O educador e psicólogo Marcos Meier concedeu uma entrevista exclusiva à equipe do Ler e Pensar, projeto de incentivo à leitura da Gazeta do Povo, durante o Congresso Educar Educador, que ocorreu em São Paulo, entre os dias 16 e 19 de maio. Na conversa, Marcos Meier fala sobre leitura significativa, mídia e o papel do professor na construção do conhecimento. Com o lema “Não basta aprender só para fazer uma prova”, o educador cita o exemplo da panela de pressão para exemplificar a contextualização de conteúdo escolar. Confira trechos da entrevista abaixo!
Ler e Pensar: Em sua palestra você fala do papel da escola na mediação do significado e no aprofundamento dos conceitos. Em sua opinião, como o professor pode, na prática, contribuir para que os alunos construam esse conhecimento?
Marcos Meier: O professor precisa principalmente interligar esse conhecimento à maior quantidade possível de situações para o aluno. Um dos exemplos que dei, na palestra, foi o da panela de pressão: por que ela cozinha rapidamente os alimentos? Muita gente que fez o Ensino Médio não sabe responder que o aumento da pressão faz com que a água ferva a 120 graus. É por causa desse aumento de temperatura que vai aumentar a velocidade de cozimento. Uma situação rotineira, como o cozimento de alimentos, está ligada ao ensino da Física. Mas qual professor de Física faz essa ponte? Praticamente nenhum! Salvo, é claro, alguns professores mais dinâmicos, mais interessados. Como escola, temos de interligar o conhecimento ensinado pelo professor com situações do dia a dia; assim, o aluno entende como aquele conteúdo explica essa ou aquela situação da vida real. Então como aumentar o significado? Interligue com os conhecimentos que o aluno já tem em situações diárias. Essa é a melhor forma de aumentar o significado dos conteúdos.
Marcos Meier: O professor precisa principalmente interligar esse conhecimento à maior quantidade possível de situações para o aluno. Um dos exemplos que dei, na palestra, foi o da panela de pressão: por que ela cozinha rapidamente os alimentos? Muita gente que fez o Ensino Médio não sabe responder que o aumento da pressão faz com que a água ferva a 120 graus. É por causa desse aumento de temperatura que vai aumentar a velocidade de cozimento. Uma situação rotineira, como o cozimento de alimentos, está ligada ao ensino da Física. Mas qual professor de Física faz essa ponte? Praticamente nenhum! Salvo, é claro, alguns professores mais dinâmicos, mais interessados. Como escola, temos de interligar o conhecimento ensinado pelo professor com situações do dia a dia; assim, o aluno entende como aquele conteúdo explica essa ou aquela situação da vida real. Então como aumentar o significado? Interligue com os conhecimentos que o aluno já tem em situações diárias. Essa é a melhor forma de aumentar o significado dos conteúdos.
Ler e Pensar: Estávamos conversando há pouco sobre o Projeto Ler e Pensar, que é um projeto de incentivo à leitura que defende a importância da informação no processo de ensino-aprendizagem, na construção do conhecimento e na formação de crianças e jovens para o exercício da cidadania. Qual a sua opinião de projetos que visam aproximar a mídia dos conteúdos escolares?
MM: Com o desenvolvimento da tecnologia hoje, os alunos têm acesso muito fácil e rápido às informações. Antigamente, por exemplo, um estudante em Direito só ia ter contato com livros da área ou com as próprias leis lá na Universidade. Bom, o que acontece hoje? Qualquer um, mesmo as crianças, conseguem entrar no Google, por exemplo, e acessam as leis, tem contato com autores, com opiniões de juristas... Porque está tudo disponível. Então, o papel da escola não é apenas o de dar aos alunos as informações. Ela perde tempo se mantiver a mesma metodologia. Temos de mudar. A melhor metodologia hoje é utilizar toda a mídia disponível, toda a tecnologia também, para que o aluno não apenas acesse a informação, mas interligue as informações, saiba utilizá-las para tomadas de decisão, para resolução de problemas, criação de novos projetos, de textos, para compreender e agir melhor no mundo. Então o aluno que tem mais contato com a leitura começa a entender uma série de outros contextos que vão ajudá-lo a interligar as informações: é o conhecimento mais significativo. O papel da escola é utilizar a mídia a favor da aprendizagem. Não se pode ter medo dela. Tem escola que proíbe o professor de ter Facebook, pois o aluno “entra no perfil e critica a escola publicamente”. Nesses casos, o melhor é orientar antes o aluno para que ele saiba o que é crítica, injúria, difamação. E, assim, ele sabe que o espaço para se fazer isso é um espaço reservado. A escola que entende isso incentiva o uso das mídias, do Facebook, da internet, de celular, sempre com o objetivo de ampliar e facilitar a aprendizagem. As escolas que têm medo perdem uma grande oportunidade de utilizar algo que está à disposição dos alunos e algo com o que têm facilidade. Em Curitiba, tem uma escola particular que faz todo o ano uma noite de Oscar com os filmes que os alunos do 9º ano produziram. Filmes pequenos, mas que têm introdução, desenvolvimento, conclusão. Tem filmes extremamente críticos perante as contradições sócias. Isso é fantástico. Ela usa a mídia disponível para que aprendizagem seja fortalecida. Eu sou totalmente favorável e incentivo que os professores utilizem isso.
