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terça-feira, 23 de novembro de 2010

Mídia e Educação

Compartilhamos abaixo texto publicado no blog Escola, do jornal Tribuna do Planalto (GO).

Mídia e Educação
Os dedinhos frágeis tocam o computador. “Vou ser jornalista quando eu crescer porque gosto de pesquisar e descobrir tudo que está acontecendo”, explica o menino. Weverton Gabriel Cândido da Silva tem apenas 6 anos, mas a professora diz que ele é muito curioso, demonstra uma expressão oral fluente, raciocínio rápido e é bastante investigativo. O garoto é uma das crianças matriculadas no Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Tio Romão que foi visitar a redação do jornal Tribuna do Planalto para conhecer, in loco, o processo de produção da notícia.
A visita é uma das ações previstas no projeto Conhecer a Mídia, desenvolvido pela instituição.

A proposta de informar as crianças sobre a produção da notícia partiu do interesse delas próprias, após uma brincadeira que a professora fez em uma roda de conversa sobre a televisão. Os educandos demonstraram curiosidade e passaram a questionar como as notícias chegam às pessoas. Segundo Dykla Cristina Abadia Lima Guimarães, professora que está desenvolvendo o projeto no CMEI durante este ano letivo, as crianças têm participado de diversas atividades relacionadas ao tema, como maquetes e desenhos, bem como assistiram a vídeos sobre o assunto.

Dykla afirma que oportunizar aos educandos a vivência prática dos conhecimentos adquiridos, torna a aprendizagem mais prazerosa e significativa e promover esse contato direto com a mídia favorece o desenvolvimento da leitura crítica do mundo e da notícia. “O trabalho com projetos nesse nível é muito importante, instigam a pesquisa e possibilitam novos saberes, assim como o desenvolvimento de valores. Conhecer o passo a passo da notícia despertou tamanha curiosidade nas crianças que, espontaneamente, elas passaram a narrar reportagens que viam ou até mesmo a trazer o jornal impresso para o CMEI”, comenta.

Educomunicação
Ismar de Oliveira Soares, professor da Universidade de São Paulo, é considerado um dos precursores da educomunicação no Brasil. Ele explica que a educomunicação consiste em um conjunto de atividades relacionadas ao conhecimento e uso dos meios de comunicação para a formação não apenas do aluno, mas de todas as pessoas para o exercício da cidadania. Ismar desenvolve projetos na rede municipal de ensino de São Paulo, em que promove a aprendizagem de como utilizar diferentes veículos de comunicação na escola, assim como da leitura crítica das mídias.

O professor descreve uma das experiências entre comunicação e Educação, a Rádio-Escola em São Paulo. “O projeto ocorreu entre 2001 e 2004 e tem continuidade hoje. Isso significou para nós um exercício de trabalho em rede. Não é trabalhar com 10, 15, 20 pessoas, mas trabalhar com 12 mil pessoas, discutindo com elas as práticas educomunicativas e levando o uso do rádio como solução para o problema da escola, especialmente aqueles relacionados a conflitos, a violência e a própria didática”.

Ismar ressalta que as pessoas, ao assimilar a linguagem midiática passam a discutir comunicação e a aprimorar outras linguagens. Jesús Martín Barbero, pesquisador sobre comunicação, em seu livro Pensando a Educação a Partir da Comunicação, também reconhece a importância da mídia como desencadeadora de um processo comunicativo e destaca que não se deve limitar a aplicação dos veículos simplesmente ao objetivo de assimilar uma nova tecnologia.

“O desafio é como inserir na escola um ecossistema comunicativo que contemple ao mesmo tempo experiências culturais heterogêneas, em torno das novas tecnologias da informação e da comunicação, além de configurar o espaço educacional como um lugar onde o processo de aprendizagem conserve seu encanto”, esclarece.

A influência direta da mídia na formação das crianças e jovens é inegável. Pensando nisso, os profissionais da Educação municipal têm realizado vários projetos relacionados aos meios midiáticos.

Leitura crítica
A coordenadora do CMEI Tio Romão, Leila Maria Pereira, comenta que, após o trabalho desenvolvido com as crianças utilizando os meios de comunicação, elas passaram a se tornar mais críticas diante das situações vivenciadas no ensino-aprendizagem. “Ao propor atividades em que elas são agentes de seu próprio conhecimento, a aprendizagem se torna mais prazerosa e, explorando suportes como a mídia, é possível ampliar a expressão linguística, assim como desenvolver a criticidade diante das informações recebidas pelos meios de comunicação”, avalia.

Herbert Marshall Mcluhan, pioneiro nas pesquisas das novas tecnologias de informação e comunicação, já na década de 70, estabeleceu o conceito de “aldeia global” em que a sociedade contemporânea estava confinando o homem a uma imensa aldeia global, onde as percepções humanas seriam modificadas pelas novas tecnologias da informação. Segundo o filósofo há uma verdadeira revolução tecnológica e de informação que transformou a maneira de ver o mundo. Ele enfatiza que a escola não pode ficar alheia a tais mudanças.

Pesquisas recentes do Ministério de Educação e Cultura, como as do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), identificam que realmente os educandos do século 21 estão em descompasso com a leitura e escrita ensinadas na escola. Nas avaliações realizadas com estudantes do Ensino Fundamental e Médio constata-se um baixíssimo nível de compreensão, interpretação e reflexão.

Em outra dimensão, isso se reflete, também, pela demonstração da falta de interesse pelas técnicas convencionais de Educação. As crianças interagem com os meios de comunicação, como a televisão e a internet, desde muito cedo, e o papel da escola é o de integrar essas linguagens ao processo educativo, é o que propõe Maria Aparecida Baccega em seu livro Televisão e Escola: Uma Mediação Possível?.

Ela valoriza a leitura reflexiva dos multimeios, revelando o que está implícito nas informações e o sentido ideológico destas e para isso, conforme afirma a pesquisadora, é necessário que os meios de comunicação sejam integrados à escola como ferramentas educativas. “Ou seja: ou a escola colabora para democratizar o acesso permanente a esse ecossistema comunicativo ou continuará a operar no sentido da exclusão, tornando maiores os abismos existentes”.

Texto de Edilene Paiva

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