverá ser observada também em locais onde são realizadas provas de concursos. A lei estabelecendo a medida entrou em vigor no dia 23/09.

- É uma medida positiva. Os estudantes passam a maior parte do tempo sentados durante a aula e é preciso que tenham o mínimo de conforto. Só não sei avaliar se isso vai se tornar mais uma forma de discriminação. Temos reivindicado que o mesmo ocorra nos ônibus. Nos Estados Unidos, por exemplo, isso já é comum - disse a endocrinologista Rosana Radominski, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).

As novas cadeiras terão que seguir determinações do Instituto de Pesos e Medidas do Rio (Ipem-RJ). Nas escolas estaduais, no entanto, as cadeiras ainda não estão disponíveis. A Secretaria estadual de Educação ainda estuda como implantar a medida.

Fonte: O Globo (RJ)/ Texto: Rafael D"Angelo

“Ensino Noturno” livro descreve projetos diferenciados

O ensino noturno é uma realidade brasileira de longa data, e estava na hora desta prática educativa ser pauta entre alunos, professores e outros especialistas.

Por isso a obra
“Ensino Noturno”, de Laurinda Ramalho de Almeida desempenha um importante papel na educação: a função de repensar métodos de aula que despertem nos alunos a vontade de aprender e nos professores a vontade de ensinar.
A validez da proposta se deve às aplicações do Projeto Noturno, iniciativa que contou com a participação de 152 escolas do Ensino Médio da rede pública do Estado de São Paulo, com a característica delas próprias criarem e executarem propostas originais baseadas nos problemas encontrados dentro de seus muros escolares. A autora acompanhou de perto o trabalho desenvolvido em seis escolas no ano de 1986.
Retomar os dados coletados em entrevistas com alunos, educadores e seus coordenadores para a produção do livro se deve à revalorização do tema cada vez mais atual, e também pelas “vozes entusiasmadas, às vezes embargadas pela emoção, dos diretores, coordenadores, professores e alunos que participaram do Projeto e me concederam seu tempo e suas ideias, acreditando que o seu falar faria alguma diferença para a melhoria do ensino noturno”, relata Almeida.

Entre as propostas sugeridas e aplicadas pelas diferentes escolas, percebe-se em comum a vontade em construir uma ligação de mais respeito e afeto com o aluno. Por isso, houve a preocupação em oferecer merendas fartas, tolerância e adequação de horários para alunos com compromissos (como trabalho), incentivo da própria sala de aula ser um local de estudo para as provas, plantões, debates e palestras, entre outros.

“Ensino Noturno” é repleto de depoimentos de todos os envolvidos, o que constitui e constrói uma visão muito particular e democrática das aplicações das aulas e seus resultados.

“Ensino Noturno”
Autora: Laurinda Ramalho de Almeida
Editora: Edições Loyola
Páginas: 112
Quanto: R$ 18
Onde comprar: Pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/livrariadafolha/802442-ensino-noturno-descreve-projetos-diferenciados-para-melhoria-da-educacao.shtml

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Na era da Internet, mural offline vira canal de debate entre alunos de escola paulista

Se grande parte do interesse dos adolescentes está nas redes sociais, blogs e e-mails, os alunos de sétima e oitava série da Escola Estadual Carlos Maximiliano Pereira dos Santos, no bairro da Vila Madalena, na capital paulista, têm seguido por um caminho na contra mão dessa tendência para promover debates: um jornal mural, feito com recortes de revista, papéis coloridos e espaço para os alunos comentarem reportagens.

Com uma caneta na mão, os estudantes deixam no mural o que pensam a respeito da atuação do grêmio escolar, de casos de bullying e sobre perda da virgindade. Os responsáveis por levantar pautas, redigir reportagens e colar imagens do jornal “Junto e Misturado” são os 15 alunos da oficina de comunicação da escola, oferecida no contra turno das aulas, já que a escola estende a jornada educacional das 7h às 16h.

“Alguns alunos sentem falta da facilidade de pesquisar na Internet, mas percebemos que usando revistas e atividades manuais eles produzem de maneira mais criativa”, avalia o educador da oficina, Wagner da Silva. “Um dos participantes tem acesso à Internet no videogame portátil. Mas no dia que ele não levou [o aparelho], produziu de maneira mais livre e rápida”, observa.

O jornal mural é publicado, em média, a cada três semanas. A última edição trouxe para os estudantes a história da camisinha, além de impressões sobre perda da virgindade. A anterior cobrou o grêmio estudantil sobre as propostas prometidas na campanha. Em todas as edições existe um espaço para os leitores escreverem suas opiniões. O próximo “Junto e Misturado” deve abordar opções sexuais dos jovens.

“Uma professora contou que passou uma atividade de comunicação e os alunos da oficina questionaram sobre reunião de pauta. Eram etapas que ela não conhecia e aprendeu com eles, invertendo a ordem de aprendizagem”, conta Silva. “Com a oficina, os alunos passaram a fazer análises mais criticas e a colocar mais o que pensam”.

As oficinas de comunicação acontecem desde abril de 2008 e fazem parte do projeto Escola do Bairro, que tem o objetivo de promover educação integral na escola, unindo conhecimentos curriculares e saberes locais, integrando pais e professores. O projeto une ações desenvolvidas no Teatro da Vila e na Escola Técnica Estadual Guaracy Silveira, que funcionam no mesmo local da escola Maximiliano.

Além das oficinas de comunicação, os estudantes também podem participar de exibições de filmes e aulas de teatro e de canto. Desde junho, a escola conquistou apoio financeiro para manter as ações, por meio do Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Funcad) da cidade de São Paulo. Com o financiamento, a expectativa é a manutenção de uma equipe para o projeto e a replicação da iniciativa em outras escolas.
Fonte: Aprendiz

Boa gestão é tão importante quanto investimento na educação

Participantes do debate ''A Capacidade do Brasil - O Papel da Educação'', promovido pela BBC Brasil e pela rádio CBN na segunda-feira, 21/09, afirmaram que o Brasil precisa ir além do consenso de investir mais no ensino e passar a melhorar a gestão das escolas e faculdades.

