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terça-feira, 22 de junho de 2010

Pais falham ao orientar gastos de pré-adolescentes

Matéria do Estado de São Paulo, do dia 20 de junho, pode fomentar bons debates em sala de aula. Confira:

Celular, iPod, videogame, roupas e tênis de marca. Quem tem filho pré-adolescente sabe que os desejos de consumo mudam todo dia e nunca ficam totalmente satisfeitos. A criança sabe o que quer, decide sozinha como gastar seu dinheiro e influencia nas compras de toda a família. Não consegue, no entanto, perceber o conteúdo persuasivo de mensagens publicitárias - cada vez mais voltadas para esse público - ou avaliar se de fato precisa do produto anunciado.

Essas são conclusões de uma pesquisa da Unicamp feita com 423 estudantes entre 8 e 14 anos - grupo batizado de "tweens" (trocadilho com "teens" e "between"). Entre os entrevistados, 95% dizem receber dinheiro dos pais com frequência, mas menos da metade diz ter orientação sobre como gastá-lo.

Os resultados sugerem ainda que, embora esses jovens tenham contato com dinheiro desde muito cedo, não têm noção de valor e, como é próprio da idade, ainda são incapazes de analisar a relação custo-benefício de um produto. "Esse papel cabe aos pais. Mas muitos tendem a ver os filhos como pequenos adultos", diz a pedagoga Maria Aparecida Fermiano, autora do estudo.
Segundo a pesquisadora, muitos pais encontram dificuldade na educação financeira dos filhos por serem eles próprios desorganizados. A maior parte dos entrevistados (39,2%) afirmou receber dinheiro somente quando pede, ou seja, sem regularidade. "É uma estratégia ruim, pois se perde a noção do todo e não se estimula o planejamento dos gastos", diz Maria Aparecida.


Outro levantamento feito pelo Instituto Alana revelou que 80% dos pais são influenciados pelos filhos na hora das compras. "As crianças atuam como promotoras de venda dentro de casa, por isso até propaganda de produto de limpeza acaba sendo direcionada a esse público", diz Lais Fontenelle, coordenadora do projeto Criança e Consumo.

A engenheira Carla Damião, mãe de três tweens, sente diariamente os efeitos do assédio do marketing. "Eles querem tudo que passa na TV, mas digo para não acreditarem em tudo o que é anunciado. Explico, por exemplo, que os carrinhos Hot Wheels não fazem as mesmas piruetas da propaganda", conta.

Pressão. Para Lais, o maior problema é que os bens de consumo acabam se transformando em ingressos sociais. "É complicado a criança crescer acreditando que precisa de determinado objeto para ser aceita ou para ser feliz."

Depois que transferiu a filha Isabela, de 11 anos, para um colégio de elite na capital, a terapeuta ocupacional Andrea Lima percebeu que a menina passou a sentir uma pressão maior nesse sentido. "Ela quer estar igual às amigas, ter o que elas têm. Como se isso alimentasse a amizade. Parece que há uma mistura entre afeto e imagem", conta Andrea.

A secretária Paola Calicchio também vivencia essa situação com o filho Gabriel, de 13 anos. "No último inverno ele me disse que preferia ter uma única blusa de frio, desde que fosse de uma determinada marca. Parcelei em dez vezes e acabei comprando a blusa", conta. Segundo Paola, o menino nunca se sentiu excluído porque sempre está igual aos amigos. "São todos muito parecidos, como uma gangue", diz.

Mas essa lógica do "todo mundo faz" pode deixar a criança mais suscetível a comportamentos de risco na adolescência, alerta a psicóloga Vera Iaconelli, coordenadora da Gerar - Escola de Pais. "Fica difícil para a criança se posicionar de forma independente se os próprios pais não resistem à pressão de que os filhos têm de ter o que todo mundo tem", argumenta. A ideia de que objetos podem preencher vazios, diz, desdobra-se em outras formas de consumo inconsequente, inclusive de drogas.

Na opinião de Vera, os pais erram quando tentam privar a criança de todo sofrimento e frustração. "Eles devem ajudá-la a lidar com as angústias que são inerentes ao desenvolvimento."

Outro dado revelado pela pesquisa da Unicamp é que os jovens sentem falta de estar com a família. Embora 80% afirme que prefere passar seu tempo com os pais, essa convivência parece estar restrita ao momento das refeições e ao de assistir à TV.

Para Vera, pior que passar pouco tempo com os filhos é tentar compensar a ausência de forma equivocada. "Ser permissivo ou confundir presentes com presença." Quando se está com os filhos, afirma, é preciso exercer o papel de pai ou de mãe na íntegra, e isso inclui a bronca e o não.

Fonte: Estado de São Paulo - 20/06/2010

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