Por Ariane Cosme (*)
Devem as escolas ser espaços de felicidade para os alunos que as frequentam?
Os mais conservadores repudiam tal exigência porque defendem que as escolas, em nome da disciplina, não poderão deixar de confrontar os alunos com atividades que nem sempre lhes são simpáticas. Aqueles que abordam as escolas numa perspetiva focalizada nos interesses e no bem-estar dos alunos defendem, pelo contrário, que a felicidade é condição fundamental de um projeto de escolarização bem-sucedido.
Será esse um debate útil? A experiência que temos tido, sempre que o assunto é abordado, mostra que não.
O tema é interessante, mas o modo como é discutido nos desvia da questão crucial: a de saber qual é a missão das escolas nas sociedades contemporâneas. Uma questão para a qual há uma resposta mais ou menos consensual, em função da qual se entende que as escolas existem para que os alunos se apropriem de um conjunto de informações, instrumentos, procedimentos e atitudes entendido como necessário à afirmação e à vida de cada um nas sociedades contemporâneas.
Assim, as divergências que possam existir no modo de pensar a missão das escolas têm a ver, sobretudo, com o modo como se concebe a realização de um projeto.
É que, para alguns, os alunos são alunos porque são ignorantes que podem deixar de o ser graças à ação educativa das escolas. Para outros, alunos são seres portadores de saberes que as escolas terão que ser capazes de reconhecer para que aquela ação esteja em conformidade com os valores e as exigências do mundo em que vivemos.
Basta-nos recorrer ao nosso bom senso para compreendermos que nem os alunos são ignorantes, nem basta respeitar, apenas, os seus saberes para que eles possam compreender outras perspetivas ou encontrar outras respostas e outras maneiras de agir. Por isso é que a função das escolas é fazer com que cada um saia da sua zona de conforto e se aventure num mundo desconhecido, vivendo experiências pessoais, sociais e culturais que de outro modo não viveria.
O que é que esse projeto tem a ver com a felicidade? Não sei. Mais do que a felicidade dos seus alunos, a preocupação das escolas deverá ser a de tentar que eles estabeleçam uma relação significativa com todas as tarefas e os desafios intelectuais, relacionais e éticos que aí lhes são propostos.
Talvez passe a haver mais momentos de felicidade nessas escolas. O que vai acontecer dependerá do rigor com que as instituições assumam uma tarefa tão exigente.
(*) ARIANA COSME é professora da Universidade do Porto (Portugal), doutora em Ciências da Educação e especialista nas áreas da gestão e organização do trabalho pedagógico e da intervenção com crianças e jovens em risco de insucesso escolar
Fonte: Folha de S. Paulo 15/01/2013
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