Depois de alguns meses de inscrição e seleção dos trabalhos, chegou ao fim mais uma edição do Prêmio Comunicador Parceiro da Educação. Como reconhecimento, os oito vencedores ganharam uma viagem à cidade de São Paulo para participarem de uma oficina com especialistas em educação e comunicação.
O evento foi realizado nos dias 29 e 30 de novembro e contou com a presença de Daniel Oliveira, da ANDI, Daniela Arbex, do jornal Tribuna de Minas, Cristiane Parente, da ANJ (Associação Nacional de Jornais) e Fernando Rossetti, do GIFE (Grupo de Institutos Fundações e Empresas). Além destes especialistas, esteve presente no encontro parte da equipe do Instituto Votorantim, contanto um pouco da experiência do Projeto Parceria Votorantim pela Educação.
Quem abriu os trabalhos do dia 29 foi o gerente de pesquisa e desenvolvimento do Instituto Votorantim, Rafael Gioielli (foto acima), parabenizando os oito jornalistas presentes, vencedores da edição 2010 do prêmio. Rafael apresentou os objetivos da oficina e, junto com Amanda Aragão, coordenadora do Projeto Parceria Votorantim pela Educação, falou sobre os desafios e os principais avanços da iniciativa em 2010. “Com este prêmio, buscamos estimular a qualificação da cobertura da educação nos municípios do projeto. Hoje é uma oportunidade ímpar para troca de experiências e discussão sobre propostas o práticas para a cobertura da temática educação”, disse o gerente.
As matérias premiadas foram divulgadas aqui no Blog Educação, e mostram o esforço de jornalistas engajados na questão educacional para colocar o assunto na pauta da imprensa. “O prêmio provocou a necessidade de produzir matérias como nos velhos tempos, como manda o bom jornalismo, com apuração profunda de pautas, entrevistas por e-mail, por telefone e pessoalmente. Espero que essa semente plantada germine bons frutos. Foi uma experiência fantástica” comentou Paulo Giovani Araújo, do Jornal Correio do Sul, de Arroio Grande (RS).
Os vencedores
O Prêmio Comunicador Parceiro da Educação é uma das únicas iniciativas no Brasil que visam premiar jornalistas que atuam na cobertura da educação em municípios de pequeno e médio porte. A realidade das redações, muito diferente da encontrada nos veículos da grande imprensa, muitas vezes é um dificultador para a produção de reportagens aprofundadas, com riqueza de fontes, personagens e análises de especialistas.
Segundo uma das vencedoras, Paula Maria Almeida Ferreira, da TV Atividade de Muriaé (MG), a rotina é agitada, mas o tema educação sempre está em pauta. “Temos uma equipe muito enxuta na redação. Somos apenas dois repórteres para produzir tudo. Educação é um assunto que exploramos bem, mesmo com toda a correria do trabalho. É a segunda vez que ganho este prêmio, um reconhecimento motivador, que afeta toda a equipe da tevê.”
De acordo com o relato dos próprios jornalistas, existe muita demanda pelo assunto. Lílian de Souza, da TV Paracatu, contou que resolveu trabalhar em uma matéria os avanços da cidade e das escolas no IDEB 2009. Segundo a repórter, a população local tem interesse nato pelo assunto. “A comunidade de Paracatu cobra muito da imprensa uma abordagem qualificada sobre a educação municipal”.
O papel dos mobilizadores também foi lembrado pelos jornalistas premiados. “O projeto Parceria Votorantim pela Educação trouxe uma situação nova para nós da região de Arroio Grande. Motivado pelo mobilizador do projeto, Reges Echer, acabei me inscrevendo no prêmio e me sagrei vencedor” comentou Sérgio Correa, da Rádio Difusora Fronteira de Arroio Grande (RS), e concluiu: “Muito pouco se produz sobre o tema educação nas rádios. Desde que comecei a trabalhar neste tipo de veículo, tinha vontade de fazer algo sobre o tema. Com o projeto, isso virou realidade. Aos poucos, na cobertura e apuração de pautas, fomos descobrindo experiências incríveis.”
Estudo aponta pontos fortes e fracos na cobertura da educação
Apresentado em primeira mão para os jornalistas presentes, um estudo desenvolvido pela ANDI (Agência de Notícias dos Direitos da Infância) mostrou as características de abordagem, recorrência, abrangência e diversidades de temas na cobertura da infância. Encomendada pelo Instituto Votorantim, a análise fez um recorte considerando os quatro estados que tiveram jornalistas reconhecidos pelo Prêmio Comunicador Parceiro da Educação – São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio Grande do Sul.
A pesquisa considerou os veículos já monitorados pela ANDI e mostrou que os estados selecionados estão entre os que mais – e melhor – realizam a cobertura do tema educação. Contudo, Daniel Oliveira, da ANDI, apontou alguns desafios a serem enfrentados. “Precisamos avançar na qualificação da cobertura jornalística. Os veículos de comunicação são potenciais sensibilizadores e mobilizadores da sociedade”.
De acordo com o estudo, os principais desafios para o Brasil avançar na qualificação da cobertura jornalística são: aumentar a citação à legislação e às políticas públicas ligadas à infância, utilizar mais dados estatísticos nas matérias, diversificar fontes em reportagens e ouvir mais as famílias e os conselhos municipais ligados às causas da infância e educação.