O conselheiro da ONG Todos pela Educação, Mozart Neves Ramos, disse que o Brasil investe no ensino menos que seus vizinhos. Enquanto Argentina, Chile e México gastam por ano cerca de US$ 2 mil com cada aluno, o Brasil investe cerca de US$ 1,4 mil. "Se a gente não profissionalizar a gestão, na primeira chuva esse dinheiro vira lama."

Para o economista e professor da FEA-USP e do Insper, Naércio de Menezes Filho, o gasto do governo com cada aluno é tão pequeno que, em alguns casos, o investimento anual equivale a uma mensalidade de escola privada. "Mas nem sempre os municípios que investem mais têm um desempenho educacional melhor. Não basta aumentar os recursos, é necessário aprimorar o modo como essa verba é usada", afirma Menezes.

Resistências políticasA diretora-executiva da Fundação Lemann, Ilona Becskeházy, disse que o primeiro passo seria aplicar a lei existente para regulamentar o investimento em educação. Se a lei for colocada em prática, o gasto do governo passaria de R$ 90 bilhões para R$ 190 bilhões por ano. "É preciso então dobrar o gasto", disse ela, observando que há "resistências" a esse investimento.

Para os debatedores, o principal entrave para ampliar recursos e aprimorar a gestão está na falta de vontade política que segundo eles existe em vários níveis do governo. "Muitos prefeitos preferem construir pontes", afirmou Menezes. Segundo os especialistas, questões politicas não representam entraves apenas no âmbito de governos - elas também pode ser um problema dentro dos muros dos colégios.

Ramos afirmou que "é inadmissível que em pleno século 21 ainda haja indicação política para diretor de escola", referindo-se a pressões que, de acordo com ele, são exercidas por líderes comunitários, vereadores e deputados. "Além das ações pedagógicas, um diretor administra o dinheiro público", afirmou. Menezes lembra ainda que há graves problemas de treinamento dos diretores: "Muitos não sabem lidar com números, por exemplo."

Pobreza inominávelBecskeházy dá a medida do custo dessa má administração: "O dinheiro até chega às Secretarias (de Educação), mas não na sala de aula." Nesse cenário, segundo a diretora, o que se vê Brasil afora são secretarias com muitos funcionários de um lado e salas de aula extramente pobres. "Mesmo aqui em São Paulo, que vem investindo bastante na educação, você entra na sala de aula e vê uma pobreza inominável."

Para Menezes, os problemas com gestão são uma boa oportunidade para escolas públicas aprenderem com escolas, e também empresas, privadas. "As particulares já trabalham para melhorar as práticas gerenciais, para criar um clima propício para o aprendizado e para avaliar constantemente os alunos." Além de investir na capacitação dos diretores, os especialistas foram unânimes em defender a valorização dos bons professores. "A carreira (de magistrado) tem de ser mais promissora", afirma Ramos.

Menezes diz que a questão não é apenas aumentar salários. "É preciso criar um mecanismo que atrele a progressão na carreira do professor ao aprendizado do aluno." Para ele, somente ao implementar a meritocracia você consegue atrair as melhores cabeças para ficar diante da lousa.
Realizado no Espaço Reserva Cultural, em São Paulo, o debate foi o segundo da série "O Futuro do Brasil". O próximo encontro acontece na próxima segunda-feira, dia 27, e tem como tema "O Brasil no Mundo - Política Externa e a Defesa do Meio Ambiente".

Participarão do encontro Ricardo Seitenfus, representante da OEA no Haiti, o ex-ministro das Relações Exteriores Luiz Felipe Lampreia, José Eli da Veiga, professor da Faculdade de Economia da USP, e Sergio Besserman, professor de Economia da PUC-RJ.
Fonte: BBC Brasil

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Você é assim?


Escolas de Embu das Artes criam sites para divulgar atividades culturais

Procurar pautas inéditas, entrevistar fontes, escrever textos e fotografar eventos. O que parece ser a rotina de um jornalista é, na verdade, o dia a dia dos alunos de três escolas públicas de Embu das Artes (SP), que criaram blogs para que os estudantes divulguem atividades culturais que ocorrem no município a preços populares. Os eventos sugeridos custam até R$ 5.

Os blogs Asteca Catraca (Escola Estadual Maria de Almeida Asteca), Freire Catraca (Escola Municipal Paulo Freire) e Mauro Catraca (Escola Municipal Mauro Ferreira) são atualizados por alunos de 9 a 15 anos, que devem pesquisar os eventos oferecidos no município, procurar fotos, redigir textos e publicá-los no site. As atividades acontecem no contra turno das aulas, uma vez que os colégios participantes estendem a jornada das 7h às 14h ou das 11h às 18h.

Por serem consideradas escolas integrais, as ações das chamadas oficinas de mídia farão parte do Programa Mais Educação, uma iniciativa do governo federal que visa ampliar o tempo e o espaço educacional dos alunos da rede pública. A perspectiva é que, até o fim do ano, as escolas municipais Reinaldo da Gama e Elza Marreiro Medina também lancem seus blogs e participem da rede que reúne os sites das escolas em um espaço da Internet, chamada Palco Digital.

“Os alunos se interessaram em saber o que acontece na cidade e em aprender a usar as redes sociais e a editar imagens”, conta a coordenadora da iniciativa, Gisele Kubo. “Eles melhoraram sua capacidade de escrever, fazer pesquisas, seleções e de respeitar outras opiniões. Também passaram a ler jornal. Muitos nem sabiam que tínhamos jornais do município”.

O projeto começou nos primeiros meses de 2010, quando a organização social Faça Parte fez uma articulação com o Ministério da Educação. Na ocasião, o órgão público sugeriu que a Secretaria de Educação de Embu das Artes desenvolvesse o projeto.

