Por Ricardo Pastorelli (*)
Muito se tem ouvido falar que a leitura e a escrita são habilidades que devem ser desenvolvidas por todas as disciplinas nos ambientes escolares. No entanto não é isso que vivenciamos, infelizmente.
Se o aluno tem algum problema relacionado à Língua Portuguesa, seja ele qual for, alguma dificuldade referente à compreensão textual ou simplesmente a grafia de algum vocábulo, tal problema logo é jogado nas costas do docente de Língua Materna, que não está sendo eficiente ou falhou em alguma etapa do processo de ensino desse aluno. Frequentemente os profissionais de outras áreas, inclusive de Exatas, reforçam a ideia de que os problemas de leitura (compreensão e interpretação) e escrita estão relacionados com o ensino proporcionado apenas pelo professor de Língua Portuguesa, e muitos insistem veemente nisso.
Vejamos uma atividade das disciplinas de Matemática, Física e/ou Química, por exemplo, que exige o estudo mais profundo de um gráfico ou um infográfico, em que os alunos precisam compreender ou interpretá-lo para poder escrever um texto sobre a análise feita ou o inverso, através da leitura de várias informações o docente solicita a elaboração de gráficos. Temos observado em Concursos, inclusive nos Vestibulares, a cobrança de questões como essa em que é preciso interpretar as informações fornecidas para a correta resolução do que está sendo solicitado.
Até mesmo na disciplina de Educação Física, o professor pode incentivar a leitura e escrita de textos que façam sentido à vida dos estudantes e seus familiares. Leituras de informações fornecidas pela mídia podem, por exemplo, fazer com que crianças, adolescentes e adultos reflitam sobre os problemas que a falta de exercícios pode causar, levando-os a evitar uma vida sedentária através da inserção dos esportes na vida destas pessoas; a compreensão de uma boa alimentação e os cuidados com o excesso de alimentos também podem ser trabalhados na disciplina de Educação Física através de leitura, reflexão e produção oral e escrita.
Isabel Solé, no livro Estratégias de Leitura, aponta que a leitura nas sociedades ocidentais é vista como recurso para instrução formal e institucionalizada pelas instituições escolares. Nesse contexto essa habilidade é defendida no ciclo inicial do ensino, quando deveria ser priorizada em todo o ciclo de aprendizagem. A autora defende a leitura como aprendizagem (...) “Existe um hiato considerável entre o que se ensina na escola sobre a leitura e as necessidades que devem ser satisfeitas mediante ela, inclusive na própria escola: ler para aprender.”
Acredito que a execução de projetos que priorizem a leitura de outros meios, além do livro didático e dos livros clássicos, como jornais, revistas, Histórias em Quadrinhos etc, por exemplo, possam contribuir com que alunos e professores compreendam a importância da interdisciplinaridade dos conteúdos a serem trabalhados e assim entendam a leitura e escrita como “ponte” para construção do conhecimento.
Vale ressaltar aqui alguns dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pro-livro (2009), cujo objetivo foi diagnosticar e medir o comportamento leitor da população. Muitos dos entrevistados dessa pesquisa informaram que não leem ou vão a bibliotecas porque ‘não estão estudando’. Isso pode estar relacionado à forma com que a leitura tem sido abordada, uma leitura voltada para a escola. “O uso da biblioteca pública parece também feito em função da escola: sua frequência cresce (34%) nas faixas etárias de 5 a 17 anos, e tem como objetivos principais pesquisar e estudar”. Os livros didáticos e universitários aparecem como os únicos lidos com mais frequência (70%), em questionamento que procurou verificar a prática da leitura de diferentes livros.
O ideal seria que todos os profissionais da educação desenvolvessem planos de ensino e projetos conjuntamente, a fim de priorizar a leitura e a escrita dos alunos e que esses entendam a importância dessas habilidades para todas as situações comunicativas dentro e fora da escola. Para isso faz-se necessário também que se trabalhe com os diferentes gêneros textuais que circulam socialmente. “Parece-me que o ensino da leitura não é uma questão de curso ou de um professor, mas questão da escola, de projeto curricular e de todas as matérias (existe alguma em que não seja necessário ler?)” (SOLÉ, 2008).
(*) Prof. Ricardo A. Pastoreli, coordenador de “O Diário na Escola”, graduado em Letras Português/Inglês pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), Especialista em Pedagogia Empresarial pela UNOPAR (Londrina) e pós-graduando em Língua Portuguesa pelo Instituto Paranaense de Ensino.
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