Compartilhamos abaixo material da revista Nova Escola Especial sobre Leitura Literária.
O texto pode servir de inspiração para trabalhos em sala de aula unindo, inclusive, a literatura e o jornal, que tem sido importante aliado no estímulo à leitura e escrita.
A escola é um ambiente privilegiado para incentivar nos alunos o gosto pela literatura. Para isso, é preciso deixar de lado os questionários e colocar a turma em situações reais de leitura – dar acesso a diversas obras, discutir a história, trocar indicações de autores etc. Para ajudá-lo neste trabalho, reunimos aqui reportagens, entrevistas, planos de aula, vídeos, um jogo interativo e sugestões de livros. Tenha uma ótima leitura!
Oito ações para construir uma escola leitora
Garantir acesso a bons livros e criar um ambiente em que a leitura é rotina são maneiras eficazes de formar leitores de literatura. Veja como tornar isso realidade.
"Dentre os instrumentos inventados pelo homem, o mais impressionante é, sem dúvida, o livro. Os demais são extensões de seu corpo. O microscópio e o telescópio são extensões da visão; o telefone, uma extensão da voz e, finalmente, temos o arado e a espada, ambos extensões do braço. O livro, porém, é outra coisa. O livro é uma extensão da memória e da imaginação." Foi assim, no ensaio O Livro, publicado em Cinco Visões Pessoais, que o escritor argentino Jorge Luis Borges (1898-1986) resumiu a importância da literatura. Por meio dela, é possível conhecer personagens e culturas que fazem revelações sobre a natureza humana (e, portanto, sobre nós mesmos). Quem nunca se identificou com o protagonista de um romance e, tomando contato com as emoções vividas por ele, descobriu os próprios sentimentos? Quem, pelas frases de um conto, não viajou para outros lugares - reais ou fictícios - e criou em sua cabeça um mundo novo, único?
Mas não basta folhear as páginas de romances, contos, crônicas, fábulas, novelas e poesias para chorar, rir, recordar. É preciso aprender a ser um leitor literário. Infelizmente, na escola, esse é um conteúdo que vem sendo deixado de lado. Os textos são usados quase exclusivamente como um instrumento de estudo (sobre as figuras de linguagem, a pontuação e outros usos da língua ou a história da literatura, por exemplo). Esses, é claro, continuam sendo conteúdos curriculares importantes, que ajudam a desfrutar dos prazeres da leitura. Só que, sem o trabalho de ensinar a ler textos literários, eles são insuficientes. E como se faz isso? Lendo livros de literatura e mostrando às crianças e aos jovens como agem os adultos que já têm esse hábito. A
Aguns pontos de partida desse percurso são:
- Garantir o acesso ao acervo de livros
- Permitir que os alunos possam escolher os gêneros e os autores que desejam ler
- Mostrar a importância de trocar indicações de leituras e opiniões com amigos e colegas
- Destacar que é possível ler em qualquer lugar, desde que a pessoa se sinta confortável
Valorizar a literatura começa pela criação de um "ambiente leitor"
Como gestor, talvez você precise mudar alguns aspectos da rotina e dos espaços da escola para oferecer esse aprendizado a todos os estudantes. O ideal é pensar em como criar um "ambiente leitor", envolvendo gestores, professores, funcionários e pais nessa tarefa (afinal, o exemplo dos adultos como modelos de leitor é fundamental para estimular a garotada e atingir os objetivos). Isso não significa que seja obrigatória a montagem de uma biblioteca "oficial", com pelo menos um título por aluno matriculado e um bibliotecário formado cuidando das obras. Ao contrário, qualquer espaço pode ser adaptado para a montagem do acervo. "O que está em jogo é a importância que se dá à leitura. De nada adianta ter um local razoavelmente estruturado se esse valor não é parte da cultura do grupo", resume Roberta Panico, consultora de NOVA ESCOLA GESTÃO ESCOLAR. Até porque, segundo o Censo Escolar de 2009, apenas um terço das escolas públicas de Ensino Fundamental e Médio tem biblioteca (nas particulares, esse número sobe para 78%) - razão pela qual o governo federal aprovou, em maio, uma lei que define o prazo de dez anos para que todas as instituições de Educação Básica passem a ter uma (se você já tem uma biblioteca em sua escola, leia o quadro abaixo com dicas para melhor geri-la).
Nesta reportagem, apresentamos as oito ações mais eficazes para construir e manter viva a cultura de escola leitora. Elas estão divididas em quatro áreas da gestão (espaço, materiais, equipe e comunidade) para ajudar você, gestor, nesse trabalho. Como diz a espanhola Teresa Colomer, professora da Universidade Autônoma de Barcelona e especialista em literatura infantil e juvenil, "as maneiras para chegar lá são variadas, mas o objetivo final é sempre o mesmo: promover um entorno povoado de textos, tempos de leitura e conversações sobre eles".