Em junho, o Palco Digital foi aberto a outras escolas e associações comunitárias. Até meados de setembro já somavam 75 blogs em Rondônia, Maranhão, Pará, Ceará, Piauí, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

“Sempre sugerimos o uso de plataformas gratuitas, como o Wordpress e o Blogspot”, conta a coordenadora de relações com as escolas do Faça Parte, Luiza Marcondes. “A proposta é que os alunos façam a produção, que eles tenham bagagem cultural para ir atrás do que se interessam e que usem as redes sociais para divulgar eventos e cobrar coisas que faltam no seu município”.

A perspectiva do Palco Digital é fazer uma parceria com o Ministério da Cultura para que a iniciativa seja implantada em Pontos de Cultura.

Fonte: Portal Aprendiz/ Texto: Sarah Fernandes

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Estante 2

Compartilhamos pesquisa da Agência de Notícias dos Direitos da Infância - ANDI sobre como a educação é retratada na mídia impressa. A pesquisa é de 2005, mas vale a pena ler a publicação para compreender os aspectos metodológicos e a análise da mesma. Quem sabe você não resolve fazer uma pesquisa parecida?!

A EDUCAÇÃO NA IMPRENSA BRASILEIRACitação: AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DOS DIREITOS DA INFÂNCIA e MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO – A educação na imprensa brasileira: responsabilidade e qualidade da informação. Brasília, 2005.

Para acessar a publicação basta clicar aqui!

Resumo:Este documento apresenta resultados da pesquisa A Educação na Imprensa Brasileira, em sua versão preliminar que teve a finalidade de subsidiar as discussões do seminário nacional A Educação na Imprensa Brasileira: Responsabilidade e Qualidade da Informação, realizado no dia 18 de maio de 2005, em São Paulo.Compõem o primeiro bloco da publicação um Resumo Executivo – com um breve apanhado dos principais dados da pesquisa –, seguido de um Panorama Geral que apresenta uma avaliação aprofundada, dividida em 10 seções, dos diversos resultados quanti-qualitativos do estudo. Ao final, é descrita a metodologia utilizada na pesquisa e apresentado o rol dos consultores que participaram da elaboração das reflexões contidas no documento.A segunda parte da publicação agrega, em seus 13 capítulos, considerações sobre importantes aspectos da cobertura jornalística acerca de temáticas específicas relacionadas à Educação. Ao final, o ultimo capítulo oferece dados adicionais sobre a construção da notícia.

Pesquisa:A pesquisa avaliou ao todo 5.362 textos relacionados à Educação, publicados por 57 jornais durante o ano de 2004. A metodologia de análise das notícias foi aplicada de maneira diferenciada aos 3.976 textos jornalísticos que tratavam a Educação como foco principal, e aos 1.386 textos em que a menção à Educação era lateral. A amostra foi obtida por meio de 36 palavras-chave relacionadas ao tema.

Artigos:
* Richard Hartill – Mestre em Administração Pública, especialista em políticas de emprego e setor informal e diretor de Programa para a América do Sul da Save the Children Reino Unido
* Marcelo Coelho – Folha de S. Paulo
* Rosana Heringer – Coordenadora-geral de programas da Action Aid Brasil
* Jarbas Novelino Barato – Doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mestre em tecnologia educacional pela San Diego State University

Entrevistas:
* Antônio Góis – Folha de S. Paulo
* Fernando Rossetti – Diretor executivo do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE)

Realização: Ministério da Educação/ ANDI
Apoio:Unesco
Fonte:
www.informacao.andi.org.br/ culturamidiaeducacao.blogspot.com

Estante

Abaixo, compartilhamos algumas publicações que podem ser úteis a educadores, jornalistas e demais interessados em temas como trabalho infantil e exploração sexual de crianças e adolescentes. São assuntos complexos que precisam ser bem compreendidos!

TRABALHO INFANTIL: UM GUIA PARA JORNALISTAS

Citação: VIVARTA, Veet (Supervisão editorial); PROGRAMA INTERNACIONAL PARA ELIMINAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL (IPEC) – Piores formas de trabalho infantil: um guia para jornalistas. Brasília: ANDI; OIT, 2007.

Resumo:Lançado em 2007, o livreto é um convite para que profissionais das redações de todo o país contribuam, de forma mais efetiva e sistemática, para a promoção do debate sobre as Piores Formas de Trabalho Infantil junto à sociedade e ao poder público.

Resultado da contribuição de jornalistas de diversos veículos, que construíram as recomendações aqui publicadas, este guia sistematiza uma demanda da própria imprensa: a necessidade de diversidade de fontes de informação. A expectativa é que os efeitos práticos desta iniciativa sejam refletidos em novas conquistas para o Brasil na prevenção e erradicação das piores formas de trabalho infantil.

Realização:ANDI/ OIT

Para acessar a publicação, basta clicar aqui!

EXPLORAÇÃO SEXUAL COMERCIAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES: GUIA DE REFERÊNCIA PARA JORNALISTAS

Citação: AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DOS DIREITOS DA INFÂNCIA – Exploração sexual de crianças e adolescentes: guia de referência para a cobertura jornalística. Brasília: ANDI, 2007.

Resumo:Lançada em 2007, a publicação reúne orientações relevantes para o trabalho de repórteres e editores sobre temas relativos à Exploração Sexual Comercial e Crianças e de Adolescentes (ESCCA), crime que se constitui uma das mais graves violações dos direitos infanto-juvenis.

Os conteúdos organizados neste guia não esgotam as inúmeras possibilidades de enfoque do tema, mas servem como referência inicial para os jornalistas, oferecendo uma abordagem conceitual do fenômeno e elencando as principais políticas de enfrentamento e as diretrizes da legislação nacional e internacional.

Sugestões de pautas, glossário e guia de fontes complementam o material. Com esse trabalho, a ANDI e a Petrobras pretendem contribuir para aprimorar o tratamento editorial dispensado pela imprensa brasileira ao assunto, fomentando assim um debate consistente sobre essa forma de violência no âmbito da agenda pública.

Realização: ANDI
Patrocínio: Petrobras
Apoio: Unicef

Para acessar a publicação, basta clicar
aqui!

