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segunda-feira, 1 de abril de 2013

Sites de videoaulas mudam estratégia para elevar ganhos


Os sites de aulas pela internet estão se reinventando para manter audiência, obter faturamento e não depender tanto de investidores. Apesar de representarem um fenômeno recente no Brasil, essas start-ups (empresas iniciantes de base tecnológica) já vão transformar seus modelos de negócios neste ano.

É o caso do Veduca, criado ano passado pelo engenheiro Carlos Souza, 32. Em 2012 a empresa chegou a 1,4 milhão de usuários cadastrados, principalmente estudantes universitários de administração, ciências exatas, TI e engenharia. A empresa oferece 5.330 vídeos gratuitos, obtidos em parcerias com 15 universidades -12 estrangeiras.

O portal conseguia dinheiro apenas com investidores -no ano passado, a companhia recebeu R$ 1,5 milhão do grupo de investimentos do Vale do Silício 500 Startups e da Mountain do Brasil. A partir de abril, o site vai começar a vender certificações dos cursos oferecidos. Os valores estão sendo definidos.

"Esse mercado já está maduro o suficiente para oferecermos certificações. Elas serão validadas pelo MEC e terão provas presenciais e on-line", conta.

MEIOS DE PAGAMENTO
Já o site Descomplica tem foco em estudantes que ainda estão no ensino médio.
O diretor-executivo da empresa, Marco Fisbhen, 33, conta que, no ano passado, na véspera do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), o site chegou a ter uma audiência de 100 mil pessoas em uma aula transmitida ao vivo. A empresa registrou, em 2012, 1,5 milhão de usuários, sendo 70 mil assinantes, que pagam entre R$ 9,60 e R$ 19,40 por mês.
O Coursera, um dos maiores sites de videoaulas do mundo, registrou 2,7 milhões de usuários desde o lançamento, em abril de 2012.

Segundo Fisbhen, muitos usuários se queixam da dificuldade de acesso aos meios de pagamento, por não possuírem cartão de crédito ou morarem longe de agências bancárias. Para resolver isso e alcançar mais alunos, o site vai integrar sua plataforma a celulares a partir de abril.

"O usuário vai poder pagar com os créditos do celular pré-pago ou os valores irão constar da conta do pós-pago. Será uma comodidade para aproveitar a disseminação dos milhões de celulares pelo país", diz o empresário.

RAZÕES PARA APOSTAR
Executivos do setor de videoaulas apostam no aumento rápido do alcance da internet e também na expectativa de melhora da qualidade da banda larga como ingredientes para atrair mais usuários.

No terceiro trimestre do ano passado, o total de pessoas com acesso à internet no Brasil era de 94,2 milhões, segundo pesquisa do Ibope Nielsen Online. Isso representa quase metade (48,5%) da população brasileira, que é de cerca de 194 milhões, segundo dados do IBGE.
A Mozit, por exemplo, aposta na geração de TVs conectadas à internet e está desenvolvendo conteúdo próprio para elas. Ramon Durães, 37, diretor-executivo da empresa, conta ter 6.500 usuários e que recebe videoaulas de qualquer pessoa: especialistas enviam palestras para avaliação e também definem quanto querem cobrar dos internautas que assistem aos vídeos. A empresa fica com metade do valor.

"Existe outro fator além da era da internet, pouco explorado no Brasil, que é a entrega de conteúdo para toda a nova geração de TVs conectadas. Elas abrem uma porta gigantesca para o Mozit, que já nasceu pensando em consumidores de vídeos de alta definição e dispositivos móveis, como os smartphones e tablets", diz Durães.

Também existem companhias que consideram que o mercado de videoaulas pode estar perto da saturação no Brasil. Diego Alvarez, 28, diretor-executivo da Easyaula, por exemplo, criou sua empresa em julho pensando em um modelo intermediário.

O site oferece cursos pela internet, mas o negócio principal é criar uma rede de aulas presenciais.

A plataforma permite que qualquer pessoa se cadastre e ofereça um curso profissional. A start-up, então, faz uma avaliação da proposta e os cursos selecionados passam a constar em um banco de dados on-line.

Quando há um mínimo de alunos interessados em uma cidade, a Easyaula também se encarrega de arrumar o espaço e a estrutura para o evento.

No ano passado, 700 pessoas assistiram às palestras organizadas pelo site, que custaram entre R$ 50 e R$ 1.000 por aluno.
"Nosso foco são aulas com conteúdos práticos para o trabalho, como cursos de 'design mobile' e para aprender a falar com segurança", afirma Alvarez.

"Muitos profissionais ainda valorizam as aulas presenciais. Mas, sem o alcance de uma rede na internet, eles têm dificuldades de achar um bom professor. O site une o melhor dos dois mundos."

Muitos desses negócios no Brasil são impulsionados por fundos de investimento e investidores-anjo. Nicolas Gautier, 34, sócio-fundador do fundo Mountain do Brasil, afirma que existe uma "fome de educação no Brasil" para justificar a aposta financeira nesse tipo de site.

Ele conta que, neste momento, prospecta novos portais para investir, mas existe uma dificuldade de encontrar empreendedores qualificados. "Procuramos sempre uma oportunidade de mercado grande o suficiente e, o mais importante, uma equipe bem equilibrada. Nós investimos em pessoas."

A Macmillan Digital Education, divisão de educação digital do grupo editorial britânico Macmillan Science & Education, é outra companhia que colocou dinheiro nas videoaulas brasileiras (Veduca e Easyaula). Matthias Ick, 37, diretor da empresa para educação digital, não revela os valores, mas diz apostar que "sites com um modelo de negócios misto -usando conteúdos pagos e gratuitos- irão atrair muito público no Brasil".

Já o fundo norte-americano 500 Startups aportou dinheiro no Descomplica e no Veduca. A brasileira Bedy Yang, 33, que é sócia do fundo, afirma que investe entre US$ 50 mil (R$ 99 mil) e US$ 500 mil (R$ 995 mil) nas empresas.

Para a investidora, o setor é muito promissor, porque "o uso dos vídeos não explodiu e seu alcance ainda é muito restrito a plataformas como o YouTube".

"Um dos critérios que avaliamos para investir em empresas é o diferencial competitivo e encontramos isso no Brasil. O Descomplica possui uma produtora própria de vídeos e o Veduca já realiza busca semântica de conteúdo."

A El Area, fundo de venture capital (capital de risco) brasileiro, também fez aportes nesses sites. O sócio-fundador da companhia, Franco Pontillo, 41, comenta que muitas empresas no Brasil já estão aprimorando suas formas de obter faturamento, apesar de esse mercado ser novo. Mas ele diz que o governo precisa participar desse processo e criar regulações.
"O governo precisa ficar de olho para não virar bagunça. Note que surgiram novas instituições de ensino que estão apenas surfando nessa onda."

Paula Chimenti, professora da Coppead/UFRJ, avalia que as videoaulas têm um potencial enorme, mas opina que usuários, professores e empresas ainda não aprenderam a utilizar adequadamente essas ferramentas.

Ela cita a teoria da gestão de tecnologias emergentes que divide as invenções em "incrementais" e "disruptivas". A primeira tem como exemplo a TV em cores, que não mudou o mercado -apenas atraiu mais audiência. A segunda tem como marco recente o formato de áudio MP3, que revolucionou a indústria fonográfica.

"As videoaulas são disruptivas, mas isso está em pleno desenvolvimento ainda. Nesse aspecto, as pequenas empresas como as start-ups têm mais chance de encontrar melhores formatos de uso, porque não têm todas aquelas amarrações das empresas grandes."

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