Biblioteca para todosDe olho na equipe e no horário de funcionamento Mesmo as escolas que têm biblioteca podem sofrer com outros problemas. Um deles é a falta de bibliotecário, pois há menos profissionais formados do que espaços para eles trabalharem. Nesse caso, é possível preparar um professor para ser o responsável pelo local - ou alunos-monitores e estagiários. Outra atribuição do gestor é manter o espaço aberto em períodos e tempos adequados para melhor atender o público. No CMET Paulo Freire, em Porto Alegre, cinco educadores se revezam para que a sala fique aberta das 8 às 22h30, para as turmas dos três períodos. Vale lembrar que a biblioteca é um lugar de leituras individuais e de interação. "É ali que os alunos vão aprender a pedir indicações e dividir opiniões. Por isso, não se deve exigir o silêncio absoluto", completa Roberta Panico.
Gestão do espaço
1. Aproveite os mais diversos ambientes
Não é por falta de sala exclusiva que o acervo deve ficar encaixotado. "Já vi bibliotecas em corredores e até na entrada do banheiro", diz Celinha Nascimento, mestre em literatura brasileira e assessora de escolas públicas e particulares. Entre 2001 e 2009, Anália Fagundes Felipe foi diretora da EM Ivo de Tassis, em Governador Valadares, a 315 quilômetros de Belo Horizonte, e usou um carrinho para facilitar o contato com os livros. Ele passava nas salas e ficava no pátio durante o recreio (as professoras de leitura cuidavam do empréstimo). Depois, a equipe gestora instalou armários nos corredores, com portas que se abrem nos intervalos. "O espaço foi batizado pelas crianças de Ivoteca, em referência ao nome da escola", conta Anália. Perto das prateleiras, há murais com indicações dos títulos mais retirados, dados sobre os turnos que mais buscam obras - incentivando uma saudável competição - e dicas literárias feitas pelos alunos. Outra dica é decorar paredes com poemas, trechos de livros e dados sobre os autores.
2. Invista na organização do acervo
Para garantir que as obras transformem a maneira como crianças, jovens e adultos se relacionam com a literatura, não basta alinhá-las nas estantes da escola. Se o leitor precisa percorrer longas prateleiras sem entender a ordem dos livros, a busca pelo título desejado fica desanimadora. Uma das estratégias para fugir desse problema é separar as obras em literatura infantil, juvenil e adulta - bem como por tema, autor ou gênero. Uma boa inspiração é pensar em como funcionam as livrarias. Assim como elas usam estratégias para incentivar a compra, sua escola pode copiar o modelo com o objetivo de atrair leitores: expor logo na entrada os volumes mais retirados em determinado período, destacar as novidades em murais ou jornais internos, montar caixas com os livros divididos por faixa etária e colocá-las em locais de fácil acesso e deixar tudo sempre ao alcance dos estudantes - as prateleiras baixas, com itens para os pequenos, e as mais altas, para os mais velhos. "Muitas vezes, encontramos coisas maravilhosas e raras quando investimos em uma boa organização", afirma Celinha Nascimento.
Gestão de materiais
3. Busque maneiras de ter (mais) livros
Toda escola tem direito a um acervo variado e atualizado. Desde 1997, o Ministério da Educação (MEC) fornece, por meio do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), livros de literatura para as instituições públicas. Algumas Secretarias de Educação contam com projetos semelhantes: no Rio de Janeiro, gestores e professores estaduais recebem dinheiro para atualizar o acervo durante o tradicional Salão do Livro. Em Santa Catarina, alunos do Ensino Fundamental ganham da Secretaria Estadual títulos de autores brasileiros. Se o acervo de sua escola está há muito tempo sem ser renovado, os especialistas sugerem organizar campanhas de arrecadação junto à comunidade ou solicitar doações a livrarias. Nesse caso, é preciso ficar atento ao que chega para escolher apenas o que tem qualidade literária e é, de fato, interessante para os alunos.