A internet obriga a pensar de forma ligeira e utilitária

Nicholas Carr (foto) cutucou a onça da internet com um argumento longo e bem-desenvolvido no livro "The Shallows -What the Internet is Doing to Our Brains" (que poderia ser traduzido como "No Raso -O que a Internet Está Fazendo com os Nossos Cérebros" e será lançado no Brasil pela Agir).

Em poucas palavras, a facilidade para achar coisas novas na rede e se distrair com elas estaria nos tornando burros. O livro já vendeu mais de 40 mil cópias nos Estados Unidos. Está sendo traduzido em 15 línguas.

Carr recusa a pecha de alarmista, mas sua preocupação com as "tecnologias de tela" é tanta que ele recomenda a restrição do acesso de alunos à internet nas escolas. Não descarta que a rede possa evoluir para a veiculação de ideias menos superficiais, mas tampouco vê indícios de que irá nessa direção. Leia abaixo trechos da entrevista telefônica dada por Carr da casa de parentes em Evergreen, Colorado, onde se refugiou depois de evacuado por força de incêndios florestais perto de sua casa nas montanhas Rochosas.

Folha - O livro deplora a internet como ameaça à mente formada pela invenção de Gutenberg, que nos deu o Renascimento e o Iluminismo. Mas Gutenberg também não destruiu a mente e a filosofia medievais? Ou seria mais preciso dizer que as invenções amplificam e continuam a cultura do passado?

Nicholas Carr - Toda tecnologia de comunicação e escrita traz mudanças. Isso é verdadeiro mesmo para o período anterior a Gutenberg, com a invenção do alfabeto, pela maneira como alterou a memória humana e nos deu maior capacidade de intercambiar informação. A internet, assim como tecnologias anteriores, amplifica certos modos de pensar e certos aspectos da mente intelectual, mas também, ao longo do caminho, sacrifica outras coisas importantes.

Se a leitura e a reflexão profundas estão em risco, como explicar o sucesso de coisas como o Kindle e seu livro?

As coisas não mudam de imediato. O número ao menos dos que leem livros sérios vem caindo há um bom tempo, mas haverá pessoas lendo livros por muito tempo no futuro. Meu argumento é que essa prática está se mudando do centro da cultura para a periferia, e as pessoas começam a usar a tela como sua ferramenta principal de leitura, não a página impressa. Acho também que, à medida que mudamos para dispositivos como Kindle ou iPad para ler livros, mudamos nossa maneira de ler, perdemos algumas das qualidades de imersão da leitura.

O que pode ser feito em termos práticos e individuais para resistir a tal tendência?

Não escrevi o livro para ser do tipo de autoajuda. A mudança que estamos vendo faz parte de uma tendência de longo prazo, na qual a sociedade põe ênfase no pensamento para a solução rápida de problemas, tipos utilitários de pensamento que envolvem encontrar informação precisa rapidamente, distanciando-se de formas mais solitárias, contemplativas e concentradas.
Por outro lado, como indivíduos, nós temos escolha. Mesmo que a desconexão se torne mais e mais difícil, pois a expectativa de que permaneçamos conectados está embutida na nossa vida profissional e cada vez mais na visa social, a maneira de manter o modo mais contemplativo de pensamento é desconectar-se por um tempo substancial, reduzindo nossa dependência em relação às tecnologias de tela e exercendo nossa capacidade de prestar atenção profundamente em uma única coisa.

As escolas deveriam restringir o uso da internet pelos alunos, em lugar de se lançar de cabeça na tecnologia?

Sim. Nos EUA tem havido uma corrida para considerar que computadores na escola são sempre uma coisa boa, até mesmo uma confusão da qualidade do ensino com o tempo que os alunos passam conectados. É um erro.

Certamente os computadores e a internet têm um papel importante a desempenhar na educação, e as crianças precisam aprender competências computacionais, a usar a internet de maneira eficaz. Mas as escolas precisam perceber que essa é uma maneira de pensar diferente de ler um livro. É preciso dar tempo e ênfase, no ensino, para desenvolver a capacidade de prestar atenção em uma única coisa, em vez de mover sua atenção entre diversas coisas. Isso é essencial para certos tipos de pensamento crítico e conceitual.

O sr. consideraria a internet responsável pela epidemia de casos de transtorno de deficit de atenção e hiperatividade (TDAH)?

Não tenho certeza de que a ciência sobre isso seja definitiva, ainda. Há indicações de que as tecnologias que as crianças usam, de videogames a Facebook, possam contribuir para TDAH. É algo que precisa ser mais estudado. Para os pais preocupados com a capacidade de seus filhos de manter a atenção, poderia ser apropriado restringir as tecnologias.

A TV e o rock também já foram acusados no passado de ameaçar os intelectos jovens, mas não há carência de novos escritores e artistas.

Sempre que uma tecnologia nova e popular aparece, há pessoas que adotam uma visão exageradamente otimista, de uma utopia social, e pessoas que adotam uma visão exageradamente negativa, de que ela vai destruir a civilização. No livro tento não adotar uma visão unilateral da tecnologia, porque acho que ela tem muitas coisas boas, do acesso mais fácil à informação até novas ferramentas para autoexpressão.

Meu temor é que, na medida em que empurramos celulares, smartphones e computadores para as crianças em idades cada vez mais precoces, elas não venham a desenvolver as habilidades mentais mais contemplativas e atentas. Isso seria uma grande perda para a cultura, pois a expressão artística requer reflexão mais calma, tranquila, introspectiva.

É concebível que a internet possa mover-se numa direção que combine os poderes da informação visual com os do texto para promover pensamentos em profundidade?

Tudo é possível, mas cada tecnologia que usamos para fins intelectuais tem certos efeitos e reflete um conjunto particular de premissas sobre como devemos pensar. A internet, sendo um sistema multimídia baseado em mensagens e interrupções, tem uma ética intelectual que valoriza certos tipos de pensamento utilitários, voltados para a solução de problemas, que encoraja as multitarefas e a rápida transmissão ou recepção de migalhas de informação. A tecnologia pode mudar rapidamente, mas não vejo razão para pensar que vá [noutra direção].

