Por Talita Moretto
Na semana passada começou um evento “nobre”, sendo alvo de todos os olhares da mídia nacional e mundial: o Rio +20, com palco no Brasil. Objetivo: discursar sobre o meio ambiente. Não estou presente no evento devido ao espaço geográfico e impossibilidades de ausentar-me das tarefas cotidianas para acompanhar de perto as movimentações, ações e palavras expiradas na multidão que lá está. Acompanho pelo mundo virtual a produção de textos de quem ouve e vê o que acontece dentro da maravilhosa estrutura montada para receber atores e espectadores, falantes e ouvintes, e pensantes. Mas o que me faz escrever sobre este acontecimento extraordinário é a visão do que está aqui, ao lado, aos meus olhos, aos meus ouvidos: a opinião da juventude que me cerca.
Como promotora de uso de mídia para educar, há quatro anos observo a preocupação de jovens pequeninos, jovens já mais velhos, jovens adultos e jovens um pouco idosos – pelo conceito social – com o seu meio ambiente. Depois da leitura, seja uma única vez, de uma notícia que revele os problemas ambientais, esses jovens manifestam-se por um longo tempo. Ao ter conhecimento que um lixo foi jogado em um determinado terreno baldio de um bairro distante de sua comunidade, eles passam a observar mais atentamente o que está ao seu lado. E, muitas vezes, o impacto de um texto de circulação social revela o que estava obscuro aos olhos minúsculos de todos. Um incêndio em um parque ambiental da região gerou um debate imenso sobre preservação e conservação não apenas da natureza, mas da herança histórica. Excesso de chuvas combinado com resíduos em bueiros resultou em poemas pedindo atitudes mais conscientes; um buraco aberto na esquina gerou indignação sobre os riscos a quem passa ali por perto. O acesso à informação está revelando à juventude a sociedade e todos os seus defeitos.
Recentemente, o uso de um terreno abandonado para depósito de lixo urbano, por aqueles que não sabem descartar ou não se importam onde seja feito desde que longe de seus olhos e de seu “lar”, já rendeu duas investigações por uma turma formada por crianças e adolescentes de um programa de assistência social, jovens que já enfrentam tantos problemas que é quase inacreditável que se preocupem em saber o estado daquele “pequeno” espaço de terra desacreditado pelas autoridades competentes. Escrevo tudo isso para revelar que os problemas ambientais, de tão pequenos e insignificantes que são, são tão gigantes que nós, os responsáveis, não os enxergamos aos nossos pés.
Eu me questiono ao ler na mídia palavras elogiando o Rio +20, palavras criticando, palavras e palavras, por que palavras? Eu mesma assisti somente na semana passada o vídeo da garotinha canadense de 12 anos (hoje uma mulher de 32), Severn Cullis-Suzuki, durante seu discurso na Eco 92 cobrando mudanças nas atitudes e maior cuidado com as causas ambientais. Conhecida como “a garota que calou o mundo por cinco minutos”, Severn, que hoje é educadora ambiental, foi convidada para discursar novamente no Rio +20.
Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo ela destaca o fato de que as economias são mensuradas a partir do índice do Produto Interno Bruto (PIB), o que pouco reflete na qualidade de vida. E destaca que a chave para mudar este cenário é a mobilização. “As pessoas podem trabalhar individualmente para reduzir seus impactos na natureza e ainda podem se tornar mais ativas política e socialmente, cobrando ações, sabendo exercer os direitos e compartilhando conhecimento e informação, para que possam ser ouvidas”, disse na entrevista. Eu trouxe este episódio porque gostei das palavras dela naquela época e apoio as palavras dela hoje, e acredito que o discurso poderia ser o mesmo. Ela não precisava mudar uma palavra do que disse há 20 anos.
Para vermos uma evolução quanto aos impactos ambientais precisamos é de uma mudança cultural. A mesma mudança de cultura que vai mostrar ao cidadão que é preciso respeitar a faixa de pedestre, respeitar filas, respeitar o próximo, que jogar um papel na rua faz sim a diferença porque se 7 bilhões de pessoas tiverem o mesmo pensamento que você, de que “o meu papelzinho não fará diferença”, e tiverem essa atitude todos ao mesmo tempo, estaríamos mergulhados em um verdadeiro lixão alimentado por nós.
Não vamos apenas nos reunir em um evento bonito e clamar ao microfone por mudança se ao chegar em casa não somos capazes de reciclar o “nosso” lixo porque não temos coragem de aceitar que quem produz o lixo somos nós. Não adianta falar em sustentabilidade quando nem sabemos conceituar a palavra, ou usar as mídias sociais para provar ao mundo que nos preocupamos com os animais em extinção, se tudo o que queremos é comer nossa comida industrializada, na nossa mesa de madeira maciça – a qual nos orgulhamos em mostrar aos convidados – e usar nossos casacos de pele.
O mundo capitalista nos criou para irmos contra o ambiental; nós não estamos preparados para mudar nossas atitudes com palavras; nós não conseguimos viver em um mundo regrado e restrito. Não digo que não devemos comer, nos aquecer ou morar seguramente, digo que não sabemos fazer isso sem esbanjar o que nos foi dado pela natureza, hoje manipulada. E eu me incluo nisso, como você.
Vemos edifícios sustentáveis, casas sustentáveis e enaltecidas pela televisão, mas eu pergunto: quem mora ali? Quem tem condições de construir uma estrutura sustentável? A sustentabilidade é cara! Um caderno feito com papel reciclável é mais caro que o caderno “comum” que compramos na livraria. Como então ser sustentável se o bolso não comporta o glamour ecológico?
Quem vive em áreas secas não sabe ao certo porque a água não chega até suas casas. E todos falam bonitamente em racionamento. Porém, quem na região Sul, farta em seus reservatórios, abriria mão de metade de sua água para abastecer os que poucas gotas têm? Quem tomaria banhos rápidos, e apenas um ao dia, para racionar?
A mídia tem capacidade de educar e a educação, por sua vez, tem o direito de utilizar a mídia para mostrar aos jovens os problemas que estão sendo escondidos deles. Por isso que a leitura de um texto de circulação social deve ser articulada, contextualizada e debatida no grande grupo, só assim a opinião surge e a crítica passa a fazer a diferença. E acredite: somos todos muito jovens diante dos problemas que a natureza ainda vai apresentar para a humanidade.
Fonte: Adital
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