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segunda-feira, 3 de junho de 2013

Sem vivência não se aprende cidadania


Infelizmente escola não cria modelos, mas repete conteúdos; raramente o aluno experimenta ou cria


Por Alexandre Le Voci Sayad (*)

Um estudante, durante uma dinâmica ocorrida há alguns dias, me perguntou de forma intrigante “por que a escola não nos ensina como lidar com questões do dia-a-dia?” Desconfio que não seja o cérebro o único órgão do corpo humano que esteja pronto para desafiar, confrontar e lidar com situações cotidianas.  Nossa leitura de mundo e a construção de nossa ética parece passar mais pela experiência do que pela consciência. Aprendemos o que é certo copiando modelos, experimentando, e não ouvindo discursos.
Na escola do nosso tempo, focada no cérebro, ética, responsabilidade e cidadania têm sido áreas encaradas tal qual as disciplinas escolares mais tradicionais são abordadas, tal qual a Matemática. O convite mais comum é “vamos aprender ética vendo as implicações legais de você cometer um delito?” Ou então, “vamos estudar a evolução dos Direitos Humanos na história do mundo?”
A evolução dos Direitos Humanos é sem dúvida um assunto interessante, mas não suficiente para que o estudante comece a construir uma escala de valores. Que tal abrir um espaço na escola para que os estudantes se expressem, com uma web-radio, e, assim, criar um modelo de garantia de Direitos Humanos? Infelizmente escola não cria modelos, mas repete conteúdos; raramente o aluno experimenta ou cria.
Fiquei deixou curioso com o que levou a estudante canadense Hannah Robertson, no encontro anual de investidores do Mc Donalds em Chicago (EUA), a questionar os diretores a rede de fast-food sobre por que eles vendem porcaria a crianças dando um brinquedinho de brinde. O espírito questionador me parece fruto de uma vivência e não de uma aula teórica. Afinal, a garota de nove anos é filha de Kia Robertson, uma blogueira e ativista na área de alimentação saudável.
Enxergo na produção de comunicação por estudantes dentro da escola, seja de jornais, revistas, fanzines , radio ou documentários, uma oportunidade de se vivenciar a cidadania, e não de se ouvir falar sobre ela. Esse é um dos pressupostos da Educomunicação, esse novo campo de estudo e, sobretudo, de prática.
Se tratarmos os temas do cotidiano como disciplinas isoladas, a grade escolar não suportará em breve tantas aulas reivindicadas por seus defensores. Música, Cidadania, Ética Digital, Artes e Comunicação brigam por espaço num dia de vinte e quatro horas.  Cidadania é algo transversal a tudo que se aprende na escola e na vida. Por isso, precisa funcionar por projetos, com experimentação e mão na massa de alunos e professores.
Aliás, para os docentes que se sentem “esvaziados” de funções num tempo de internet e IPads, a ética é algo ainda inerente e insubstituível ao papel do ser humano na educação.  É na troca de experiências diárias com os estudantes que ela é construída – baseada no que se faz, e não no que se diz.
Tentando responder ao questionamento do meu estudante no primeiro parágrafo, talvez a melhor resposta seja: “porque a escola quer que você escute e memorize, e não questione ou se permita errar. Ela educa você, e raramente ‘com’ você”.
(*) Jornalista e educador. Fundador do Media Education Lab e autor do livro Idade Mídia: A Comunicação Reinventada na Escola, publicada pela editora Aleph.
Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,sem-vivencia-nao-se-aprende-cidadania,1038397,0.htm

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