As comunidades de aprendizagem, um movimento crescente no mundo
que envolve escolas de toda a Espanha, já cruzou o oceano e chegou ao Brasil e
ao Chile, são o centro de uma pesquisa realizada numa parceria entre oNiase (Núcleo de Investigaçao e Ação Social
e Educativa), da UFSCar, e oInstituto Natura. Durante meses, pesquisadores fizeram uma
revisão teórica de termos importantes para entender o conceito, visitaram e
interagiram com duas experiências brasileiras bem sucedidas, o Instituto Chapada (BA) e a escola municipal Bom
Princípio (PI), na tentativa de localizar os pontos que se repetem e fazem
dessas comunidades uma comudade de aprendizagem e os que as afastam desse
modelo. A pesquisa, que acaba de ser concluída, ainda não tem data para
publicação, mas alguns detalhes já foram revelados.
De acordo com Roseli de
Mello, pesquisadora que vem desenvolvendo o conceito no Brasil desde 2003, dois
pontos costumam estar sempre presentes: “as comunidades de aprendizagem são
aquelas onde há diversificação de interações e atividades e intensificação dos
tempos de aprendizagem”. Trocando em miúdos, por “diversificação de interações
e atividades” entenda-se a participação de vários atores nos processos
educativos – pais e comunidade, além de professores e alunos – em situações de
troca que extrapolam as salas de aula, como em atividades e oficinas para as
famílias. Já por “intensificação dos tempos de aprendizagem” leia-se o aumento
das oportunidades de acesso ao conhecimento na comunidade.
Ao avaliar o Instituto
Chapada, que trabalha com a capacitação de alfabetizadores e acaba trazendo,
para as redes participantes, bons resultados de letramento nos anos iniciais do
aprendizado, e a Bom Princípio, uma escola em área rural no Piauí com índices
muito altos nas avaliações oficiais do governo, os pesquisadores encontraram
pontos que se repetiam e os locais, que diferiam em cada experiência. Um ponto
universal, diz Roseli, é a participação da comunidade nos processos de
aprendizagem e avaliação. A forma como ela é trabalhada, no entanto, é
diferente em cada uma. Por exemplo: existem escolas que não fecham no fim de
semana, já outras organizam atividades para os pais no contraturno.
Paralelamente ao trabalho realizado in loco, uma equipe do Niase
se dedicou a explorar o conceito de redes e comunidade, tomando emprestadas
formulações das ciências sociais, econômicas e da comunicação. Com o suporte
teórico, outra equipe foi a campo verificar se as duas experiências
apresentavam três características que devem estar presentes em comunidades de
aprendizagem: eficácia, coesão e equidade. Para tanto, colheram depoimentos de
pessoas-chave em cada um dos projetos, foram provocadas discussões orientadas
sobre determinados temas e a comunidade apontou atividades para serem
observadas que mais bem definiam as iniciativas.
Pela lógica adotada, as
escolas seriam consideradas eficazes se registrassem aprendizagem adequada dos
conteúdos e das habilidades; coesa se houvesse baixo índice de conflitividade
entre os atores envolvidos nos processos educativos e capacidade de estabelecer
projetos comuns; já a equidade tem estreita relação com o acesso ao
conhecimento independentemente da origem social.
Ao analisar o volume de dados levantados com a comunidade, os
pesquisadores consideraram as duas iniciativas como bem sucedidas nos três itens.
Em ambos os casos, a comunidade tinha uma visão muito positiva do trabalho do
qual faziam parte e tinham sugestões para melhorar os pontos que tinham como
críticos. Com esse material, a pesquisa traz como resultado pontos que o
Instituto Chapada e a Bom Princípio podem apresentar de recomendação para
outras escolas, como trabalho em rede e foco no aprendizado. “É preciso
produzir conhecimento sobre evidências a respeito de elementos transformadores
e obstáculos a serem superados, produzindo-se recomendações para mudanças de
realidade. O importante é localizar o que é transformador e universal”,
disseram os pesquisadores.
Passo a passo
Além da
pesquisa, que teve um caráter de investigação de projetos já em andamento, o
Niase também leva a proposta da comunidade de aprendizagem para outras escolas,
como o que ocorreu em escolas de São Carlos, e implantam a metodologia em oito fases:
sensibilização, tomada de decisão, sonhos, seleção de prioridades,
planejamento, investigação, formação e avaliação.
Dependendo das circunstâncias que cada unidade escolar vive, o
passo a passo de implantação pode ser adaptado, mas, no geral, os pesquisadores
vão até as instituições, pesquisam o contexto local e apresentam a metodologia.
Voltam cerca de um mês depois para saber se a comunidade concordou em
participar. Na sequência, vem a fase dos sonhos, em que todos os atores da
comunidade são ouvidos e devem dizer o que eles gostariam de mudar – aqui vale
desde espaço físico, currículo ou até merenda. Depois, a partir dos recursos
que se têm disponíveis, seleciona-se o que deverá ser feito primeiro a partir
de um plano de transformação. Na etapa da investigação, procura-se fomentar a
aceleração das aprendizagens com a ajuda, quando necessário, de voluntários.
Paralelamente a tudo isso ocorre a fase de formação, em que a comunidade é
capacitada a entender e trabalhar o conceito. Por fim, vem a etapa de
avaliação.
Fonte: Porvir (http://porvir.org/porfazer/pesquisa-ajuda-definir-comunidades-de-aprendizagem/20121218)
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