MM: Com o desenvolvimento da tecnologia hoje, os alunos têm acesso muito fácil e rápido às informações. Antigamente, por exemplo, um estudante em Direito só ia ter contato com livros da área ou com as próprias leis lá na Universidade. Bom, o que acontece hoje? Qualquer um, mesmo as crianças, conseguem entrar no Google, por exemplo, e acessam as leis, tem contato com autores, com opiniões de juristas... Porque está tudo disponível. Então, o papel da escola não é apenas o de dar aos alunos as informações. Ela perde tempo se mantiver a mesma metodologia. Temos de mudar. A melhor metodologia hoje é utilizar toda a mídia disponível, toda a tecnologia também, para que o aluno não apenas acesse a informação, mas interligue as informações, saiba utilizá-las para tomadas de decisão, para resolução de problemas, criação de novos projetos, de textos, para compreender e agir melhor no mundo. Então o aluno que tem mais contato com a leitura começa a entender uma série de outros contextos que vão ajudá-lo a interligar as informações: é o conhecimento mais significativo. O papel da escola é utilizar a mídia a favor da aprendizagem. Não se pode ter medo dela. Tem escola que proíbe o professor de ter Facebook, pois o aluno “entra no perfil e critica a escola publicamente”. Nesses casos, o melhor é orientar antes o aluno para que ele saiba o que é crítica, injúria, difamação. E, assim, ele sabe que o espaço para se fazer isso é um espaço reservado. A escola que entende isso incentiva o uso das mídias, do Facebook, da internet, de celular, sempre com o objetivo de ampliar e facilitar a aprendizagem. As escolas que têm medo perdem uma grande oportunidade de utilizar algo que está à disposição dos alunos e algo com o que têm facilidade. Em Curitiba, tem uma escola particular que faz todo o ano uma noite de Oscar com os filmes que os alunos do 9º ano produziram. Filmes pequenos, mas que têm introdução, desenvolvimento, conclusão. Tem filmes extremamente críticos perante as contradições sócias. Isso é fantástico. Ela usa a mídia disponível para que aprendizagem seja fortalecida. Eu sou totalmente favorável e incentivo que os professores utilizem isso.
Ler e Pensar: Qual sua opinião sobre a evasão escolar? O que mantém os alunos na escola?
MM: Quando a escola não tem nada a ver com o aluno, ele logo pensa “ah, estou perdendo o meu tempo aqui”. E vai fazer outras coisas que “não sejam perda de tempo”. É necessário um trabalho muito grande para que eles tenham outra percepção da escola. Quando a escola não diz respeito à vida do aluno, não respeita o próprio aluno, ele evade, vai a outro lugar. Uma ilustração para isso: um monge, durante mais de quarenta anos viveu num monastério, isolado da sociedade, aprendendo diversas disciplinas: Psicologia, Filosofia, Sociologia. E uma das disciplinas era a Dragologia: tudo sobre a vida dos dragões. Como vive, tipo de escama, quanto tempo leva o ovo para chocar. Ele sabia tudo sobre os dragões. Um belo dia, resolveu deixar de ser monge, e foi para a cidade tentar arranjar um emprego. E quando lhe perguntaram o que sabia fazer, ele respondeu que tinha conhecimento sobre Sociologia, Filosofia e Dragologia. “Mas o que é isso? Ah, a Dragologia é o estudo sobre dragões. Mas dragão não existe. Como não? Claro que existe, estudei a minha vida inteira sobre isso! Você já viu foto de algum? Não, só desenho.” Quando ele descobre que não existe, fica totalmente frustrado. E sem emprego, precisa sobreviver. E então ele decide abrir um cursinho, e põe uma faixa na frente: “Curso de Dragologia: matrículas abertas”. E está até hoje sobrevivendo dando aulas sobre aquilo que aprendeu. Essa crítica contra a escola, que ensina um monte de Dragologias, coisas que não existem, que não têm significado para o aluno, o aluno não vê utilização em absolutamente nada. Ele pergunta ao professor onde usar isso, e a resposta é “Está no currículo”. Todas as disciplinas têm um pouco de Dragologia. E quando o aluno percebe só as Dragologias, ele evade, cai fora. A hora em que a escola ensinar ao aluno a utilizar o seu potencial, a valorizar as múltiplas inteligências, ele vai perceber que é um lugar que vai ajudá-lo a ser melhor, então permanece. Estou fazendo uma campanha: nós precisamos atualizar o currículo de todas as disciplinas para aproximá-lo do aluno, e que o ensino seja um gerador em vez de um consumidor de informações.
