Por Talita Moretto
A comunicação sempre foi uma habilidade necessária em todas as relações pessoais, independente de tempo, espaço ou maneira que acontece. Por anos, foi imperceptível; em outros tempos, camuflada; e ainda hoje há quem ignore seu potencial.
Quando os meios de comunicação de massa começam a ganhar formas mais atrativas, e força, transformando-se em robustos pontos de influência nas relações humanas (podemos colocar como momento de ebulição evidente o final do século 20), as esferas sociais começam a munir-se de binóculos para acompanhar de perto o que os meios, e as pessoas (os canais), têm a dizer. Porém, os espaços considerados educativos são os que necessitam estarem mais alertas para esse fenômeno que permite uma transformação na maneira de se expressar, opinar e agir.
A jornalista e especialista em educação para a mídia, Roxana Morduchowicz, em seu livro”La Escuela e Los Meios: Um binomio necessário” (1997), afirma que a dissociação entre escolas e meios ainda existe por causa da separação que há entre os saberes que a escola proporciona e os saberes proporcionados pelo rádio, jornal, televisão e Internet, por exemplo. Para Morduchowicz, enquanto a escola se concentra mais no passado e no patrimônio cultural, os meios se interessam pela atualidade.
O fato é que os meios de comunicação social de massa estão entrando por todas as frestas, evidenciando que a formação das pessoas não é mais uma tarefa exclusiva da família e da escola, tampouco de pais e professores. As informações advindas por diversos meios influenciam muito na maneira que pensamos, sentimos e nos comportamos.
O conhecimento não tem mais patrão e consegue se aventurar por diferentes caminhos. O jovem, em idade escolar, é o mais suscetível a abraçar novas ideias [e saberes] e levá-las consigo para dentro dos muros escolares, ou de lá para fora. Este jovem traz junto uma ânsia de contribuir no processo ensino-aprendizagem, de revelar o que viu, ouviu e aprendeu.
Os consumidores de informação são, hoje, igualmente, autores de conteúdo. Por isso, diversas vozes [algumas vezes com ruídos] aparecem nos diálogos. Mas por que preocupar-se tanto com os jovens estudantes? Eis o porquê:
O Anuário Brasileiro da Educação Básica 2012 ( disponível aqui), uma publicação realizada através de uma parceria entre a Editora Moderna e o Movimento Todos pela Educação, revelou que o Brasil tem uma população escolar expressiva de mais de 45 milhões de crianças e jovens entre 4 e 17 anos. A Avaliação Brasileira do Ciclo de Alfabetização (Prova ABC) – divulgada em 2011 – mostrou que 51 em cada 100 crianças da rede pública não aprenderam o adequado em relação à leitura para o 3º ano do Ensino Fundamental. E mais: o Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (Inaf), cujo o objetivo é medir as habilidades e práticas de leitura, escrita e matemática dos brasileiros entre 15 e 64 anos de idade, revelou que 31% dos adultos brasileiros com idade entre 35 e 49 anos são considerados analfabetos funcionais.
A preocupação é grande, pois são consideradas analfabetas funcionais as pessoas analfabetas e aquelas que, mesmo sabendo ler e escrever frases simples, não possuem as habilidades necessárias para satisfazer às demandas do seu dia a dia e se desenvolver pessoal e profissionalmente. Isso inclui, por exemplo, entender um bilhete ou uma notícia de jornal. Ou seja, decodificar as informações sobre sua própria realidade social.
Trazendo os dados para a discussão, é fácil observar que um estudante, ao sair do ambiente educador, só estará plenamente formado se conseguir encarar a sociedade que, atualmente, está bombardeada de informação codificada devido às inúmeras fontes de transmissão. Neste contexto, levar os veículos de comunicação de massa, os textos (escritos, visuais ou sonoros) para as salas de aula dá segurança ao professor para dialogar com o educando que está munido de novos dados, ao mesmo tempo, revela a autonomia deste jovem que precisa ser guiado na leitura e orientado para filtrar esses dados e estímulos da sociedade contemporânea.
A união de Educação e Comunicação, ou educomunicação, vem sendo discutida desde a década de 70 através do jornalista e professor uruguaio Mário Káplun. Em seu livro “La educación para los meios” (1987), ele mostra que a junção destes dois campos das ciências humanas ajuda no processo de formação do ser humano em todos os níveis. Ele também enxergava a comunicação como difusor da educação.
Neste sentido, produzir comunicação (aprender fazendo) continua sendo a melhor metodologia para que estudantes exerçam seu direito de expressão, se envolvam diretamente nas questões escolares de forma democrática e, sobretudo, envolvam a escola nas questões comunitárias que também fazem parte do processo educativo.
A comunicação consegue definir quem somos; ao nos reconhecermos, construímos nossa identidade. Afinal, foi a necessidade de comunicar que abriu espaço para que redes sociais surgissem em plataformas digitais, a necessidade do jovem falar sobre si, seu dia e seu mundo.
Moacir Gadotti, em seu livro “O jornal na escola e a formação de leitores” (2007), lembra que não podemos ignorar o quanto a criança aprende na frente da televisão, ouvindo o rádio ou navegando na internet, fora dos horários escolares. Para Gadotti, a escola não pode ficar alheia a esses aprendizados.
(*) Talita Moretto é coordenadora do Projeto Vamos Ler, desenvolvido pelo Jornal da Manhã/Ponta Grossa (PR)
Nenhum comentário:
Postar um comentário