Fonte: Folha de S. Paulo - 20/09/2010

O parlamento e a educação

Dia 21 de setembro, às 9h30min, a Ação Educativa e o Observatório da Educação realizarão o debate “Desafios da Conjuntura – O parlamento e a educação” com transmissão ao vivo pela internet.

O objetivo do debate é criar uma reflexão sobre a responsabilidade do legislativo na formulação e monitoramento das políticas educacionais.

Para acompanhar o debate, basta acessar: www.observatoriodaeducacao.org.br

Educomunicador estimula a circulação da informação

O educomunicador é o responsável pela gestão de projetos que unem comunicação eEducação. Ele pode trabalhar em escolas, no terceiro setor, em empresas de mídia e com pesquisa.

Você já ouviu falar em um educomunicador? Se a resposta é "não", fique tranquilo. O profissional ainda é desconhecido também pelas empresas.

O educomunicador é o responsável pela gestão de projetos que unem comunicação e Educação. Ele pode trabalhar em Escolas, no terceiro setor, em empresas de mídia e com pesquisa.

Na TV USP, o programa "Quarto Mundo" é um exemplo de projeto educomunicativo, em que estudantes do ensino médio e profissionais de comunicação atuam juntos. Os alunos fazem desde a pauta até a edição do programa de TV.

"A comunicação passa a ser um elemento de todo mundo, ela dá voz ao aluno e aoeducador", diz Carlos Alberto Mendes. Ele preside o comitê que implementa uma lei municipal que institui a educomunicação nas Escolas públicas de São Paulo.

A partir da lei, foi criado o programa Educomunicação pelas Ondas do Rádio, que estimula a produção de programas de rádio e TV, blogs e jornais comunitários, entre outras formas de mídia, nas Escolas municipais.

Para João Alegria, 46, gerente de programação, jornalismo e engenharia do Canal Futura, o fato de o mercado de atuação do educomunicador estar em construção não é um empecilho para a formação dos novos profissionais também nas empresas.

Ana Paula Chinelli, 30, diretora de jornalismo da TV USP, diz que, como esse é um campo novo, é preciso "criar conceitos do zero".

A USP criou o curso de licenciatura na área neste ano e passará a oferecer vagas já para 2011. "O professor de comunicação é uma demanda [nas unidades educacionais]", diz Ismar Soares,
coordenador do curso.

Mas a universidade paulista não foi a pioneira. Neste ano, a UFCG (Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba) iniciou as atividades do curso de bacharelado em educomunicação.
A aluna Ana Caroline Araújo, 19, conta que, por ser um curso recente, existem dificuldades. "Tudo o que é novo sofre preconceito", diz.

Fonte: Folha de S.Paulo (SP)/ Texto: Ana Paula Anjos

Comportamento virtual das crianças brasileiras

Os alunos brasileiros passam, em média, quatro horas por dia conectados à internet – 80% em sites de relacionamentos e 72% em programas de comunicação instantânea. Os dados são de pesquisa realizada pela ONG SaferNet Brasil feita em escolas públicas e particulares.

O problema, para a gerente de projetos sociais da ONG Terra dos Homens, Valéria Brahim, é que as famílias e as escolas não estão preparadas para lidar com esse comportamento virtual das crianças e dos adolescentes. Para ela, o fato provoca um duplo debate: é preciso mostrar aos educadores que a internet é uma ferramenta de pesquisa, mas também de crimes.

Outro levantamento da SaferNet mostra que 63% dos pais não colocam limites para os filhos navegarem na rede. Oito entre dez jovens pesquisados têm pelo menos um amigo que conheceu virtualmente, mas 36% das famílias não sabem disso.

Conversando com outros educadores sobre o tema, muitas afirmam que não gostam da internet, que não sabem o que fazer com a rede e que não têm tempo para navegar ou aprender, que a escola não os incentiva para trabalharem com a ferramenta e que não se interessam por ela.

Fonte: Correio do Povo (RS)/ O POVO Educação

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Como a tecnologia e o ensino a distância podem revolucionar a educação

Com o tema “Como a tecnologia e o ensino a distância podem revolucionar a educação”, Luciana Allan, Diretora Técnica do Instituto Crescer (www.institutocrescer.org.br), participou de um debate no progama Urban View, na allTV (www.alltv.com.br), que transitou sobre as possíveis inovações e contribuições que as tecnologias podem proporcionar ao setor da educação.

Para Luciana, especialista em tecnologia aplicada a educação, as novas tecnologias, como iPad, redes sociais e plataformas para educação a distância, têm um considerável potencial para contribuir com a ampliação do acesso e o aumento da qualidade de ensino e aprendizagem no Brasil.

No debate, ela salientou a complexidade de se discutir sobre a contribuição de tecnologias para educação em um país onde ainda há falta de infraestrutura básica nas escolas, com grande número de unidades ainda não informatizadas, deficiência na formação de professores e uma grande parcela de instituições que dificultam o uso de seus computadores pelos alunos.

“É muito complicado falar em novas tecnologias na educação em um país onde não se consegue ainda suprir sequer necessidades básicas. Sem uma política pública efetiva de inclusão tecnológica e social é praticamente impossível avançar nesta área”, explica Luciana Allan.

Veja o vídeo da entrevista:

Luciana Maria Allan - 18/08/2010 - Urban View from Urban Systems on Vimeo.

Atividade com jornal: Expectativa de Vida

Veja como a professora Shirley Aggi Moura, da Escola Mul. Profª Shirley Aggi Moura, de Ponta Grossa/PR, trabalhou com seus alunos de 2º ano do 2º Ciclo o tema expectativa de vida dos paranaenses. Ela faz parte do Projeto Cultural Vamos Ler, do Jornal da Manhã, de Ponta Grossa/PR. Boa leitura!

