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quarta-feira, 5 de maio de 2010

Práticas e políticas públicas de mídia-educação serão discutidas no V Seminário Nacional O Professor e a Leitura de Jornal

Entre os dias 14 e 16 de julho acontece em Campinas o V Seminário Nacional O Professor e a Leitura de Jornal, com o tema Educação, Mídia e Formação Docente. Que trará debates a respeito da relação mídia e educação a partir de mesas-redondas, conferências e oficinas, além de lançamentos de livros.

O evento é organizado pela Associação de Leitura do Brasil (ALB), Programa Jornal e Educação/ Associação Nacional de Jornais (ANJ), Faculdade de Educação e Grupo de Pesquisa ALLE, da UNICAMP, e Rede Anhanguera de Comunicação. Conta com apoio da FAEPEX/UNICAMP,CAPES e CNPQ.

Uma das palestras terá como tema as práticas positivas de mídia-educação e exemplos de políticas públicas nacionais e internacionais que estimulam essa relação, colaborando com os educadores em sua formação e trabalho com a mídia junto com os estudantes. Conversamos com Alexandra Bujokas de Siqueira (FOTO), uma das palestrantes da mesa-redonda Mídia e Educação: Práticas e perspectivas de políticas públicas.

Alexandra tem 36 anos, é graduada em jornalismo, mestre e doutora em educação pela Unesp. Fez pós-doutorado em Estudos de Mídia na Open University, Inglaterra e atualmente, é professora da área de Comunicação e Educação da Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Desenvolve um projeto de pesquisa sobre comunicação em parceria com a UNESCO.

Programa Jornal e Educação: Você acha que há no Brasil um campo fértil para discutir a relação mídia-educação? Quem está trabalhando mais com esse tema no Brasil?

Alexandra Bujokas: O Brasil já tem um longo histórico de atuação e pesquisa na área. No final dos anos 60, ainda durante o regime militar, a União Cristã Brasileira de Comunicação Social - UCBC desenvolvia projetos de leitura crítica da mídia. Nos anos 80, o título do encontro anual da Intercom foi "Comunicação e Educação: Caminhos Cruzados". Pesquisas sobre o estado da arte da pesquisa sobre comunicação e educação mostram que este é um tema já tão frequente quanto os "clássicos" da educação, tais como currículo, avaliação etc.

Hoje, empresas da área de hardware, software e telecomunicações apoiam financeiramente experiências inovadoras que levem as mídias para a escola. Uma pesquisa feita pelas professoras Sônia Cristina Vermelho e Graciela Inês Presas Areu, do Paraná, mostrou que há pesquisas sobre comunicação e educação sendo realizadas no país todo, mas que a região Sudeste é a maior produtora.

Também devemos considerar aqui as políticas públicas. Do meu ponto de vista, temos iniciativas muito importantes, é claro, que merecem ser louvadas, especialmente por serem implementadas num país do tamanho do Brasil, mas são ações isoladas que, muito comumente, sequer dialogam entre si. Falta uma política orgânica, que conceba o acesso, a avaliação e a produção de conteúdo educativo sobre mídia-educação.

PJE: E quando foi que surgiu o interesse em estudar a relação mídia-educação? Por quê?

AB: Como boa parte dos adolescentes que gostam de escrever e se interessam por tecnologia, optei pela faculdade de comunicação. Mas assim que entrei na faculdade, conheci uma abordagem crítica da mídia que falava de problemas de concentração de propriedade, compromisso ético, disparidade de poder entre mídia de um lado e a audiência do outro... que colocou todo o meu entusiasmo inicial para baixo. E o pior é que eu me sentia revoltada por não ter tido a oportunidade de aprender isso antes, no Ensino Médio, por exemplo.

Por causa disso, já na graduação, fiz meu TCC na área de comunicação e educação, e decidi trabalhar nesse campo que, em 1994, não tinha uma fração da visibilidade que tem hoje.Meu TCC foi feito numa escola municipal experimental de Bauru, SP, que seguia a pedagogia Freinet. Desenvolvi uma pequena experiência de leitura e produção de jornal escolar, aplicando conceitos da pedagogia frenetiana. De lá para cá - já são 16 anos - venho trabalhando na área.

PJE: Por que você resolveu fazer o doutorado na Inglaterra?

AB: Fiz doutorado sanduíche e pós-doutorado na Inglaterra, nas duas vezes na Faculdade de Ciências Sociais da Open University. Escolhi a Inglaterra porque é um dos países com mais tradição e, portanto, conhecimento amadurecido, sobre o que é educação para a mídia, como promovê-la e como avaliar os resultados das ações.

PJE: O que viu de interessante por lá e que poderia servir de exemplo para o Brasil, em termos de construção de uma política pública nacional?

AB:
A Inglaterra é conhecida por ter um dos melhores sistemas de regulação da mídia do mundo: promove a competição pela qualidade entre os canais comerciais, mantendo um serviço público que é referência internacional, a BBC. No longo prazo, esse sistema ajudou a sedimentar a cultura da responsabilidade social da mídia que, entre outras tarefas, deve oferecer oportunidades de educação para a leitura crítica dos próprios meios.

