Hoje, quem bate um papo com o Diário na Escola é o professor
responsável pelo quadro “Soletrando”, Sérgio Nogueira
Duarte da Silva.
A responsabilidade de selar o destino de crianças que soletram
palavras com os batimentos a mil por hora, não deve ser uma
tarefa fácil. Todos que acompanham o Programa podem perceber
a angústia no rosto dos candidatos até ouvirem a batida da
campainha confirmando a resposta certa. Experiência o professor
Sérgio tem. Formado em Letras pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS), e mestre pela Pontifícia Universidade
Católica (PUC) do Rio de Janeiro dedicou 30 anos ao magistério,
lecionando em escolas públicas e privadas. Atualmente é o
consultor de língua portuguesa de todo o sistema Globo de
jornalismo: TV Globo, rádios CBN e Globo, jornais O Globo e
Extra, e o site G1.
É também instrutor de cursos de redação e de atualização
gramatical, autor dos livros: “O Português do dia a dia”, “Dicas
de Ortografia” e coleção “Língua Viva”, da Editora Rocco.
Escreve a coluna “Aula Extra” nos jornais Extra (Rio de Janeiro) e
O Sul (Porto Alegre), e “Dicas de Português” no portal G1 de
notícias na internet. Além de apresentar um boletim diário na
Rádio Bandeirantes de São Paulo.
1 – No Brasil, os profissionais da educação enfrentam
grandes dificuldades para conseguir realizar um bom trabalho
nas escolas, desde a falta de estrutura, baixos salários e o
desinteresse por parte dos alunos. Quais podem ser
considerados os maiores problemas encontrados pelos
professores que ensinam a língua portuguesa nos dias
de hoje?
Sérgio: São os mesmos de 40 anos atrás. Quando comecei a
dar aulas, os maiores problemas já eram os baixos salários, as
péssimas condições de trabalho e a falta de estímulo e de
aperfeiçoamento dos professores.
2 – Depois de 18 anos, após a cartilha ser abolida da
educação, e da criação de novos métodos de alfabetização,
os alunos ainda chegam à universidade cometendo
muitos erros de ortografia. O que precisa ser feito para
melhorar a escrita?
Sérgio: O ato de escrever começa com boas leituras que nos
fornecem conhecimento, criatividade e estilo. Para se escrever
bem é preciso ler muito e exercitar constantemente o ato da escrita.
3 – Você mudaria alguma coisa no dicionário da nossa
língua?
Sérgio: Os dicionários precisam apenas de uma atualização
mais frequente. As línguas vivas sofrem mudanças diariamente.
A tecnologia pode ajudar muito, principalmente nas publicações
eletrônicas.
4 – Segundo matéria da Revista EXAME, publicada em
setembro de 2012, um em cada 12 brasileiros são analfabetos
de fato, e a taxa de analfabetos funcionais chega a mais de
30 milhões de pessoas em nosso país. Por que o Brasil tem
tanta dificuldade em diminuir estes números?
Sérgio: A verdade é que a educação, apesar de algumas iniciativas
bem intencionadas, não é e nunca foi prioridade política. Saúde e
educação, infelizmente, são prioridades somente nas campanhas
políticas.
5 – O governo tem criado programas como o Pacto Nacional
pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic). Você considera
efetivas estas iniciativas para promover a erradicação do
analfabetismo no Brasil?
Sérgio: É um bom caminho, mas ainda é muito pouco.
Vivemos de esperança.
6 – O estrangeirismo pode ser considerado um problema
no nosso vocabulário?
Sérgio: O uso de estrangeirismos é normal em qualquer língua viva.
Trata-se de empréstimos linguísticos que enriquecem a nossa língua.
Existem palavras e expressões consagradas e inevitáveis: show,
software, marketing, bulling, réveillon, pizza, sushi…
O que se condena é o uso desnecessário, o modismo: startar,
printar, paper…
7 – Os jovens de hoje já nasceram em uma geração conectada.
Você acredita que o uso constante nas redes sociais do
chamado “internetês” atrapalha o avanço educacional
do aluno?
Sérgio: O avanço educacional não. O problema é que ortografia
se sabe por memória visual. Isso se adquire com leitura e escrita
constante. Palavras do nosso cotidiano não causam dúvidas ou
erros gráficos. O “internetês” certamente prejudica a memória
visual. O seu uso excessivo pode provocar “problemas gráficos”
irreversíveis.
8 – Termos da informática como “acessar” e “deletar”
já estão incorporados à língua?
Sérgio: Várias palavras da informática já estão registradas no
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, recentemente
publicado pela Academia Brasileira de Letras: acessar,
deletar, backup, modem…
9 – Como foi a experiência em participar do quadro
“Soletrando”, no Programa O Caldeirão do Huck da
Rede Globo? Que fatores você acredita que foram
determinantes para que as crianças vencedoras
conquistassem o grande prêmio?
Sérgio: Minha experiência no quadro Soletrando tem sido
altamente enriquecedora e gratificante. O que leva ao sucesso
dos candidatos: bom hábito de ler, dedicação e estudo,
grande determinação e, durante
a soletração, muita calma.
10 – O uso do jornal impresso na sala de aula, como auxiliar
no processo de educação, é algo que está cada vez mais
próximo da realidade das escolas em nosso País.
Você acredita na eficiência desse método?
Sérgio: Sim. Acredito muito. Precisamos, cada vez mais,
aproximar a sala de aula do dia a dia dos nossos alunos.
Fonte: Blog O Diário Na Escola
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