Escola Mul. Profª Shirley Aggi Moura
Professora: Lucila Eurich da Silva
Série: 2º ano do 2º Ciclo
Programa: Projeto Cultural Vamos Ler (Jornal da Manhã – Ponta Grossa-PR)
Coordenação: Talita Moretto

Objetivos
· Desenvolver habilidades para interpretar, analisar e relacionar informações;
· Refletir acerca da importância de apresentar informações verdadeiras durante o censo;
· Oportunizar a realização de uma aprendizagem significativa, levando o aluno a se defrontar com situações que exijam investigação e trabalho;
· Coletar, comparar dados e tirar conclusões a partir deles;
· Representar dados em tabelas;
· Formar equipes de trabalho e estipular papéis diferenciados;
· Calcular médias aritméticas;
· Efetuar cálculos aproximados e estimativas em situações significativas;
· Valorizar atitudes relacionadas à alimentação e à saúde;
· Valorizar atitudes que promovam a manutenção do bem-estar pessoal e coletivo;
· Apontar e descrever algumas das infrações cometidas no trânsito;
· Reconhecer os comportamentos de risco no trânsito;
· Assumir responsabilidades sobre seu comportamento para preservar sua segurança no trânsito.

Desenvolvimento da atividade:

Os alunos, ao estudarem a população do Paraná, observaram que a expectativa de vida dos paranaenses para o ano de 2010, segundo o IBGE, seria a idade média de 71,83. Surgiu então a curiosidade de saber se aqui, em nossa cidade, a média de vida dos habitantes se encaixava nessa estimativa.
Para verificação, como amostragem, foram guardados dados do obituário a cada jornal recebido no decorrer de quatro semanas.
A turma foi dividida em quatro equipes, sendo que cada uma ficou responsável em fazer o levantamento dos óbitos e registrá-lo inicialmente em uma tabela. Após, fez-se a soma das idades dos falecidos e em seguida apurado uma média.
Cada equipe apresentou e levantou situações que podem diminuir ou aumentar o tempo de vida de um ser humano.

Resultados alcançados:

Foi constatado que a expectativa de vida dos habitantes da cidade está próximo a que foi prevista para o nosso Estado.
Os alunos chegaram as seguintes conclusões: o ritmo de vida agitado, a má alimentação, falta de atividades físicas, desrespeito as normas de trânsito e envolvimento com drogas e álcool, além de outros descasos com a saúde podem apressar a morte de uma pessoa.

Observações feitas pelos alunos:

“Eu entendi que idade média não quer dizer que todas as pessoas viverão até essa idade e sim é uma estimativa.” - Mariane Balhuk – 10 anos
“Fiquei preocupado, pois tenho lido nos jornais ,notícias de muitos acidentes no trânsito em nossa cidade,envolvendo jovens.” - Jackson Swami Lima Florenski -13 anos.

“Quase sempre leio nos jornais notícias sobre doenças , como se prevenir, onde se vacinar e descobertas da medicina.” - Gabrielle Moleta de Paula- 10 anos

“Como a população está vivendo cada vez mais, os governantes devem se preparar para isso.” - Jaine Marinho – 10 anos

“Não sabia que influenciava na economia as pessoas viverem mais.” - Ivan Dias de Lima – 10 anos.


Fonte:Projeto Cultural Vamos Ler/ Jornal da Manhã (Ponta Grossa/PR)

Sugestão de atividade com jornal:“Corpo audiovisual”

A partir de uma matéria sobre cultura afro no jornal A Tarde, a equipe do programa A Tarde Educação sugere uma atividade que pode ser desenvolvida pelos professores com seus alunos. Você também pode selecionar uma notícia de algum jornal do seu estado e fazer algo parecido.

Atividade com jornal

Assunto: “Cultura afro – brasileira”
Temas Transversais: Ética e Pluralidade Cultural
Áreas do Conhecimento: Língua Portuguesa, História, Ciências, Educação Artística e Informática
Matéria sugerida: “Corpo audiovisual”

Propostas:
Sensibilização: levar a imagem da matéria sugerida para os alunos e questionar sobre o que eles percebem na imagem.
Sugerir a visita da turma ao projeto Cinema de Artista realizado pelo Museu de Arte Moderna da Bahia, com entrada gratuita.
Realizar uma feira interdisciplinar que pode levar o título: Cultura afro- brasileira

O projeto poderá ser realizado em quatro momentos:
1º) O primeiro pode ser uma pesquisa sobre a Cultura afro- brasileira no cotidiano. Partindo da realidade de casa, da escola, dos hábitos alimentares e da comunidade dos próprios alunos. Por exemplo, muitas famílias têm pratos que fazem parte de sua tradição africana.
2º) O segundo momento pode ser uma pesquisa histórica sobre como a cultura africana se incorporou no Brasil. Essa pesquisa pode ser realizada na biblioteca da escola, no laboratório de informática e em obras.
3º O terceiro momento pode ser um debate sobre o reflexo dessa cultura no Brasil.
4º) O quarto momento pode ser a montagem de barracas, cada uma dedicada a um aspecto da cultura africana. Por exemplo: Dança, Música, Culinária, etc.

Questões Norteadoras para debate:
-A cultura afrodescendente é legitimada em nosso cotidiano?
-A população se percebe como afrodescendente?
-Existe preconceito e discriminação com afrodescendentes?
-O brasil precisa de ações afirmativas para os afrodescendentes?
-O brasileiro é responsável pela preservação da cultura afrodescendente ?

Dicas
O docente poderá ampliar essa discussão proposta, dependo do assunto trabalho em sala. Bem como, utilizar outras matérias publicadas no jornal envolvendo o tema.

Fonte: Jornal A Tarde, 15 de setembro de 2010. Segundo Caderno, p.1. Salvador/BA.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Congresso possui mais de 250 projetos que criam disciplinas obrigatórias nas escolas

Cerca de um quarto dos projetos de lei na área da educação que tramitam no Congresso atualmente propõe a criação de novas disciplinas ou mudanças no conteúdo do currículo escolar. Um levantamento feito pelo Observatório da Educação contabiliza mais de 250 propostas dessa natureza, entre projetos da Câmara e do Senado.

As proposições dos parlamentares dizem respeito à criação de disciplinas sobre temas diversos como ecologia e educação no trânsito, passando por outros curiosos e específicos como o ensino de esperanto e direitos do consumidor.