MM: Quando a escola não tem nada a ver com o aluno, ele logo pensa “ah, estou perdendo o meu tempo aqui”. E vai fazer outras coisas que “não sejam perda de tempo”. É necessário um trabalho muito grande para que eles tenham outra percepção da escola. Quando a escola não diz respeito à vida do aluno, não respeita o próprio aluno, ele evade, vai a outro lugar. Uma ilustração para isso: um monge, durante mais de quarenta anos viveu num monastério, isolado da sociedade, aprendendo diversas disciplinas: Psicologia, Filosofia, Sociologia. E uma das disciplinas era a Dragologia: tudo sobre a vida dos dragões. Como vive, tipo de escama, quanto tempo leva o ovo para chocar. Ele sabia tudo sobre os dragões. Um belo dia, resolveu deixar de ser monge, e foi para a cidade tentar arranjar um emprego. E quando lhe perguntaram o que sabia fazer, ele respondeu que tinha conhecimento sobre Sociologia, Filosofia e Dragologia. “Mas o que é isso? Ah, a Dragologia é o estudo sobre dragões. Mas dragão não existe. Como não? Claro que existe, estudei a minha vida inteira sobre isso! Você já viu foto de algum? Não, só desenho.” Quando ele descobre que não existe, fica totalmente frustrado. E sem emprego, precisa sobreviver. E então ele decide abrir um cursinho, e põe uma faixa na frente: “Curso de Dragologia: matrículas abertas”. E está até hoje sobrevivendo dando aulas sobre aquilo que aprendeu. Essa crítica contra a escola, que ensina um monte de Dragologias, coisas que não existem, que não têm significado para o aluno, o aluno não vê utilização em absolutamente nada. Ele pergunta ao professor onde usar isso, e a resposta é “Está no currículo”. Todas as disciplinas têm um pouco de Dragologia. E quando o aluno percebe só as Dragologias, ele evade, cai fora. A hora em que a escola ensinar ao aluno a utilizar o seu potencial, a valorizar as múltiplas inteligências, ele vai perceber que é um lugar que vai ajudá-lo a ser melhor, então permanece. Estou fazendo uma campanha: nós precisamos atualizar o currículo de todas as disciplinas para aproximá-lo do aluno, e que o ensino seja um gerador em vez de um consumidor de informações.
Ler e Pensar: Quando observamos os índices preocupantes de alfabetismo funcional (Inaf), em que 28% dos brasileiros são analfabetos funcionais, ou então resultados de pesquisas como Retrato da Leitura (Instituto Pró-Livro), em que 75% dos brasileiros nunca foram a uma biblioteca e 33% nada fariam dentro de uma... Qual a esperança para o cenário brasileiro?
MM: Um amigo meu, que trabalha em escola, leu seu primeiro livro integralmente aos 45 anos de idade, Harry Potter. Depois que leu o primeiro, leu o segundo, o terceiro e não parou mais. E depois leu outros livros que jamais teria lido se não tivesse percebido a delícia que é ler. Então ele começou hoje com o que nossos alunos já começam de cara. Antigamente, éramos obrigados a ler os clássicos. Não tínhamos prazer na leitura e simplesmente desistíamos. A escola deve aprender a dar leituras prazerosas ao aluno, mas que também tenham significado.