4. Faça os livros circularem
Receio de que a capa estrague, as páginas se soltem ou o exemplar desapareça - eis algumas das inquietações que afligem os gestores. Antes de tudo é bom lembrar que, como todos os bens de consumo, os livros têm vida útil e, mais cedo ou mais tarde, precisam ser repostos. Por isso, nenhuma dessas preocupações pode impedir que os livros cumpram sua função: passar por alunos de todas as idades e chegar à comunidade. A equipe gestora da EMEIEF Carlos Drummond de Andrade, em Santo André, na Grande São Paulo, permite que as professoras levem exemplares para o jardim para que as crianças ouçam histórias e leiam num ambiente descontraído. Camila de Castro Alves Teixeira, da central pedagógica da Comunidade Educativa Cedac, em São Paulo, sugere campanhas educativas para ensinar os usuários a preservar os livros. Mais produtivo do que temer perdê-los é investir no controle de retirada (com programas de computador ou cadernos de registro). Um exemplar pode não ser devolvido por esquecimento ou porque o aluno quer ficar com ele. Discutir os direitos e deveres da vida em sociedade e elaborar regras de uso do acervo - prevendo a possibilidade de renovar o empréstimo da obra - pode ser um caminho. Mesmo as punições - sem exageros, por favor - são necessárias: enquanto não houver a devolução do livro atrasado, o usuário pode ficar impedido de realizar novos empréstimos.
Gestão de equipe
5. Desperte o gosto pela literatura
Para formar leitores, é preciso que o professor seja, ele mesmo, um leitor, certo? O que fazer, então, quando ele não lê? Na prática, o mesmo que se faz com os alunos: criar condições para que a literatura vire um hábito. Na UME Antônio Ortega Domingues, em Cubatão, a 55 quilômetros de São Paulo, os educadores começam as reuniões com uma leitura literária coletiva e uma discussão sobre as impressões de todos a respeito do texto lido. O objetivo é aproximar a equipe da boa literatura e oportunizar momentos para que esses profissionais ampliem seu repertório e se interessem em buscar outras leituras. Algumas ações podem ser contempladas num projeto institucional que preveja a montagem de um acervo literário específico para adultos, a produção de um mural com indicações na sala dos professores e a organização de círculos de leitura. Importante: os momentos de formação do professor leitor não eliminam a necessidade de capacitá-lo na didática da leitura - fundamental para ele poder ensinar os alunos a também se tornar leitores.
6. Incentive os funcionários a ler
Fazer com que o gosto pela leitura contamine toda a escola é um desafio que rende ótimos frutos. É essencial, portanto, incentivar os funcionários a frequentar o espaço destinado à leitura. Na EM Professor Luiz de Almeida Marins, em Sorocaba, a 99 quilômetros de São Paulo, todos têm uma carteirinha da biblioteca e é comum ver merendeiras e auxiliares de limpeza escolhendo exemplares para ler em casa. Também é importante convidar os funcionários para participar de momentos de leitura coletiva, em horários previamente acordados entre todos e em local aconchegante. "O ato de ler ainda é visto por muitos como uma experiência solitária. Mas não deve ser assim. A leitura em conjunto estimula o prazer e a familiaridade com os textos", destaca Camila Teixeira, da Comunidade Educativa Cedac. Ações como essa ajudam a despertar no pessoal da equipe de apoio a vontade de se tornar um contador de histórias, por exemplo. Nesse caso, cabe a você, gestor, abrir espaço para que a atividade aconteça (sem tirar dos professores a responsabilidade de ler para as turmas).
Gestão da comunidade
7. Forme redes literárias
Oferecer contato com os livros exige habilidade e jogo de cintura. Mapear na vizinhança as entidades que têm potencial para ser parceiras da escola e procurar os responsáveis por equipamentos urbanos são boas pedidas. Em São João do Oeste, a 676 quilômetros de Florianópolis, duas escolas públicas se valem do acervo da biblioteca pública, no centro da cidade, para ampliar a oferta de títulos. Para atender a um acordo feito com gestoras, a coordenadora pedagógica da Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Esportes, Teresinha Staub, aproveita as visitas semanais para levar alguns livros no carro da prefeitura. As obras são eleitas pela demanda das escolas ou por indicações de Teresinha.
8. Abra as portas para os pais
Finalmente, para formar uma comunidade de leitores, nada melhor do que estreitar o contato com as famílias e oferecer a elas a possibilidade de usufruir da boa literatura. Encontros com autores, saraus e atividades de contação de histórias atraem os familiares e ajudam a tornar a leitura uma prática difundida socialmente. A realização de uma Semana Literária foi o caminho escolhido pela EMEF Professora Maria Berenice dos Santos, em São Paulo. "A experiência foi enriquecedora desde o planejamento, quando alunos e funcionários trocaram indicações de textos e de autores que queriam conhecer", conta a professora Daniela Neves, idealizadora da festa. Já na EE Jornalista Francisco Mesquita, também na capital paulista, os saraus mensais fazem sucesso por contar com um variado repertório de leitura e declamações. Outra ideia, implantada pela EE Professor Astor Vasques Lopes, em Itapetininga, a 165 quilômetros de São Paulo, é incentivar os alunos a levar para casa um livro e um caderno de anotações para que as histórias sejam lidas e comentadas com os parentes. Além disso, o acervo deve estar sempre disponível à comunidade, principalmente nos locais em que a escola é a principal fonte de acesso aos livros.
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