A maioria dos projetos que incluem novas disciplinas no currículo escolar é voltada para as áreas do meio ambiente e da cultura de paz. Cerca de quinze membros do legislativo federal possuem propostas sobre pelo menos um desses dois temas.

O projeto de lei que inclui o ensino do esperanto no currículo do ensino médio, de autoria do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), está sendo analisado pela Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados. Criado com o objetivo de se tornar uma língua usada por todos os povos, o esperanto é falado por menos de 0,1% da população mundial, segundo as estatísticas mais otimistas dos sites sobre a língua.

Outro projeto, do deputado federal Lobbe Neto (PSDB-SP), visa criar a disciplina de educação financeira para os currículos de 5ª a 8ª séries do ensino fundamental e do ensino médio. Aprovado no ano passado pela Câmara, o texto foi apensado a outros que abordavam a mesma temática no Senado.

Além de novas disciplinas, também há propostas de incluir matérias que já existem nos currículos escolares, como o projeto de lei do deputado Gilmar Machado (PT-MG), que torna obrigatório o ensino da Geografia em todas as séries do ensino médio. Como essa, há várias outras propostas, sendo a maioria para a disciplina de História.

Nas assembleias legislativas estaduais, as propostas de criação de disciplinas também são recorrentes: somente na Assembleia Legislativa de São Paulo, tramitam mais de 30 proposições desse tipo, que tratam desde “iniciação ao turismo” até o retorno da educação moral e cívica (leia mais
aqui).

“A maioria não vinga”

De acordo com Dermeval Saviani, professor emérito da Unicamp, as medidas que criam disciplinas e conteúdos pelos parlamentares são “exóticas”, e não poderiam ser definidas nesse nível. “É no âmbito das escolas que as normas gerais fixadas pelo Congresso Nacional, pelas Assembleias e pelos Conselhos, devem ser traduzidas na sua composição curricular”, explica.
Ouça a entrevista com Saviani na íntegra.

Para o pesquisador, os parlamentares apresentam projetos relacionados com educação para “mostrar serviço”, e a maioria nem chega a ser aprovada. “E, nos casos em que vingam, essas leias aparecem como distorções, porque vão na contramão da educação na forma de um sistema articulado”, afirma.

Saviani ressalta que as representações dos educadores devem estar atentas ainda à função de monitoramento dos parlamentares. “Devem cobrar não somente a criação de leis que respondam às necessidades do país, mas também uma avaliação da política educacional, para que se aprovem medidas para corrigir eventuais distorções da execução de políticas públicas, como o cumprimento da LDB e o Plano Nacional de Educação.

A atuação dos parlamentares no campo da educação é assunto de mais um debate da série Desafios da Conjuntura, promovido pelo Observatório da Educação da Ação Educativa no dia 21 de setembro, em São Paulo. O objetivo é refletir sobre o papel dos parlamentares na formulação e monitoramento das políticas educacionais, já que o tema é pouco debatido – mesmo no período pré-eleições.



Desafios da Conjuntura: O Parlamento e a educação

Para refletir sobre a responsabilidade do Legislativo na formulação e monitoramento das políticas educacionais, o Observatório da Educação da Ação Educativa realiza mais um debate da série Desafios da Conjuntura: O Parlamento e a educação, no dia 21 de setembro. Para se inscrever, clique aqui.

O debate será transmitido ao vivo com interpretação em LIBRAS e os internautas poderão participar enviando perguntas e comentários em um bate-papo simultâneo, além do twitter
@obseducacao.

Programação:

- "O papel do parlamento na política educacional" – Rubens Barbosa de Camargo – professor da FE-USP

- "O processo legislativo" - Paulo de Senna Martins – consultor legislativo da Câmara Federal
- "Atribuições das diferentes instituições" – Regina Gracindo – membro do Conselho Nacional de Educação
- "Balanço da atuação parlamentar" – Marcos Verlaine da Silva Pinto – assessor parlamentar do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap)
- "Acesso à informação no legislativo" – Cristina Coghi – repórter da Rádio CBN

Desafios da Conjuntura – O parlamento e a educação

Data: terça-feira, 21 de setembro
Horário: de 9h30 às 12h30
Local: auditório da Ação Educativa
Rua General Jardim, 660 São Paulo – SP
Evento gratuito

Fonte/ Informações: http://www.observatoriodaeducacao.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=954:inscricoes-abertas-para-o-desafios-da-conjuntura-sobre-o-legislativo-e-a-educacao&catid=48:sugestoes-de-pautas&Itemid=98.

''Escolas precisam oferecer formação política'', diz especialista

Leia a entrevista de Pedro Bottino, do Todos pela Educação, com a coordenadora do Movimento Voto Consciente, Celina Marrone.

A Educação política vai além de entender o processo democrático, conhecer as atribuições dos representantes eleitos e acompanhar suas ações. Para Celina Marrone, coordenadora do Movimento Voto Consciente, Educação política é, sobretudo, uma forma de o cidadão garantir sua liberdade de escolha. “A liberdade está ligada ao conhecimento, à capacidade de interpretar e de avaliar”, afirma.


Em entrevista por ao Todos Pela Educação, Celina explicou como se comporta o eleitorado brasileiro, comentou a importância da formação política nas escolas e apontou caminhos para a consolidação do processo de participação política.

O Voto Consciente é uma entidade da sociedade civil apartidária e formada por voluntários. Desde 1987, desenvolve ações educativas em comunidades e acompanha o desempenho de vereadores e deputados nas Câmaras Municipais e na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. Veja a íntegra da entrevista:

Todos Pela Educação: A principal bandeira do Movimento Voto Consciente é a Educação política. O que é Educação política e como ela pode melhorar a vida das pessoas?
Celina Marrone:
A Educação política tem vários aspectos, mas o principal é a informação. Alguém que não tem informação não pode ter critério de avaliação. Nós pedimos que as pessoas votem com consciência, e ter consciência significa ter ciência, ter saber, conhecer. Pensando nisso, começamos uma grande batalha para informar em todos os níveis de capacidade intelectual e de formação cultural. Dessa forma, o eleitorado que tem pouca informação pode entender perfeitamente o processo político e fazer suas escolhas.