Troca de experiências
Reconhecida como Jornalista Amiga da Criança, coube à Daniela Arbex, repórter especial do jornal Tribuna de Minas, fortalecer o debate sobre como desenvolver uma cobertura qualificada sobre educação em veículos de pequeno e médio porte. Longe das grandes redações, Daniela atua na cidade mineira de Juiz de Fora e é referência na produção de matérias investigativas sobre a realidade do ensino público. “Eu mostro o lado ruim, mas sempre busco apontar soluções”, comentou a jornalista.
Daniela contou aos presentes no evento como foi sua trajetória como repórter de educação. “Conquistei um espaço no jornal aos poucos. Os reconhecimentos que já recebi ajudaram, inclusive, a mudar um pouco da cultura do jornal. Hoje, existe um cuidado redobrado ao falar de infância e educação, mesmo nas outras editorias.”
Com a voz levemente embargada e os olhos marejados, Daniela dividiu com seus colegas de profissão algumas experiências marcantes em sua carreira. “Não é um trabalho fácil, mas é recompensador”, explicou.
Uma das matérias da repórter chamou a atenção da sociedade para a realidade de uma escola que marginalizava alguns alunos. Jogados na famosa “turma D” da escola, estudantes estigmatizados como “menos capazes” foram protagonistas de uma reportagem no ano de 2001 que mostrava os efeitos nocivos do sistema de separação por rendimento à vida um jovem.
Cinco anos depois, a jornalista conversou novamente com os estudantes e a realidade foi alarmante. Dos 27 jovens da sala, apenas dois tinham acessado o ensino médio. “Um deles, inclusive, estava na mesma série há cinco anos, colecionando repetições de ano”, lembra Daniela. Com esta segunda reportagem, o assunto ganhou destaque no município e a Superintendência Regional de Ensino pediu um estudo sobre as práticas pedagógicas locais. Era o fim da era da “turma D”.
Educomunicação em debate
Cristiane Parente, coordenadora executiva do Programa Jornal e Educação da ANJ (Associação Nacional de Jornais), e Fernando Rossetti, secretário-geral do GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas), trouxeram para o encontro um pouco do conceito de educomunicação, uma linha de trabalho relativamente nova que se volta para interconexões de áreas como comunicação e educação.
Cristiane falou sobre o trabalho que vem desenvolvendo à frente da ANJ com o programa Jornal e Educação. O trabalho estimula a aproximação da escola com as ferramentas de produção de informação. Assim como estimula os veículos de imprensa a desenvolverem ações em parceria com estudantes. “Temos diversas frentes de ação. O trabalho tem dado muito certo”, contou a jornalista.
“A ideia é que os jovens sejam mais usados como personagens e, também, como produtores e parceiros da atividade jornalística”, explica. Segundo Cristiane, essa aproximação ajuda a mudar a cultura do meio jornalístico de ver a infância e juventude, além de levar ganhos pedagógicos para as salas de aula.
Fernando Rossetti (foto acima) começou sua participação contextualizando a cobertura da educação no Brasil. Falou de sua trajetória e da experiência na Folha de São Paulo, Canal Futura e no terceiro setor. O secretário-geral do GIFE falou sobre os desafios da cobertura da educação na atual realidade da imprensa brasileira. “Educação é um tema essencialmente frio. É processo, vai além do factual. O tempo da educação se mede em gerações. Para um jornalista, isso é um dificultador, já que a lógica da imprensa atual muitas vezes é buscar furos e se pautar por resultados imediatos.”
Para Rossetti, o maior desafio da sociedade é cobrar e estimular a criação de espaços fixos e dedicados à cobertura da educação nos veículos de massa. “O que mais impacta a realidade não é uma matéria pontual de duas páginas, e sim, a constância do tema nas páginas do jornal”, analisa.
Jornalistas visitam Editora Abril e fábrica de papel
Como parte das atividades previstas para a oficina, os vencedores do Prêmio Comunicador Parceiro da Educação puderam conhecer a redação de um dos maiores conglomerados de comunicação do Brasil, a Editora Abril.
Na sede da empresa, foram recebidos pelo redator-chefe do portal Educar para Crescer, Kadu Palhano, e sua equipe. O jornalista explicou todas as frentes de trabalho do projeto e contou como a iniciativa tem influenciado outras publicações da editora. “Aumentamos em 270% o número de matérias sobre educação na editora”, explicou. O jornalista parabenizou os participantes e elogiou a qualidade das matérias produzidas e a profundidade das pautas.
No período da tarde, os premiados foram para Piracicaba (SP) conhecer o processo produtivo de papel na Fibria, empresa controlada pelo Grupo Votorantim. Depois de circularem pelas instalações da fábrica, os jornalistas fizeram uma avaliação da oficina e se mostraram satisfeitos com os dois dias de trabalho.
“Com certeza o que vi nessa oficina irá impactar meu trabalho diário na redação. Quero produzir pautas mais qualificadas sobre educação”, contou Lilian, da TV Paracatu. “Esse prêmio nos motiva a continuar. Espero poder estar aqui ano que vem, novamente, trocando novas experiências”.
Por Rodrigo Bueno / Blog Educação
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