Muitos são os fatores que medem o desempenho escolar. Indicadores devem ser vistos com olhar crítico
Por Salvatore Carrozzo
O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2009, divulgado no início do mês,apontou que o ensino na Bahia está mal das pernas. Apuarema, no sul do Estado, ocupa o último lugar da lista, com nota 0,5. A nota vai de zero a dez; a Bahia obteve média 3,4. A meta para o Brasil é seis para o ano de 2022.
Entretanto, há casos que fogem à regra. Muitos são os fatores que levam uma escola pública localizada em um bairro pobre e com altos índices de violência a obter uma nota dez vezes maior que a de Apuarema.
A escola municipal Recanto dos Coqueiros, espremida entre casas sem planejamento urbano em Pituaçu, não conta com professores de artes, informática ou educação física (o único lugar onde as crianças podem correr é um corredor). Nesse cenário, a nota5,2 destoa da maioria das escolas da capital baiana. Na primeira edição do índice,em 2005, a nota foi 1,4, uma das piores de Salvador.
Para Norma Baião, diretora da unidade desde 2005, o segredo está no empenho daqueles que trabalham com educação (“do porteiro à direção”, ressalta). Na opinião de Norma, os baixos salários não devem servir de desculpas para a falta de empenho.
“Quem entra na rede pública sabe como as coisas são”, acredita.
Liberdade apertada
Outra escola com bom desempenho no último Ideb é a Maria Bonfim. Funcionando precariamente em um imóvel alugado na Liberdade e com pouco mais de cinco metros de largura (na parte de cima funciona um escritório de advocacia), a escola teve nota 5,3 no último Ideb (quatro anos antes, obteve 2.8).
“Aqui,quando aluno começa a faltar, ligo logo para saber o que está acontecendo”,pontua a diretora Iracema Nery.
Coordenador de um grupo de pesquisa em gestão educacional na Uneb, o professor Eduardo Novaes é enfático em relação ao engajamento dos educadores no dia a dia da escola. “Se o profissional é desinteressado, o ensino não funciona, mesmo que a estrutura seja excelente”, diz.
Para Novaes, índices como o Ideb e o Enem são, a princípio, válidos. Entretanto, acredita, é preciso manter sempre o debate e questionar o que é uma “boa escola” para definir quais os indicadores.
Poucos alunos Um ponto em comum entre as duas escolas é a média de alunos por sala (vinte estudantes).
“Isso favorece o ensino. Dessa forma, conseguimos lidar com eles de maneira individualizada”, afirma Iracema.
A professora Cleide Marques, da Recanto dos Coqueiros, já passou por outras escolas da rede. “Nelas, o comportamento dos alunos era pior”, afirma.
Na rede municipal,amédia é de 25 a 30 alunos por turma (número 25% a 50% maior que das escola em Pituaçu e na Liberdade), afirma Manoel Calazans, coordenador de ensino e apoio pedagógico da Secretaria Municipal de Educação.
“O antigo modelo, de grandes escolas, começa a ser repensado entre os gestores”, opina. Sobre as metas soteropolitanas impostas para 2021 (passar de 3,7 a 5,1 no 5º ano e de 2,8 a 4,5 no 9º ano), Calazans resume: “é um desafio muito grande”.
O professor da Faculdade de Educação da Ufba José Albertino Lordelo defende o período integral de atividades aos estudantes como forma de melhorar o ensino. “A educação pública, de fato, é um horror”, diz Lordelo, que pesquisou a gestão escolar na Bahia durante doutorado.
O especialista aponta ainda altos índices de evasão escolar como outro ponto negativo – e aluno fora de sala é premissa básica para queda nos indicadores. Educacionais e sociais.
Fonte: Jornal A Tarde de 26 de julho de 2010
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