Todos Pela Educação: No Brasil, é comum ouvir as pessoas dizerem que não gostam de política. Qual é o efeito disso no processo eleitoral e na democracia de um país?
Celina Marrone:
As pessoas não definem muito bem o que é isso. Dizer que não gosta de política, nesse caso, é dizer que não gosta das coisas como estão. As pessoas não gostam da política que está aí, sendo feita pelos políticos que elas votaram e pela qual elas são responsáveis diretas. Meio responsáveis, eu diria, porque sem informação elas não são responsáveis. Essa consciência é que levamos às pessoas.


Todos Pela Educação: A senhora nota um desejo de participação política nas pessoas?
Celina Marrone:
Tenho certeza que há. Caminho pelos bairros mais humildes e vejo que, quando as pessoas abrem o coração, são realmente tocadas pela política. É um absurdo que, até hoje, não se tenha percebido que é preciso uma formação política nas escolas. Não uma formação de política partidária, mas que explique como funciona a nossa democracia, o que é esse sistema e quais são as obrigações daqueles que escolhemos para governar. É simples.


Todos Pela Educação: O eleitor brasileiro ainda vende seu voto?
Celina Marrone:
A população não vota em quem sabe que é corrupto. O eleitor já percebeu que não vale a pena votar em candidato que distribui R$ 100 por cabeça, porque a garantia das necessidades básicas é bem mais cara do que o benefício recebido. Um voto comprado não é só um voto perdido, mas uma desgraça na vida de quem vende.


Todos Pela Educação: Então, já foi superado o tempo em que as pessoas aceitavam que um governante roubasse se tivesse realizações?
Celina Marrone:
Superado, não. O Brasil é muito grande. Nas eleições municipais, principalmente nas cidades pequenas, o trabalho de Educação política prospera rapidamente. Mas em um país enorme como o nosso ainda existem muitos com essa mentalidade.

Todos Pela Educação: O que é mais importante saber sobre os candidatos antes das eleições?
Celina Marrone:
Na hora de escolher o candidato, o eleitor deve observar o partido. É importante saber, por exemplo, se o partido tem muita gente com a “ficha suja”. O Ficha Limpa foi importante para isso, mas não está tudo peneirado. Além disso, os condenados estão recorrendo e, enquanto eles puderem recorrer, mesmo que sejam criminosos, não podem ser excluídos da corrida eleitoral. O povo precisa ficar esperto: tem muita gente que já foi condenada fazendo propaganda eleitoral.


Todos Pela Educação: Onde o eleitor pode se informar sobre isso?
Celina Marrone:
Há o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), ao qual o Movimento Voto Consciente é irmanado. No
site do movimento, existem muitos artigos sobre isso. O Voto Consciente também lançou um site chamado Ficha Pública.

Todos Pela Educação: O que um candidato não pode prometer antes das eleições?
Celina Marrone:
O candidato que é eleito para legislar e fiscalizar não pode prometer que vai gastar dinheiro, que vai construir. O que ele pode fazer é autorizar ou não. Os "fazedores" são os executivos, mas esses precisam ser autorizados. Nem o presidente da República pode fazer alguma coisa se não for autorizado. Essa noção começa a ficar no inconsciente do eleitor e o ajuda a direcionar suas escolhas. Muitos não se lembram em quem votaram nas últimas eleições

porque não escolhem, ouvem palpite. E aí é como palpite de qual cavalo que vai ganhar a corrida.

Todos Pela Educação: A senhora acha que as eleições no Brasil são personalistas?
Celina Marrone:
Hoje em dia, os partidos realmente não têm programa de governo. Vemos por esses tais "puxadores de voto". O que os partidos querem é que esses candidatos tenham uma baciada de votos, para que eles ajudem a eleger os de sempre. Esses são os que têm muito dinheiro de campanha e que têm dono. Eu digo sempre para as pessoas nas palestras do Movimento: “Preste atenção, porque se o candidato tem dinheiro de mais, tem dono. Veja quem é o dono dele, pode ser um dono bom ou um dono ruim”. É por isso que a reforma política é urgente. Acho que a lista fechada seria uma enorme vitória. Precisamos criar uma cultura de filiação partidária e de participação das pessoas na construção dos programas dos partidos.


Todos Pela Educação: É possível garantir participação política depois das eleições?
Celina Marrone:
O trabalho que estamos fazendo tem de continuar. Acho, então, que vamos formar o cidadão não só para que ele vote com consciência, mas para que também opine no levantamento de necessidades dos bairros, que passe a cobrar soluções dos secretários, que exija dos prefeitos que façam audiências públicas verdadeiras. Esse é um mecanismo que traz à população uma consciência. Aí, o povo começa realmente a ter voz e a participação política começa a ser legítima. No fim, o que os candidatos querem é voto. E se o povo tem voz, os políticos começam a obedecer ao povo. É claro que isso é um processo que não acontece do dia pra noite e que, de vez em quando, dá um pouco de aflição porque o Brasil é muito grande. Mas não dá para desesperar.


Todos Pela Educação: A Educação formal pode ajudar o eleitor a votar melhor? Eleitores mais escolarizados tendem a votar com mais consciência?
Celina Marrone:
A Educação desaperta a consciência. Mas eu não diria que o nível de Educação formal, que depende de fatores sociais e econômicos, esteja relacionado a esta consciência. Pelo contrário, pessoas que têm um nível econômico-social elevado podem ser displicentes e não se incomodar com políticas públicas de base. Isso afeta mais os pobres, que realmente precisam de atendimento. Agora, o que eu tenho certeza é que a Educação é necessária de qualquer forma. Se a pessoa é semialfabetizada, não consegue ler uma notícia, tem de perguntar para alguém, tem de confiar em alguém e, então, já não é livre. A liberdade de escolha está ligada ao conhecimento, não à alta escolaridade. À capacidade de interpretar e de avaliar.

Fonte: Todos pela Educação