Em 2003, a Inglaterra aprovou uma nova lei de radiodifusão que criou o Office of Communications, o Ofcom. Esse é o órgão regulador de tudo o que se refere a comunicação no país. A 11ª seção da lei diz que cabe ao Ofcom fomentar o que os ingleses chamam de media literacy e que, no Brasil, traduzimos por mídia-educação.

De lá para cá, uma série de ações foram concretizadas: são consultas públicas, produção de materiais, organização de eventos, formação de educadores, compartilhamento de melhores práticas. O que mais me chama a atenção nesse processo é que eles conseguiram criar e implementar uma polícia orgânica, que envolve diversos órgãos de governo, organizações da sociedade civil, universidades e as próprias corporações de mídia – pública e comerciais.

PJE: Como você compararia as discussões sobre mídia e educação no Brasil e na Inglaterra? As escolas daqui estão maduras para desenvolver trabalhos com mídia? Os professores estão abertos para isso?

AB: Venho trabalhando nessa área há mais de 15 anos, e nunca vi um professor ou um aluno que não demonstrasse interesse em usar e estudar a mídia a na escola. Os meios de comunicação fazem parte da nossa experiência cotidiana, informam, ensinam, divertem, são atraentes, tem beleza visual. O que dificulta a implementação sistemática da mídia-educação na escola é a própria estrutura e organização do Ensino. O currículo não prevê espaços formais para a mídia-educação, o layout da sala de aula não é feito para a comunicação, mas sim para a transmissão, as aulas duram 50 minutos...

Na Inglaterra, há um componente curricular chamado Media Studies que, embora optativo, é um dos mais procurados. As salas de aula são equipadas com TV, som, computadores, então a tecnologia não é um componente a mais, mas uma ferramenta para ser usada nas aulas e, em alguns momentos, o conteúdo ali veiculado vira objeto de estudo também. Creio que somente com uma reforma curricular teremos oportunidades concretas para promover a educação para a mídia do modo como a educação do século 21 requer.

PJE: Como você avalia a formação (ou falta dela) dos professores para trabalharem com mídia na educação?

AB: O que temos é uma diversidade de experiências fragmentadas, em geral executadas por universidades, além de projetos como o “Mídias na Educação” do MEC que, entre outros assuntos, aborda a leitura crítica dos meios. Por não haver uma política pública específica para a área com, por exemplo, referenciais curriculares, é muito difícil avaliar a qualidade dessas experiências e como converter essa experiência em formação para educadores.

PJE: Que projetos você está desenvolvendo agora?

AB: Eu me mudei recentemente do Estado de São Paulo para Minas Gerais, onde assumi o cargo de professora da área de Comunicação e Educação para os cursos de licenciatura da Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Em São Paulo, trabalhei em dois projetos: a criação de um laboratório de mídia-educação na Universidade do Sagrado Coração em Bauru, SP, onde, por dois anos, recebemos alunos e professores do Ensino Médio para testar metodologias e matérias específicas de mídia-educação. Acabamos de enviar os resultados dessa experiência para publicação.

Também trabalhei como coordenadora de projetos do Laboratório Aberto de Interatividade da Universidade Federal de São Carlos, onde trabalhamos com mídia-educação aplicada ao ensino de ciências exatas, mais especificamente, de Astronomia. Os resultados dessa experiência também foram encaminhados para publicação.

Atualmente, trabalho num projeto que é resultado de uma parceria entre a UFTM e a UNESCO, sobre marcos regulatórios para a comunicação no Brasil. Um aspecto importante da regulação de mídia é a promoção do equilíbrio entre os meios de comunicação públicos, privados e comunitários, para que haja diversidade e pluralidade na divulgação de informações.

Outro aspecto importante é o que, em inglês, se chama accountability da mídia: por terem poder de influência os meios de comunicação devem assumir certas responsabilidades, entre elas prestar contas e acatar opiniões do público. Mas, para que as pessoas possam atuar nas mídias comunitárias e opinar sobre a conduta da mídia, elas devem ser educadas para isso. Se a escola não assumir essa responsabilidade, não sei quem poderia assumi-la.

PJE: Que aspectos você levará para sua palestra no V Seminário Nacional O professor e a Leitura de Jornal – Educação, Mídia e Formação Docente? O que você espera despertar no público?

AB: Pretendo fazer uma síntese de tudo o que estudei e produzi sobre mídia e educação até agora, focando alguns aspectos básicos, entre eles o papel social da mídia, as formas de conscientização do público e o dever da escola nesse contexto. Mas pretendo mostrar que se trata de um sistema político, que deve ser elaborado coletivamente, com representatividade e apoio do Estado. Mídia plural e cidadãos informados são bases importantes para a democracia.
Informações e Inscrições no V Seminário Nacional O Professor e a Leitura de Jornal:
http://www.alb.com.br/portal/5seminario/programa.html

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