Em geral, a escola ensina a Língua Portuguesa de um modo não funcional, e os textos não dizem respeito à vida dos alunos. Então estes passam a não entender os textos, pois se trata apenas de reprodução de sons. Certa vez, quando era psicopedagogo, atendi uma criança do 6º ano considerada analfabeta funcional. Pedi para ele ler um livro infantil sobre um dragão que raptou uma princesa e que só foi libertada quando o príncipe, em troca, lhe ofereceu uma dragoa. O aluno leu a história inteira, e quando perguntei por que o dragão libertou a princesa, ele não sabia responder. Ele fazia apenas a decodificação: lia as palavras escritas e transformava em som. Não entendia a mensagem, não dizia respeito a ele. Na próxima sessão, escrevi um bilhete à mão: “Carlos, tem um chocolate para você perto da janela. Pegue-o, é para você.” Ele leu várias vezes, e não pensou em pegar o chocolate, nem olhou para a janela. Perguntei para quem era o bilhete. “Para o Carlos”, respondeu. “Quem é esse Carlos?”. Apenas então percebeu que o bilhete era direcionado a ele, e riu. Era a primeira vez que entendia uma mensagem, pois era para ele.
De que forma a escola está trabalhando cartas, bilhetes, textos direcionados ao aluno? Muitas vezes traz textos maravilhosos, mas que não têm nada a ver com a turma. O analfabetismo funcional continuará existindo se a escola ensinar apenas decodificação. Temos de fazer o aluno escrever cartas ao prefeito, escrever solicitando o asfaltamento de uma rua... Quando ele observar que essa ação faz alguma diferença em sua vida, perceberá o valor da Língua Portuguesa. Porque torna a sua vida melhor. A disciplina deve mexer com a realidade do aluno: assim ele deixará de ser analfabeto funcional.
MM: Um amigo meu, que trabalha em escola, leu seu primeiro livro integralmente aos 45 anos de idade, Harry Potter. Depois que leu o primeiro, leu o segundo, o terceiro e não parou mais. E depois leu outros livros que jamais teria lido se não tivesse percebido a delícia que é ler. Então ele começou hoje com o que nossos alunos já começam de cara. Antigamente, éramos obrigados a ler os clássicos. Não tínhamos prazer na leitura e simplesmente desistíamos. A escola deve aprender a dar leituras prazerosas ao aluno, mas que também tenham significado.
Em geral, a escola ensina a Língua Portuguesa de um modo não funcional, e os textos não dizem respeito à vida dos alunos. Então estes passam a não entender os textos, pois se trata apenas de reprodução de sons. Certa vez, quando era psicopedagogo, atendi uma criança do 6º ano considerada analfabeta funcional. Pedi para ele ler um livro infantil sobre um dragão que raptou uma princesa e que só foi libertada quando o príncipe, em troca, lhe ofereceu uma dragoa. O aluno leu a história inteira, e quando perguntei por que o dragão libertou a princesa, ele não sabia responder. Ele fazia apenas a decodificação: lia as palavras escritas e transformava em som. Não entendia a mensagem, não dizia respeito a ele. Na próxima sessão, escrevi um bilhete à mão: “Carlos, tem um chocolate para você perto da janela. Pegue-o, é para você.” Ele leu várias vezes, e não pensou em pegar o chocolate, nem olhou para a janela. Perguntei para quem era o bilhete. “Para o Carlos”, respondeu. “Quem é esse Carlos?”. Apenas então percebeu que o bilhete era direcionado a ele, e riu. Era a primeira vez que entendia uma mensagem, pois era para ele.
De que forma a escola está trabalhando cartas, bilhetes, textos direcionados ao aluno? Muitas vezes traz textos maravilhosos, mas que não têm nada a ver com a turma. O analfabetismo funcional continuará existindo se a escola ensinar apenas decodificação. Temos de fazer o aluno escrever cartas ao prefeito, escrever solicitando o asfaltamento de uma rua... Quando ele observar que essa ação faz alguma diferença em sua vida, perceberá o valor da Língua Portuguesa. Porque torna a sua vida melhor. A disciplina deve mexer com a realidade do aluno: assim ele deixará de ser analfabeto funcional.
Divulgação
(*) Marcos Meier é professor de Matemática, psicólogo e mestre em Educação. Comentarista em rádio e TV a respeito de educação de filhos, relacionamento e desenvolvimento de inteligência. Autor de vários livros sobre a teoria da mediação de Feuerstein e da obra de ficção infanto-juvenil “O castelo das sete portas”, metáfora da adolescência.
Fonte: Blog Educação & Mídia - Instituto GRPCOM
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