Glaucia Brito (*)
Para o Blog Educação & Mídia, da Gazeta do Povo
Terminei uma palestra sobre o uso das tecnologias na educação. Alguns questionamentos, algumas dúvidas, palmas e fim. Concluo que foi uma boa palestra. Estavam presentes mais de 70 professores do ensino fundamental e médio. Recolho minhas coisas e me dirijo até o estacionamento.
De repente, alguém me chama:
— Professora, posso falar com você?
— Pois não.
— Eu não sou professora, estava ali no café esperando o intervalo... Eu sou a que estava servindo o café. Gostei muito da sua palestra. Mas eu tenho uma pergunta.
Sorri e aguardei a pergunta.
De repente, alguém me chama:
— Professora, posso falar com você?
— Pois não.
— Eu não sou professora, estava ali no café esperando o intervalo... Eu sou a que estava servindo o café. Gostei muito da sua palestra. Mas eu tenho uma pergunta.
Sorri e aguardei a pergunta.
— Comprei um computador para o meu filho. Sabe, o Márcio é um bom menino, tira boas notas e merece o presente. No final de semana, ele fica na Internet, conversa com os primos. Mas tô preocupada. Ontem ele me deixou um bilhete dizendo que dormiria na casa do seu amigo João e no final escreveu beijo com b-j-u-s. Ele escreveu assim por causa da Internet, né? Isso vai atrapalhar nas escritas na escola?
Uma mãe, de repente, me fez a pergunta mais profunda da manhã. Respondo que não, que com certeza ele sabe que na escola terá que escrever de outra forma.
Multimeios - Cleverson Dias
— Mas sabe – continuou ela – o meu medo é que como a professora de Português é durona, se ele escrever assim, ela pode até gritar com ele. Ele é um menino sensível e sei que ela grita na sala quando corrige os textos e encontra muitos erros. Já pensei em proibi-lo de acessar a Internet.
Disse-lhe que não precisava proibi-lo, que conversasse com ele sobre a forma como ele escreveu beijo.
— Diga que entendeu a mensagem, mas que ele cuidasse para não escrever assim nos trabalhos escolares, pois a forma como escreveu é para ser utilizada apenas no computador.
— Diga que entendeu a mensagem, mas que ele cuidasse para não escrever assim nos trabalhos escolares, pois a forma como escreveu é para ser utilizada apenas no computador.
Ela sorriu e continuou:
— Quer dizer que na Internet ele pode continuar escrevendo assim?
Eu disse que sim, pois era a escrita da Internet.
— Muito obrigada, professora, estou mais aliviada. A professora dele deveria saber disso, né?
— Quer dizer que na Internet ele pode continuar escrevendo assim?
Eu disse que sim, pois era a escrita da Internet.
— Muito obrigada, professora, estou mais aliviada. A professora dele deveria saber disso, né?
Sorri e nos despedimos. Enquanto voltava para casa, pensava na conversa que acabara de ter. Na minha cabeça ficou a frase: “A professora dele deveria saber disso, né?”.
Neste momento, me ocorreu um estalo e passei a refletir: o que os professores deveriam saber sobre tecnologias na educação?
Neste momento, me ocorreu um estalo e passei a refletir: o que os professores deveriam saber sobre tecnologias na educação?
Glaucia Brito é professora do Departamento de Comunicação Social e dos Programas de pós-graduação em Comunicação (PPGCOM) e Educação (PPGE) da UFPR, pesquisadora em Tecnologias de Informação e Comunicação na Educação.
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