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quarta-feira, 17 de julho de 2013

Uma doce melodia de inclusão



Foto: Uma doce melodia de inclusão
Projeto Guri trabalha pela música o desenvolvimento de crianças e adolescentes. Na região, são 650 deles. No Estado, mais de 40 mil

As batidas das canções são constantes. Os acordes se multiplicam sinuosos pelo público. E como progressões aritméticas, as vozes se somam à harmonia estabelecida. Mesmo assim, a música não é matemática pura, é também o resultado do empenho e da dedicação dos artistas. E é com tais sentimentos que 650 crianças têm sua iniciação musical no Projeto Guri.

Ao todo, são mais de 40 mil guris em sintonia pelo Estado de São Paulo. Criado em 1995, a iniciativa do Governo Estadual oferece cursos gratuitos de teoria musical e instrumentos de corda, sopro e percussão para alunos de seis até 17 anos no período de contraturno escolar. O intuito é aproximar os jovens da arte e, até mesmo, de despertar novos talentos.

Tanto de manhã, quanto à tarde, as classes do Centro de Atividades Integradas de Santos (Cais) Santista lotam de crianças e adolescentes afinados com a música. “A gente percebe uma grande melhora dos estudantes no desempenho escolar. E muitos perdem a timidez, tornam-se mais sociáveis”, diz a coordenadora do polo de Santos, Ana Luiza Cordeiro da Luz.

TATUÍ E OUTRAS BANDAS

A aluna Naomi Honorato, de 12 anos, confirma. “Hoje presto mais atenção nas aulas de Português, Matemática e ciências por causa do projeto”. Naomi ainda estudava a tabuada aos 8 anos quando, pela primeira vez, seus lábios encostaram em uma boquilha de saxofone. Fazer do sopro música é um desafio, ao segurar um aparelho de 60 centímetros, com 26 aberturas e 23 traves, para produzir os sons.

“Quando você toca violão, ele está apoiado no seu joelho. Um violino, apoiado no ombro. A grande diferença do saxofone para esses e outros instrumentos é que ele é o único em que você não consegue ver as notas enquanto toca”, diz o professor Jarbas Albuquerque, que há 13 anos ministra aulas no projeto. “Já vi muitos irem para a Faculdade de Música de Tatuí, outros para bandas profissionais”. Hoje, ensina Naomi a lidar com o instrumento.

A intimidade com o sax vem aos poucos, fruto de um único encontro semanal, pois a adolescente não tem o instrumento em casa: é raro encontrar um exemplar abaixo de mil reais. O jeito de afinar a aprendizagem é emprestando o instrumento aos alunos há mais tempo na companhia. Naomi se alegra do bom relacionamento com o saxofone. “Em um mês, já tiro uma nova canção. Amo Asa Branca e Noite de Moscou”. Um gosto requintado eincomum, se comparado ao de outras meninas de sua geração. Mesmo assim, descarta viver de música. “Quero ser modelo”, ela ri.

SEM BOBEIRA NA RUA

A sintonia da filha com a arte orgulha Márcia Regina Honorato. “É uma pena que nem todo mundo conheça o Projeto Guri. Em vez de o jovem ficar de bobeira na rua, ele tem a chance desses cursos gratuitos, onde se transformam em grandes artistas. Esse é um verdadeiro celeiro de talentos”.

O entusiasmo de Márcia ressoa em Eliane de Santos Lima, outra mãe orgulhosa. “Com a música, meu filho Wellington melhorou bastante na escola”. Após um semestre de aulas, ela se deixa embalar pela alegria de ver o filho no palco do colégio. “Fiquei emocionada ao vê-lo tirar as notas do violão na apresentação”.

Ao lado dos companheiros da turma, Wellington dedilhou Ode à Alegria, de Ludwig Von Beethoven, Boston, de Francisco Pupo,e Nesta Rua, de Heitor Villa-Lobos. Cada uma das trilhas foi aprendida por todos em torno de 15 dias. Entusiasmada com o progresso, Isabelle Marques Ruiz, de 11 anos, comenta o quão é significante seu curso de violão.“Toda terça-feira já acordo ansiosa para ir à aula”. O bom desempenho escolar e musical orgulha o pai Daniel Gomes Ruiz. “O Projeto Guri pode mudar a vida de crianças”, sentencia.

Perfil
Projeto Guri

O que é?

Um projeto de educação musical inclusiva do Governo do Estado de São Paulo, que oferece cursos de teoria musical e instrumentos de sopro, cordas e percussão. Voltado a alunos de 6 a 17 anos, no contraturno escolar.

Desde quando?
1995

Onde?
Em 366 núcleos espalhados pelo Estado – inclusive na Fundação Casa. Em Santos, fica no Centro de Atividades Integradas de Santos (Cais) Santista(Rua 7 de setembro, 34) Informações: 0800-7025056 ou www.projetoguri.org.br

De aluna a professora

Kaith Cristina de Andrade tinha 5 anos quando nasceu o Projeto Guri. Quando contava 17, após já ter dedilhado sozinha o violão, foi incentivada por uma amiga para entrar no curso. Apaixonou-se tanto pelo ambiente que, desde o ano passado, aos 22 anos, retornou ao projeto. Dessa vez, como professora-aprendizem sete turmas.“Eu me vejo no lugar dos alunos durante as aulas. Gosto muito do ambiente escolar. É bem diferente poder voltar para cá”. Da sua primeira passagem pela entidade, ela enfatiza a necessidade de uma formação musical: hoje, faz graduação em Educação Musical e curso técnico em violão. E, no restante da semana, continua vivendo a arte ao cantar no Coral Zanzalá.

Projeto abre processo seletivo

O Projeto Guri reúne 366 polos distribuídos pelo Estado em uma gestão compartilhada entre governo e sociedade civil. Na Capital, os centros com 11 mil alunos são administrados pela Santa Marcelina Organização Social de Cultura. No restante de São Paulo, como no Polo Regional de Santos, a iniciativa é dirigida pela Associação Amigos do Projeto Guri.

Há polos municipais, regionais, além de 50 unidades de atendimento musical dentro da Fundação Casa. Entre os cursos oferecidos pelo Estado, há o coral, piano, acordeom, bateria, instrumentos de cordas dedilhadas (bandolim, cavaco, violão e viola caipira), cordas friccionadas (violino, viola, violoncelo, contrabaixo), cordas elétrica (guitarra e baixo-elétrico) e de sopro (trompa, trompete, trombone, tuba, clarinete, flauta transversal e saxofone).

O projeto abre novo processo seletivo a partir de 29 de julho. Para consultar a relação de vagas disponíveis no polo santista, ligue 0800-7025056 ou www.projetoguri.org.br. Para matrícula, são necessários originais e cópias dos seguintes documentos: certidão de nascimento ou RG do aluno; comprovante de matrícula escolar ou declaração de frequência escolar do primeiro semestre; boletim escolar de 2012; RG do responsável; e comprovante de residência.

Lincoln Spada

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